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Retablo retrata como a homossexualidade é tratada nos a Andes

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É um fato de que os direitos e aceitação da comunidade LGBT+ vem tendo avanços, a passos lentos, mas avanços de qualquer forma. Contudo, também é um fato que ser dessa comunidade é terrivelmente condenada ainda em grandes países do mundo, como a Russia, e até um crime de pena de morte, como a Arábia Saudita. Em comunidades mais tradicionais, não todas obviamente, mas é inegável que ser gay é um tabu nessas comunidades.

Essa é a introdução para Retablo, que conta a história de um família dos Andes peruanos, onde se foca mais no pai da família, Noé (Amiel Cayo), e Segundo (Junior Bejar), ambos são mestre e aprendiz, respectivamente, de retábulos. Retábulos andinos são altares de madeiras portáteis que podem mostrar passagens bíblicas, ou cenas de cotidiano. Esse artesanato corresponde a toda renda da família, que vivem numa vila nas montanhas. É uma vida dura, eles dependem de sua colheita para fazer a massa de batata das esculturas, de doações de madeira para os retábulos, e subir e descer as montanhas não é fácil. Ainda assim, Noé é extremamente respeitado por todos, sendo chamado de Mestre, por ser um artesão é uma profissão honrada para o povo dos Andes. Isso é muito bem demonstrado na obra pelos planos milimétricos de câmera e pela admiração que o diretor, Alvaro Delgado Aparicio, tem por esse artesanato. A fotografia belíssima usa de uma simetria no enquadramento para que o filme pareça ser contada através dos retábulos. Os diálogos não são em espanhol, mas na língua falada pelos descendentes do povo Inca, muito comum nos Andes.

Em contraponto a pessoa respeitável e bom pai que Noé é, usa do alcoolismo para tentar ao máximo esconder sua atração sexual por homens. E quando seu filho descobre isso, além de ficar em completo choque, ele acaba descobrindo que sente o mesmo. Novamente o Álvaro usa a câmera pra expor que nem o menino tinha noção desse aspecto de sua pessoa, e o rapaz atua de maneira que pouco se fala, mas muito é dito, são nas ações e nos momentos de solidão que a atuação do jovem brilha. A partir daí começa a tortura do espírito de Segundo, em que o próprio se autoflagela por achar que isso é errado. Toda a trama, até os momentos finais, é sobre essa dor imensa que o rapaz sente, além da raiva do pai por fazer o que ele próprio não tem coragem, e mais para frente é revelada a empatia que o filho sente pelo pai.

O roteiro escrito por Alvaro Delgado denuncia uma realidade brutal que ninguém da realidade metropolitana tem noção que existe e que também fala de toda comunidade LGBT+ de comunidades tradicionais e rurais. Uma verdadeira obra-prima do cinema latino-americano.

 

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