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Entre tempos: As versões de um relacionamento

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O gênero romance é comumente descrito como “água-com-açúcar”, por isso não costumam chamar muita atenção. No entanto, sempre surge alguma produção digna de nota e este é justamente o caso de Entre Tempos, segundo filme do cineasta italiano Valerio Mieli, que propõe uma análise não apenas sobre os altos de baixos de um relacionamento, mas também sobre as memórias destes momentos de uma relação e como cada um as encara.

 Assim, a trama acompanha a história de dois jovens – identificados apenas como Ele (Luca Marinelli) e Ela (Linda Caridi) – de personalidades opostas – pessimismo e otimismo, respectivamente – que se conhecem em uma festa e logo iniciam um relacionamento como todo aquele entusiasmo de começo de namoro e, com o passar do tempo, a monotonia surge como em qualquer relação. Com isso, o enredo, partindo de um momento posterior, narra os altos e baixos do casal do ponto de vista de cada um, paralelamente.

              Este é exatamente o aspecto que torna este romance interessante: mostrar que não existe uma verdade única e absoluta, há sempre as diferentes versões e as distintas formas de encarar situações. Soma-se isso ao fato de a identidade dos protagonistas não ser revelada e o resultado é um potencial fator de identificação – ou, pelo menos, familiaridade – com o público, por se tratar de um tema universal.

 E com este roteiro tão singular, é claro que seria necessário um grande apuro técnico para que a produção funcionasse. O primeiro deles é a montagem – mérito de Desideria Rayner, montadora que conseguiu equilibrar de forma cirurgicamente precisa os malabarismos audiovisuais do diretor -, que costura muito bem os acontecimentos da trama sem deixá-los confusos e mantendo um fluxo particular, ímpar. E ainda há o design de produção e a cinematografia, que ajudam, de fato a contar a história e tem um significado em cada cena.

    Desta forma, Entre Tempos é um filme delicado e, principalmente, franco, que se utiliza do chavão “os opostos se atraem” para tratar de temas universais que perpassam um relacionamento, mas sem cair nas armadilhas do maniqueísmo, uma vez que, por meio destas memórias analisadas sob distintos pontos de vista, o enredo consegue desenvolver as personagens, ou seja, um exemplar de produção em que forma e conteúdo se complementam, resultando em uma obra surpreendente e digna de atenção.

 

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