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Compositoras de diferentes gerações debatem feminismo e empoderamento na MPB

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Nada de divas ou musas. Elas são as senhoras de suas próprias canções e interpretam o universo feminino de modo bastante peculiar. Essa visão autoral marcou o encontro de 10 mulheres fundamentais na música brasileira, durante evento promovido pela União Brasileira de Compositores (UBC), recentemente, na sede da entidade no Centro do Rio. Elas discutiram os desafios de se consolidarem como compositoras de sucesso, em um cenário predominantemente masculino. O debate revelou um mosaico de vivências, causas e luta das artistas. Mas, independente do meio, o fim é o mesmo: a valorização da mulher.

O encontro faz parte do estudo ‘Por Elas que Fazem Música’ que, lançado nesta quarta-feira (24/4), faz verdadeiro mapeamento do papel e, fundamentalmente, representatividade feminina na classe de autores brasileiros. Ele revela que, entre os 30 mil associados da UBC, apenas 14% deste ecossistema da música brasileira é composto por mulheres. O estudo apresentou dados que comprovam a atual desigualdade de distribuição entre homens e mulheres no cenário autoral do país. Os valores médios arrecadados por compositoras são 28% menores que os dos homens. E, do total arrecadado em direitos autorais pela UBC, 91% vão para os homens. A maior faixa etária (55%) é entre 20 e 39 anos, ou seja compositoras muito jovens. Dos 100 associados que mais arrecadaram pela entidade em 2018, apenas nove eram mulheres. E entre as compositoras associadas da entidade, 65% moram no Sudeste.

Durante a primeira formação da roda de conversa, reuniram-se Fernanda Takai, Clarice Falcão, Isabela Taviani e Luedji Luna. Takai iniciou seu depoimento falando da mistura de intimidade e coletividade que uma composição pode revelar. “Escrever canções que vêm de uma experiência íntima, uma alegria ou aflição, é transformador. Você vê no outros dilemas que acha serem exclusivamente seus”, disse a letrista e vocalista do Pato Fú.

A exposição cada vez mais incessante dos artistas foi tema da primeira intervenção de Clarice Falcão. A atriz, cantora e compositora revelou como o excesso nas redes sociais pode impactar na percepção sobre sua obra. “Eu me considero muito mais letrista do que cantora. Acho totalmente imprevisível como o outro vai receber minha música. Eu vivi uma terapia de choque. Como apareci na internet, já surgi tomando enxurradas de críticas e elogios diretos, nos comentários dos vídeos, sem filtros de agentes e empresários. Isso gera um impacto muito poderoso. Por outro lado, essa troca amadureceu minha arte. Eu sei que tem alguém ali ouvindo, gostando ou não, se emocionando junto comigo”, revelou a cantora.

A pauta do autoconhecimento durante a juventude da mulher também foi assunto entre as compositoras. Isabela Taviani revelou que compor não surgiu como vocação, mas como necessidade. “Comecei a compor por uma necessidade de autoconhecimento. Eu não sabia quem eu era cantando músicas dos outros. Quando comecei a escrever música como um diário, como eu queria me mostrar para o outro, percebi minha real identidade”.

Em seguida, Zélia Duncan se uniu às companheiras de profissão e, ainda sobre o tema da transição da juventude para a vida adulta, acrescentou: “Nunca pensei que viraria compositora. Meu sonho era cantar, desde menina. Mas percebi que compor era a coisa mais íntima que se pode fazer. Ao mesmo tempo, é absolutamente pessoal para quem você sequer conhece. Você externa um sentimento seu, que quando menos imagina, sublinha os sentimentos dos outros”.

Feminismo e representatividade no centro do debate

Em seguida foi a vez de Tulipa Ruiz e Luedji Luna chamarem os microfones para si. As artistas fazem parte de gerações diferentes da música brasileira. A paulista Tulipa ganhou as rádios do Brasil com “Efêmera”. Hoje, aos 40 anos, tornou-se referência para jovens compositoras. Baiana de Salvador, Luedji desabrochou sua africanidade pop para o país com o álbum “Um Corpo no Mundo” (2018). Em comum, as compositoras negras têm uma bandeira: a defesa do lugar de fala da mulher na música, especialmente nas letras e palcos.

“A mulher sempre ocupou o papel da diva, da bela intérprete, na música brasileira. Mas sempre representando uma narrativa masculina. Por isso faço questão de ser autora das letras de todas as minhas músicas feitas em parcerias com homens. A palavra agora é minha”, afirmou Luedji, sem rodeios. Tulipa, por sua vez, chamou a atenção para a falta de representatividade feminina em outra faceta da indústria. “A pauta feminista não está apenas nas nossas manifestações. Está no nosso dia a dia de trabalho. Eu não consigo mais aceitar chegar pra tocar em um festival de música e ser a única mulher do lineup”, sentenciou a artista.

O encontro inédito foi registrado pelas lentes da fotógrafa Cristina Granato. O material fará parte do rico acervo da entidade, que conta com obras de outras mulheres símbolo da música brasileira, como Beth Carvalho e Rita Lee.

Neste mês de março, a UBC realizou o estudo inédito “Por Elas Que Fazem a Música”, verdadeiro mapeamento do papel e, fundamentalmente, representatividade feminina na classe de autores brasileiros. O estudo apresentou dados que comprovam a atual desigualdade de distribuição entre homens e mulheres no cenário autoral do país. Os valores médios arrecadados por compositoras são 28% menores que os dos homens. E, do total arrecadado em direitos autorais pela UBC, 91% vão para os homens.

Entidade líder em arrecadação e distribuição de direitos autorais no país, a UBC atingiu recentemente a marca de 30 mil associados. No entanto, apenas 14% deste ecossistema da música brasileira é composto por mulheres. O estudo foi coordenado por Elisa Eisenlohr, gerente de comunicação e marketing da UBC.

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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