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Cópias – De Volta à Vida: Uma ficção cientifica genérica com o pé na comédia

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Por mais que, muitas vezes, seja encarada apenas como uma diversão escapista, a ficção Científica, em sua origem, busca tratar de maneira alegórica dilemas, questionamentos, medos e anseios humanos de cada época – e, apesar da passagem do tempo, o cerne continua o mesmo. É justamente por causa desses matizes filosóficos que livros e filmes deste gênero se tornaram clássicos, como Blade Runner, Neuromancer – uma das inspirações para Matrix – e Realidades Adaptadas, que serviu de fonte para produções como Minority Report e Vingador do Futuro. No entanto, é importante ressaltar que o grande trunfo do sci-fi é que, por mais criativa que a trama seja, ela nunca deve ignorar a realidade – ela pode se basear em suposições e teorias, por ora, impossíveis de serem comprovadas ou refutadas, mas tudo precisa de uma explicação lógica.

Com estes preceitos estabelecidos e respeitados, os escritores e roteiristas têm liberdade para criar o enredo mais imaginativo possível, dando origem a diversos estilos e subgêneros – há a ficção científica mais realista, a super futurista, a anacrônica, a distópica, podendo flertar com a ação, o drama, o suspense, o terror, o romance e a comédia, ou seja, o sci-fi, além de ser um campo amplo, é extremamente flexível, o que, em teoria, pode facilitar a criação e o desenvolvimento de uma história. Ou não. Pelo menos, é isso que mostra o longa “Cópias”, um filme apresenta uma premissa interessante e com muito potencial, parece não saber o que fazer com o material, perdendo-se em meio a todas as possibilidades logo no início da narrativa, o que resulta em uma trama rasa, furada e inconsistente em diversos sentidos.

A trama é focada no neurocientista William Foster (Keanu Reeves), cujo ambicioso projeto se resume a transferir a consciência de uma pessoa recém-falecida para um corpo sintético – um robô. Todas as tentativas até então falharam, resultando em autodestruição logo após o procedimento, o que é gera grande pressão na equipe de Will, uma vez que os Laboratórios Bionyne não parecem dispostos a bancar os experimentos por muito mais tempo. Um dia, após mais uma tentativa desastrosa, e a caminho de uma fim de semana em família, o cientista sofre um acidente de carro que resulta na morte de sua esposa, Mona (Alice Eve), e seus filhos, Matt, Sophie e Zoe. Por algum motivo, Will não sofre um arranhão – e este é apenas o primeiro de muitos furos e conveniências que o roteiro de Chad St. John apresenta ao longo da trama.

A partir deste acontecimento, William decide criar clones de sua família e transferir a consciência deles para os seres criados em laboratório. Para isso, ele conta com a ajuda do amigo Ed (Thomas Middledith) – disparado, o melhor personagem da história, pois, apesar do material limitado do roteiro, o ator consegue, pelo menos, incorporar carisma à personagem. Então, um pouco a contragosto, Ed concorda com o plano de Will. Assim, os dois roubam equipamentos milionários da laboratório sem que ninguém descubra, criam clones na garagem da casa dos Foster, furtam as baterias dos carros da vizinhança para garantir que não falta energia aos casulos – um conflito que é resolvido em uma curta cena – e transferem as consciências para os novos corpos – enfrentando uma problemas quantitativo que se estende até o fim do filme.

E todas estas facilidades do roteiro estão presentes apenas na primeira metade do longa, que se leva muito a sério do começo ao fim, mas em nenhum momento se aprofunda em sua trama, ou faz questionamentos reais sobre ética, moral ou religião e até mesmo perguntas de fundo emocional, psicológico ou humano a respeito da clonagem. Mas, afinal, se a intenção não é refletir acerca desses temas, então por que se levar tão a sério? E, além disso, o filme lança mão de constantes momentos cômicos ao longa da narrativa, o que deixa o tom da produção ainda mais inconsistente, uma vez que, aparentemente, o objetivo era trabalhar na intersecção entre drama/suspense/ação e os frequentes alívios cômicos levam o enredo em outra direção – fato que fica ainda mais evidente quando é levado em consideração o desempenho do elenco.

Por exemplo, não é novidade para ninguém que Keanu Reeves, apesar de muito querido como pessoa pelo público, é um ator de habilidades dramáticas limitadas e a indecisão do roteiro sobre quais gêneros dividirão espaço com a ficção científica aumenta a sensação de deslocamento, pois, quase a todo momento, o intérprete assume um tom cômico que é até eficiente/operante, mas não combina com a proposta da produção. O mesmo acontece com Alice Eve, embora de maneira mais contida. Com isso, Ed – aquele já conhecido amigo para todas as horas, seja para tomar conta dos peixes do aquário enquanto a família passa o fim de semana fora, seja para ajudar a clonar parentes mortos na garagem da casa -, o verdadeiro alívio cômico do enredo, acaba por se destacar, angariando mais simpatia do público do que os próprios protagonistas.

Assim, levando em consideração todos estes pontos – em especial os momentos de comicidade deslocada ou involuntária -, o espectador fica com a sensação de que teria sido muito mais proveitoso e ajudaria a relevar os furos e conveniências do enredo se o roteirista, juntamente com o diretor Jeffrey Nachmanoff, tivesse decidido esquecer a tríade drama/suspense/ação e seguisse pelo caminho da comédia de estranhezas – o que o remake de “The Stepford Wives”, lançado em 2004, tentou fazer tanto com o original dos anos 70 quanto com o livro-fonte de Ira Levin -, porque o filme já faz isso involuntariamente. Porém, em vez disso, “Cópias” opta pela trilha “fácil”, o que resulta em uma trama rasa que usa de conveniências para chegar a um “final feliz”, clichê, previsível e até mesmo eticamente duvidoso. É nisso que dá menosprezar a comédia.

 

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