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Ayka, de Sergey Dvortsevoy, retrata o sofrimento do pós parto

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Uma das vertentes mais polêmicas da dramaturgia é o famoso “Método”, o qual implica que o ator canalize totalmente a personagem, inclusive fora de cena, como uma forma de atingir um nível máximo de verdade em tela, e, muitas vezes, isso envolve até mesmo sofrimento físico do intérprete. Muito associado ao campo da atuação, o Método, pode-se dizer, também é utilizado por alguns diretores, e, assim como no primeiro exemplo, é alvo de debates.

Este é o caso de Ayka, novo longa-metragem do diretor Sergey Dvortsevoy, que participou do Festival de Cannes 2018 e gerou alguns questionamentos, principalmente no que diz respeito à abordagem dada ao tema. O filme acompanha a personagem-título – interpretada por Samal Yeslyamova -, uma jovem cazaque, em sua via crucis: ela acabou de dar à luz e abandonou o bebê em um hospital de Moscou por não ter condições de sustentá-lo.

Além disso, ela também sofre com o medo da deportação e com a ameaça de agiotas. E ainda existe o sofrimento físico: as hemorragias, as dores da fome e do frio, os seios doloridos. E tudo isso é exposto constantemente pela câmera trêmula do cineasta em longos planos-sequência que captam não apenas o calvário da protagonista, mas também de tudo que a cerca – das pessoas, dos animais de rua, da cidade em si.

Com isso, a intenção de Dvortsevoy fica clara, o realizador – também responsável pelo roteiro – quer mostrar a realidade nua e crua, sem medo de chocar ou incomodar. No entanto, ao mostrar cada detalhe de maneira brutal, ele consegue atingir esse objetivo apenas em parte, pois a abordagem o que tem gerado debates desde a estreia do longa no festival francês. O diretor parece tão obcecado em retratar “a verdade” que a produção assume um tom quase vil.

A respeito disso, Dvortsevoy se justificou durante uma coletiva de imprensa em Cannes afirmando que várias pessoas passam por estas situações todos os dias. Porém, o que o diretor parece não entender é que ao simplesmente seguir Ayka em seu martírio, sem apresentar/desenvolver traços de personalidade ou um arco propriamente dito, o olhar lançado sobre a personagem é tão indiferente na ficção quanto na vida real.

Assim – especialmente após a declaração do cineasta -, percebe-se que as intenções do longa-metragem são válidas – e até mesmo nobres -, no entanto, o viés provocativo – e eficiente neste aspecto – adotado ao abordar o tema parece ser mais uma expressão de sadismo, tanto com a protagonista quanto com o público, o qual passa os 100 minutos da produção testemunhando o agoniante e extremo sofrimento de Ayka, o que acaba por causar mais desesperança e repulsa do que compaixão e proatividade. Por outro lado, pelo menos, Samal Yeslyamova ganhou a Palma de Ouro de Melhor Atriz.

 

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