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Raiva apresenta estética que remete a grandes movimentos do cinema

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2018, definitivamente, foi um ano em que a estética de correntes cinematográficas clássicas voltou a ser exibida em produções atuais, as quais, em meio a tantas tentativas de inovação, acabam por se destacar. Este é o caso de Raiva, que chega aos cinemas brasileiros esta semana. A co-produção Portugal, Brasil e França – adaptada do romance lusitano “Seara de Vento”, de Manuel da Fonseca, publicado em 1958 – se passa no primeiro ano da segunda metade do século XX, no Alentejo, onde uma família de camponeses representa a miserabilidade, a fome e o sofrimento que assolam a região. Uma figura de destaque do grupo é Palma (Hugo Bentes), que, com um chapéu e uma espingarda, assume o papel de justiceiro social, fato que desagrada as autoridades locais. A pressão deste cenário culmina em uma explosão de violência, a qual resulta em dois assassinatos a sangue frio cometidos em uma única noite. E a questão apresentada é: o que, de fato, levou a esses crimes?

Dirigido por Sérgio Tréfaut, a primeira virtude do longa é, desde o início, deixar claras suas intenções – “Raiva” não se trata de um whodunit. Assim, o roteiro inverte a estrutura clássica de uma narrativa, apresentando seu clímax e desfecho logo na primeira sequência, para, depois, levar o espectador para o cotidiano daquelas pessoas a fim de estudar as personagens e aquela realidade para entender o que levou àquele fim. Por outro lado, apesar da liberdade estrutural, a produção bebe da fonte de diversos gêneros e escolas para compor sua trama e seu visual. Talvez, a inspiração mais forte e evidente seja o Neorrealismo Italiano – tanto em temática quanto em estética, apesar de sua cinematografia em preto-e-branco lembre muito a de O Sétimo Selo, de Bergman -, mas também há referências ao faroeste e até mesmo certa aspiração teatral – principalmente no que diz respeito à composição dos cenários e caracterização das personagens.

E ainda há outros aspectos técnicos que chamam a atenção no longa, como, por exemplo, os plano longos e, muitas vezes, estáticos, bem como a simetria sempre presente e o silêncio que cerca os diálogos durante grande parte da trama. Unindo todos estes fatores em cena, é possível que o diretor foque o olhar de sua câmera seca nas expressões que estampam os rostos das personagens – em especial, as femininas, as quais têm como principal expoente a estrela portuguesa Leonor Silveira. Contudo, apesar de todos estes elementos sejam refinados, poéticos e ajudem a compor a história, eles também podem contribuir para que Raiva seja alvo das mesmas reclamações – por parte do público – que atingiram o premiado longa mexicano Roma – vencedor de três das 10 indicações ao Oscar 2019, incluindo Melhor Direção e Melhor Filme Estrangeiro -, acusado de ser muito lento. São críticas que, assumindo a visão de um público geral, são até compreensíveis, mas que ignoram o valor artístico da produção.

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