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László Nemes demonstra familiaridade com a técnica em Entardecer

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Na década de 1910, em pleno declínio do Império Austro-Húngaro, a jovem Irisz Leiter (Juli Jakab) retorna para Budapeste, sua cidade-natal, após passar anos em um orfanato, para trabalhar na famosa loja de chapéus que pertenceu à sua família. No entanto, ao chegar, ela descobre que o estabelecimento tem um novo dono, que o nome dos Leiter está manchado na sociedade e que seu irmão mais velho é um perigoso assassino temido e odiado por todos. Assim, sem receber grandes explicações sobre seu próprio passado, Irisz resolve iniciar uma investigação independente em uma época na qual a política do local era instável e a mulher ainda dava os primeiros passos em direção à independência.

Esta é a sinopse de Entardecer, novo longa do cineasta László Nemes, que, em 2015, conseguiu aclamação mundial com o premiado O Filho de Saul. Aqui, o diretor se utiliza de técnicas que marcaram seu trabalho anterior, como os enquadramentos claustrofóbicos – a câmera instável está, quase constantemente, focalizando o rosto ou a nuca de Irisz, colocando o espectador no lugar da protagonista, descobrindo as verdades ocultas que envolvem sua família junto com ela -, a profundidade de campo muito restrita, o que instiga ainda mais a curiosidade do público a respeito do que está ocorrendo ao redor da jovem, close-ups dramáticos, planos-sequência e um bom design de som.

Porém, aqui, todos esses recursos surtem um efeito diferente do projeto anterior, uma vez que Irisz começa a trama sem um objetivo muito definido ou um background claro – a história de vida da jovem é tão misteriosa para ela quanto é para o espectador. Somando isso aos 141 minutos do filme, durante boa parte da primeira metade, a personagem parece muito mais uma alma perdida e confusa que perambula pela cidade sem saber ao certo o que procura e para onde ir. Com isso, o diretor demonstra depositar muita confiança no talento de Jakab, que passa a maior parte da produção com o rosto preenchendo a tela – a decisão parece se pagar, com um pequeno “porém”.

A atriz dá vida a uma jovem que, à princípio, tem um objetivo simples, em seguida, a confusão ocupa sua mente quando ela passa a lidar com a hostilidade da população – que sabe mais sobre a moça e sua família do que ela mesma –, e, depois, a obstinação para desvendar os segredos de seu passado e encontrar o irmão. Para isso, intérprete e diretor parecem optar por uma atuação mais comedida, com expressões faciais muito controladas e leves, mas eficazes – trata-se de um trabalho que não quer cair no melodrama exagerado. E, simultaneamente, o roteiro opta por prolongar – espichar – a trama, que se desenrola com descobertas pontuais, dando um tom quase cotidiano ao longa.

Isso pode fazer com que a produção assuma uma linearidade e fluidez que complementam a atuação de Jakab, porém, o espectador mais impaciente pode achar a primeira morosa e a segunda insípida, apesar de complementares. E esta questão pode se agravar no terceiro ato – por volta dos 50 minutos finais –, quando o longa perde um pouco o fôlego e o ritmo por esticar demais acontecimentos de pouca relevância. O enredo só volta aos eixos, nos últimos 10 minutos, após a morte de uma personagem importante, o que puxa a atenção do público de volta, ou seja, o filme poderia ter uns 20 minutos a menos sem atrapalhar a linguagem e o objetivo do diretor.

Assim, Entardecer é uma produção que parece não se preocupar em agradar gregos e troianos, embora suas ótimas reconstituição de época e cinematografia chamem atenção de qualquer pessoa. Além disso, com este projeto, o diretor László Nemes demonstra ter um nicho específico de trabalho, pois seu novo longa, assim como o anterior, acompanha uma personagem com um conflito familiar testemunhando um momento histórico importante. Porém, diferente de seu antecessor, Entardecer – que se propõe a discutir temas como diferenças de gênero, emancipação feminina e a violência perpetrada por homens – acaba por se destacar mais por seus atributos técnicos do que pelo seu valor dramático e reflexivo.

 

 

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