- Publicidade -

ALASKA: Um road movie melancólico no cerrado brasileiro

Publicado em:

Fernando e Ana já foram um casal, até que ela decidiu ir embora seguir com os próprios planos. Muitos anos depois, após saber do falecimento do pai do ex-namorado, a mulher entra em contato novamente com ele, que precisa tomar algumas decisões acerca do que fazer com a fazenda que herdou no interior de Goiás, na Chapada dos Veadeiros. Ao saber disso, Ana se oferece para acompanhá-lo nesta viagem, a qual tem um tom de reaproximação dos ex-amantes – e toda esta combinação é feita por ligações telefônicas em off enquanto a ambientação do cerrado do Centro-Oeste brasileiro toma corpo e invade a tela.

Assim, ao longo de 1 hora e dez minutos, o espectador acompanha o ex-casal, que, enquanto ensaiam um possível recomeço, passam pelas dificuldades habituais de um road movie – o pneu furado, o estepe vazio, instruções de trajeto que não batem, a ausência de sinal de internet ou celular, a onipresença de pernilongos. Ao mesmo tempo, conforme avançam no trajeto e encontram habitantes locais – como os funcionários da fazenda -, Fernando e Ana se aproximam mais da figura do falecido pai – que, por vezes, torna-se quase uma personagem corpórea no filme – e adentram a vida rural da região, que não é eufemizada pela câmera que faz questão de mostrar as estradas de terra precárias, a população pobre e as casas de pau a pique.

Aliás, este é um dos principais trunfos da produção, que consegue absorver a cor local, transformando-a tanto em uma personagem quanto em uma metáfora para o relacionamento dos protagonistas. Por falar nisso, os vários tios de silêncio que permeiam o filme são preenchidos por boas metáforas para a relação de Fernando e Ana – como, por exemplo, o maior distanciamento simbólico e o atrito que cresce a cada estrada errada. Isso é mérito da direção de Novaes, que também acerta ao conferir, com sua movimentação de câmera, diálogos corriqueiros – como sobre o porquê de escolher viver naquela região – e um bom desempenho dos não-atores, um tom quase documental ao longa, o qual, em alguns momentos, assemelha-se àqueles programas televisivos de viagens a “locais exóticos”.

Por outro lado, o filme apresenta falhas em alguns aspectos técnicos, como o controle da iluminação – detalhe evidenciado pela montagem. No entanto, o principal erro da produção encontra-se no roteiro – escrito por Novaes e Jarleo Barbosa -, que subdesenvolve sua protagonista feminina. Se, de um lado, há Fernando com um background bem estruturado e um drama pessoal a ser resolvido, do outro lado, há Ana, cujo passado é pouquíssimo explorado, que não parece ter um objetivo na trama e nunca expressa suas opiniões, mesmo quando se mostra incomodada em alguma situação, ou seja, ela, em teoria, largou tudo – que o espectador não sabe o que é – para fazer esta viagem com Fernando, dorme com ele, segue os planos dele e só – o que é uma pena, porque, mesmo com um material tão limitado, Bela Carrijo se mostrou uma atriz competente.

Desta forma, “Alaska” é um bom filme de estreia para Pedro Novaes, que parece ser um diretor que sabe o que quer dizer e tem noção de como fazê-lo, só é preciso polir um pouco mais sua técnica – talvez com um orçamento maior ajude neste aspecto – e trabalhar um pouco mais o roteiro no que diz respeito à construção das personagens de seus próximos trabalhos. Fora isso, os dois atores protagonistas se saem muito bem com o material que lhes foi dado – Sieg, apesar da melancolia e frustração de Fernando, parece estar muito mais confortável e natural em cena do que em seus últimos trabalhos; e Carrijo consegue dar alguma densidade à Ana mesmo que esta seja quase um acessório de seu parceiro de cena. É uma experiência válida – tanto para o público quanto para o diretor.

 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
3.870 Seguidores
Seguir
- Publicidade -