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“Tebas Land” traz uma temática edipiana, com tons policiais

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Um espetáculo contemporâneo por sua simplicidade. “Tebas Land” traz uma temática edipiana, com tons policiais. Sem spoilers, mas já dando, a cena oferece dois personagens, em confronto, um criminoso e o seu biógrafo, com ares de psicólogo. Reconstituindo uma quadra de basquete no cárcere, ambas as personagens traçam considerações e aproximações que perpassam o existencialismo e chegam a um encontro, em que um profissional tenta ajudar, ou entender um homicida qualificado.

“Tebas Land” teve inspiração em Édipo e em São Martinho de Tours, trazendo a história de um criminoso que recebe regularmente a visita de um homem interessado em transformar sua história em peça teatral. Dramas familiares e questões realmente sérias são colocadas à mostra, expostas para um público que assiste verdadeiro dramas com finais realisticamente tristes, com fotos perturbadoras e narrativas trágicas. Mas, a ficção e a arte cênica, como sua principal virtude e distinção com relação a outras artes e outras atividades, consegue conferir esperança e humanizar uma figura de um filho, um agressor, que tirou a vida de seu genitor, mas possivelmente estava agindo em legitima defesa, ou para defender outrem, ou, por motivos não descortináveis.

Parece de fato uma sad history, não há delimitações rígidas dos personagens, no sentido de que as atuações estão mais voltadas para adaptar ao público um relato sem espalhafato no espaço cênico, na indumentária ou no cenário, mas a carga emotiva decrescimal é forte. O autor Sérgio Blanco, conseguiu captar uma pessoa em seu pior momento, mas podemos dizer, conseguiu explicar, ou justificar, o que aconteceu na trajetória daquele indivíduo cujo retrato é defendido pelo ator Robson Torinni.

A direção de Vitor Garcia Peralta é bastante acertada no sentido de transportar ao palco, acostumado a narrativas fantásticas e algumas vezes mágicas, uma realidade dura e nada digesta. Mas, mesmo as pessoas acostumadas com a beleza que o drama, a ficção e as artes proporcionam, tanto para quem faz quanto para quem assiste, devem algumas vezes serem expostas a esse choque trágico, às pequenas e grandes rusgas que o mundo dos adultos guarda e das quais tentamos poupar os inocentes, os mais jovens.

Se pudesse haver uma classificação genérica, talvez colocaria o espetáculo em uma prateleira de contos policiais encenados, e, seu estilo, compatível com uma visão árida quase rodriguiana, mas que oferece, sim, a possibilidade de recomeço, ou, de redenção, ao menos.

É possível que uma visão de um dramaturgo acostumado a escrever motivacionalmente ou almejando sempre o final feliz, seja frustrada ao deparar-se com a premissa da peça. Mas, certamente, é um argumento válido, em mundo em que a violência não se esconde.

De toda sorte, a estrutura dialógica em que um detento conversa repetidas vezes com um profissional que assume postura de psicólogo, ou atitude compreensiva, ora em um embate, ora em uma tentativa de afago, é bem sucedida e é uma tendência forte no teatro pós-dramático (como na peça “Em Consulta”) e onde certa economia de recursos cênicos em prol da força própria dos atores é adotada.

A questão da alteridade, do cuidado com quem parece diferente, ou está em um estágio de diferenciação do que supomos ser o bem-estar ou sanidade plena de uma pessoa, O ator Otto Jr. confere sua credibilidade como intérprete a profissional interessado em descrever e dar tintas mais vívidas àquela trama que não se poderia deixar ficar no cinza.

Em dado momento ouve-se um pedido de socorro. Esse é o ponto mais marcante, certamente, e que nos faz acreditar que ainda estamos aqui um pelos outros.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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