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Gravidades traz contemporaneidade que não se furta de face política

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O espetáculo “Gravidades”, que ainda está em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, parece responder a uma necessidade antiga de se produzir uma dramaturgia e uma performance afinada com o espírito da geração que agora se torna adulta. O texto fruto de criação coletiva e a direção conjunta de Julia Stockler e de Laura Araújo. oferecem uma concepção jovial de teatro. Os atores em cena se colocam como veículos de uma mensagem potente.

Questões sérias como a finitude do ser humano são abordadas com surpreendente maturidade por atores comprometidos, mas leves em sua linguagem e na energia cênica que transmitem.

Os intérpretes defendem uma trama despretensiosa, mas atrativa. Três amigos vão acampar na Serra do Caraça e uma deles está doente e ainda não noticiou os companheiros. A aventura na mata, à espreita de um lobo nativo, passa por momentos de deleite, estresse e transbordamento de emoções latentes, inexplicavelmente misturadas em um caldeirão de medos, intensidades, gravidades.

O repertório é altamente catalizador de identificação pelo público. Nos faz inclusive querer fazer parte daquele grupo de amigos e estar naquele acampamento. Músicas de artistas da época dos milennials brasileiros, como as de Sandy e Junior ajudam a trazer o público para aquela realidade e a nos fazer acreditar na vivência que se descortina naquele espaço exíguo. O repertório de ações e movimentos, apesar de não excessivamente marcados e coreografados, são executados com desenvoltura, mesmo que não se identifique uma partitura espacial-corpórea rígida. Já as situações e a linguagem desenvolvida estão bastante afinados e correspondem a uma classe de jovens adultos verossímil, que podem ser encontrados por aí, no Rio, nas cidades brasileiras.

Há muita sensibilidade na montagem, de forma que as questões delicadas das personagens são atacadas na medida, fazendo brotar turbilhão de sensações no espectador, sensações familiares e que evidenciam a impermanência das coisas. “Entre tudo aquilo que somos e tudo aquilo que podemos ser é onde se situa o espetáculo”. Julianna Firme, Isis Pessino e Rodrigo Trindade encaram o desafio de construir e desmoronar universos por meio dos afetos, em um palco difuso, ocupado por memórias e vivências de corpos cheios de magnetismo e viço.

Acontece a contextualização do espetáculo com fatos da contemporaneidade e de atualidade e ele não se furta de face política. A montagem vale a visita e é um esforço teatral expressivo na cena carioca.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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