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Bienal 2019: Machado de Assis e a Literatura Negra

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A Faculdade Zumbi de Palmares realizou em maio de 2019 a “coloração” da foto em preto e branco do maior autor do Brasil, Machado de Assis, em que o mostra com seu tom de pele real. Para muitas pessoas foi um choque imenso perceber que o maior gênio da literatura nacional é um negro, sendo que jamais havia se dito o contrário, mas também nunca foi ressaltada a verdade.

A XIX Bienal do Internacional do Livro realizou um encontro entre Conceição Evaristo (escritora ganhadora do Prêmio Jabuti), José Almeida Júnior (autor de O Homem que Odiava Machado de Assis) e Eduardo de Assis Duarte (professor e doutor em Literatura e Teoria Literária) no palco do Café Literário com a mediação de Simone Magno. O trio discutiu a razão do porquê havia esta noção embranquecida sobre o autor, e como a queda dessa noção é importante para toda comunidade negra. O movimento Literário Negro foi o primeiro movimento artístico que se originou nas Américas e se espalhou para a Europa, pois geralmente o que ocorria era o oposto.

No século XIX, época de atuação de Machado, apenas 15% de toda população nacional era alfabetizada, e boa parte também não tinha renda para consumir literatura, portanto é evidente que todo público que o escritor conquistou em sua vida era exclusivamente branco e rico. O pensamento desta classe jamais poderia conceber que um gênio da língua literária poderia ser algo diferente que um homem branco das classes altas, como explicou Conceição. Aos negros era permitido apenas o que ela chamou de “cidania lúdica”, e ainda assim com interdições. A eles é permitido a festa (necessária para suportar a dor), mas nunca áreas das artes, intelectuais. Tanto que sempre se faz uma diferenciação entre a MPB e o Samba, ou porque ninguém conhece o maestros negros, como Paulo Moura que tocou inúmeras vezes a imortal Maysa Matarazzo.

 Conceição ressaltou que, como muitos povos de resistência, Machado usava uma tática de “comer pelas beiradas”. Como explicou o prof. Eduardo, Machado era um funcionário público do Ministério da Fazenda com pouquíssimas garantias além desse emprego e sua escrita, ele não podia fazer manifestações abertamente sem correr o risco de perder o emprego. Só que ele fazia comendo pelas beiradas, ao executar seu trabalho de fiscalizar a Lei do Ventre Livre (lei de 1871, que assegurava liberdade a todos os filhos de escravos que nasceriam após a instauração da lei), através de sua editoria nos jornais e revistas que trabalhava.

Apesar de não tem um herói negro ou demonstrar ações abolicionistas abertamente, Machado de Assis conseguia demonstrar sua resistência e protesto contra a sociedade escravista. É mais importante do que nunca afirmar, e com orgulho, para as gerações futuras, que não importa sua cor de pele ou seu nascimento para ser um gênio. Porque o maior escritor da história do Brasil era um negro com pouca educação formal, nascido no Morro do Livramento, filho de uma lavadeira, e seu nome é Joaquim Maria Machado de Assis.

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