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As Ineses: Pablo José Meza apresenta obra sobre laços familiares

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Alguns dizem que família não se escolhe, outros dizem o exato oposto, que é possível escolher quem faz parte de uma família. Debates a parte, o fato é que, muitas vezes a família transcende os laços de sangue. E este é o mote principal da comédia dramática As Ineses, que mostra como dois núcleos familiares se tornaram um só. A trama, que se passa entre abril de 1985 e abril de 1995, começa com as vizinhas e amigas Carmen Garcia (Brenda Gandini) e Rosa Garcia (Valentina Bassi) entram em trabalho de parto simultaneamente em uma cidade pequena no interior da Argentina. No entanto, considerando a aparência das crianças, as duas famílias percebem que os bebês podem ter sido trocados.

Diante da impossibilidade de acabar com a dúvida, todos decidem levar em consideração os traços físicos das recém-nascidas para tomar uma decisão e concordam em dar o mesmo nome às duas – uma vez que elas possuem o mesmo sobrenome, o que facilitaria a situação caso fosse preciso destrocá-las futuramente. Assim, Carmen e Pedro (Luciano Cáceres) passam a criar a Inês loira, Rosa e Ramon (André Ramiro), a Inês morena, e ambas as meninas são acolhidas por Dominga (María Leal), mãe de Carmen, como netas. Enquanto as duas famílias tentam lidar com os conflitos gerados pela situação inusitada – como, por exemplo, se as meninas devem ser batizadas ou não, pois Pedro é averso a qualquer tipo de religião -, a avó é a primeira a conseguir respostas para as dúvidas de todos, em especial, com a chegada de Guillermo (Rafael Sieg), o novo padre da cidade.

Assim, o primeiro acerto da produção – escrita e dirigida por Pablo José Meza – é inserir o público imediatamente no universo proposto, indo direto ao ponto e apresentando o background das personagens ao longo do desenvolvimento. Isso faz com que o espectador invista sua atenção na trama logo nos primeiros dez minutos, sem deixar que os protagonistas sejam absolutamente unidimensionais. No entanto, apesar de desenvolver de forma competente a história principal, o filme peca ao negligenciar algumas subtramas que agregariam conteúdo ao enredo, como a condição de saúde de Rosa e a briga de Pedro com o antigo padre da cidade após uma grande perda que fez com que o homem passasse a rejeitar qualquer tipo de religiosidade – não haveria problema em desenvolver mais estes pontos, visto que a produção tem uma hora e sete minutos de duração.

Porém, esta falha é amenizada pelo segundo acerto do longa: seu elenco principal. Neste campo, o nome que, sem dúvidas, mais se destaca é o de María Leal, que domina cada uma de suas cenas. Dominga é uma mulher de certa religiosidade que tem grande admiração por santos católicos – motivo pelo qual Pedro a chama de “Dominga Mandinga” em uma implicância saudável entre genro e sogra -; a interpretação da atriz faz com que a personagem, um tanto quanto entrona e inconveniente, nunca se torne chata e confira um toque cômico mesmo nas situações mais tensas apenas com suas expressões faciais – que jamais se tornam caretas. Brenda Gandini e Luciano Cáceres também cumprem bem seus papéis – ela como uma mulher que só quer o melhor para as duas meninas e ele como um homem um pouco machista que tem de lidar com uma situação de fragilidade emocional.

Já Valentina Bassi, mesmo com menos tempo de tela e menor desenvolvimento da personagem, consegue expressar toda a frustração de Rosa diante das circunstâncias apenas com o olhar. André Ramiro luta um pouco para tornar o seu castelhano mais natural, mas isso não chega a ser um problema, pois sua personagem é um caminhoneiro brasileiro, então o ator consegue convencer como um homem que vive na Argentina há algum tempo. Acerca da atuação de Rafael Sieg, não há muito o que pontuar, uma vez que, apesar de ter importância na história, o ator tem pouco tempo de tela. Ainda sobre o elenco, Julieta Iara López, que interpreta Pipina, a filha mais velha de Carmen e Pedro, não precisava existir na trama; e Carolina Lo Bianco, que dá vida à Laura, a fila do meio do casal, tem como única finalidade repetir uma ação ao longo do filme que tem a ver com o plot twist da última cena.

Assim, “As Ineses” é divertido e family friendly – apesar de sua conclusão irônica sobre o conceito familiar – que fala sobre os laços que unem pessoas distintas em uma família – e o design de produção e a cinematografia colorida e acolhedora ajudam a realçar esse sentimento de união, além de lembrar constantemente que as “protagonistas morais” da trama são as meninas homônimas que dão título à produção. É verdade que o roteiro falha ao apresentar subtramas que não são devidamente desenvolvidas, ainda que o filme conseguisse muito bem comportar uns 15 minutos a mais sem se tornar maçante, mas isso não tira o seu valor de entretenimento – resumido muito bem na última cena. É aquele tipo de longa que poderia ter sido melhor, mas, mesmo assim, vale a pena ser assistido.

 

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