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Graças a Deus: François Ozon leva as telas obra baseada em fatos reais

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“Uma ficção baseada em fatos”, foi assim que o cineasta francês François Ozon definiu seu mais recente trabalho, Graças a Deus, ganhador do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim. De qualquer forma, o fato é que as polêmicas em torno da produção não se restringem ao tema, uma vez que o padre Bernard Preynat, alvo das acusações, tentou impedir que o filme fosse lançado em território francês, alegando, por meio de sua defesa, que o julgamento ainda não foi concluído. No entanto, a Justiça decidiu que o longa pode chegar às salas.

Sendo assim, o público, agora, poderá assistir à trama, que se passa na primeira metade da década de 2010, quando Alexandre Guérin (Melvil Poupaud), um pai de família de cerca de 40 anos e católico praticante, começa a se corresponder com Régine Maire (Martine Erthel), uma funcionária da Igreja, revelando que foi molestado pelo padre Preynat (Bernard Verley) na infância e descobre que o pároco nunca foi afastado e continua trabalhando com crianças. Desta forma – e porque, no caso dele, o crime já prescreveu -, o homem decide tornar pública a sua história, o que o leva a encontrar outras vítimas do padre.

Assim, Alexandre chega a François Debord (Denis Menochet), outro pai de família que foi molestado por Preynat e se tornou ateu, e Emmanuel Thomassin (Swann Arlaud), que desenvolveu uma deformidade no pênis e epilepsia em decorrência do abuso. Em seguida, o trio começa a buscar outros homens molestados pelo padre, formando uma associação que localizou 85 vítimas. O caso toma todo os noticiários do país, comprometendo não apenas o pároco, mas outros membros da Igreja que sabiam dos crimes e, além de não denunciá-los, ajudaram a abafar os casos, como o arcebispo Barbarin (François Marthouret).

Com isso, a sexualidade – tema recorrente na filmografia de Ozon – volta ao centro da pauta, porém, em um viés muito mais delicado, ou seja, exigindo muito mais coragem e ousadia – o que não falta ao diretor. Aqui, ele não precisa recorrer a cenas chocantes e explícitas – nem mesmo nos flashes do passado de seus protagonistas -, pois a própria história já é impactante por si só. E isso se reflete também no texto, o qual não apresenta qualquer didatismo ou lição de moral, deixando claro que o problema não está na instituição, mas em como os indivíduos a regem – por exemplo, quando Barbarin declara: “Graças a Deus, muitos destes crimes já prescreveram”.

Outro aspecto importante é a abordagem das consequências dos abusos. Com 137 minutos, há tempo para desenvolver o trio principal e os que estão ao redor. Assim, a produção pode ser dividida em quatro partes: a primeira foca em Alexandre, que continua indo com a esposa e seus quatro filhos às missas de domingo e afirma que seu problema é com Preynat – de quem esperava, pelo menos, um pedido e perdão – e os que o acobertaram, não com a religião; em seguida, há François, que denunciou o abuso ainda na infância e recebeu o apoio da família, mas tem problemas com o irmão por causa da atenção dada ao garoto após o caso; em terceiro, está Emmanuel, devido ao trauma de infância, não consegue ter relacionamentos amorosos saudáveis; e a quarta parte acompanha a ação conjunta do grupo formado pelos três.

E com essa divisão episódica, o filme tem chance abordar os diversos tema colaterais de forma segura e com a devida profundidade. Trata-se de uma temática, infelizmente, atual e, mais do que nunca, necessária, pois é perceptível que, apesar da declaração de Ozon de que esse longa é “uma ficção baseada em fatos”, há muito mais realidade do que ficção neste enredo, o que demonstra que o caso de Preynat – que se tornou o maior escândalo de pedofilia dentro da Igreja Católica na História da França – é apenas um que ganhou destaque, mas é muito representativo e sintomático de que, seguindo o princípio da indução, tem-se um panorama amplo e perturbador.

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