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Criolo fala sobre fé, política, o novo single “Fellini” e muita música

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Rapper falou sobre o show no Twitch e a relação com os fãs.

CrioloNa era das lives, plataformas de streaming desafiam artistas à reinvenção e Criolo parece não ter se incomodado com isso. Hoje, 23, às 20h30, ele fará um show em realidade estendida (XR) pelo Twitch. Aliás, para a transmissão, serão usados painéis de LED que sincronizadas com a captação de imagens pretendem projetar a sensação de um ambiente virtual.

O rapper que lançou os singles “Sistema Obtuso” no mês dezembro e “Fellini” neste mês, comemora o trabalho feito em conjunto com outros artistas do rap nacional e celebra o que segundo ele, são os “frutos desses encontros que o rap oferece”.

Tecnologias à parte, o artista me concedeu a entrevista, no mesmo tom de voz sereno, mas com uma fala potente que como sempre é carregada de ritmo, poesia e pausas, mas também de reflexões profundas sobre a vida, música e o momento atual. O que, certamente, faz com que esse bate-papo passe longe das divagações.

Tenho a sensação de que em “Sistema Obtuso” você trouxe um peso diferente do apresentado em seu último álbum “Espiral de Ilusão” (2017), onde você examina com profundidade as diversas facetas da cultura afro-brasileira através da música. Para muitos fãs, esse seria o tão aguardado retorno ao Rap, mas como é essa relação para você? Música é uma questão de gênero? Sabemos que o Samba, a MPB, o Rap e outros gêneros musicais possuem contribuições importantíssimas de pessoas negras. É tranquilo para você transitar entre os diferentes gêneros musicais?
Criolo – Bem, já fazia um tempo que eu não gravava assim desse jeito, o último Rap que eu gravei foi “Boca de Lobo”, então, lá se foram três anos. Foi tempo de aprender com os jovens MC’s, aprender outros jeitos de rimar, aonde as rimas se acolhem…. Levei um tempo para entender, enquanto estava na estrada porque já tinha não mais tanto tempo para ver nascer novas possibilidades, mas depois que aprendi passei a admirar e respeitar muito a cena dos jovens MC’s tanto os do Rap tradicional que é conhecido por muita gente, mas também o que fazem parte dessa nova cena, com novas formas de rimar e dessas subdivisões do Rap.

Aliás, uma influência positiva de jovens que são como um combustível para a continuidade, assim mais uma vez, o Rap passa a energia dos jovens brasileiros e essa energia me visita, então, depois de um longo tempo essa gravação surgiu e dialoga com outras estéticas.

O samba é um ensinamento para sempre, das coisas que mais respeito. A MPB abraça um leque infinito de possibilidades musicais porque cada lugar do Brasil, esse país-continente expressa um tanto dessa pluralidade e tudo isso contribui com essas ruas, avenidas e esquinas em que a música faz com que a gente se encontre com sonoridades e isso desagua nos trabalhos. Mas antes de chegar nesse lugar, ela passa pelo coração, visita a alma e quando a gente se dá conta, estamos cantarolando o samba, o xaxado, o forró, uma embolada e isso é um presente que eu recebo com gratidão.

Sou grato a todas as pessoas que fazem música de todos os gêneros sem exceção porque todos eles nos ensinam um jeito diferente de se expressar através da música. E quando me dou conta isso já faz parte dos meus registros.

Existem muitas referências no single “Fellini”, mas sua citação de Lévi-Strauss e sua obra “Tristes Trópicos” me chamou a atenção. Seria uma tentativa de mencionar de forma poética o “olhar que vem de fora” para o nosso país, além de tentar explicar a sensação de mal-estar generalizada que estamos vivendo, visto que, a pandemia expôs a gravidade de nossos problemas sociais?
Criolo – Essa sua pergunta é uma grande construção já de olhar que soma muito com outras impressões que a gente tem e as impressões que a gente tem que também não conseguimos nem expressar, mas isso que vem de fora ou dentro, isso que nos dilacera, essa vibração do planeta que está o tempo todo em luta, sempre esteve, mas agora mais ainda…

Esse escancarar para quem de repente ainda não tinha ideia do quanto a desigualdade provoca dor e caos social, se desvenda agora com o momento que estamos passando, então, embora seja um momento dos mais fúnebres da nossa jovem história, sobretudo da nossa geração. E pensar que muita coisa ainda está por vir, mas em contrapartida, existe um tanto de jovens engajados que fazem coisas espetaculares para dar um retorno e apontar caminhos de ações possíveis para equilibrar toda essa balança cruel na qual estamos.

Lendo a letra do single “Fellini” reparei que há um cenário que traz representações imagéticas bem fortes, de um lado quadros de Monet, filme de Truffaut e Fellini; e no outro, “meninos da quebrada que estão mortos ou matando”. Um filme da vida real. Você termina dizendo… “A escola é o caminho”. 2020 foi o ano das aulas à distância, um ano de desafios para pais, educadores, estudantes e para um país que tem mais de 10 milhões de analfabetos. A frase que termina sua canção é uma mensagem sobre isso?
Criolo – O caminho sempre será a educação! O lindo caminho do progresso real perpassa pelo entender que temos que olhar de um jeito mais profundo sobre as desigualdades, o progresso real que entende que todas as pessoas têm direito ao mínimo para manterem sua dignidade garantida perpassa pela educação. Ela é o pilar máximo de qualquer civilização.

No meio de todo esse caos, existe um apelo: prestem atenção nas nossas crianças. Não continuem tirando das nossas crianças esse direito fundamental, aliás, um direito que nunca se teve, não é? Afinal, a gente só tira aquilo que temos.

Mas sim, essa parte da canção é um pedido para que isso de alguma forma ecoe no planeta e reverbere em todas as pessoas para que nossos professores, professoras, oficineiros, oficineiras e todos os profissionais da educação tenham o respeito que merecem e o suporte necessário para que continuem com seus ofícios porque elas são um presente para o mundo. Cada profissional envolvido em tantas camadas da educação do nosso país possui algo na alma delas que as fazem dedicar suas vidas que vai muito além de bater cartão, ter um trabalho ou um salário.

No mesmo dia de estreia de “Fellini”, sua parceria com Gal Costa foi ao ar. Como foi a experiência de regravar um clássico da MPB com uma das cantoras consideradas umas das maiores vozes do Brasil?
Criolo – Para mim é um presente, um presente máximo e ser lançada no mesmo dia de “Fellini” é coisa muito importante mesmo. A experiência de poder participar cantando junto com a Gal é magnifica! Eu tive a sorte e a felicidade de ter uma canção minha gravada por ela no disco estratosférica, mas essa canção ela tem uma história muito especial, pois, foi um pedido dela para o Milton Nascimento e ele pediu para mim uma letra, ele iria musicar e dar de presente a ela.

Eu nunca ousei imaginar que um dia poderia gravar a minha voz ao lado da voz dela e aí, pela voltas que o mundo dá e os presentes que a música oferece para a gente. Você pode ter certeza de que esse momento ficará em meu coração eternamente.

Saiba mais sobre esse projeto!

Como têm sido sua relação com público em tempos de relacionamento através das redes sociais ?
Criolo – Nós temos um pequeno espaço, um singelo espaço de troca, a gente se encontra no Twitch alguns dias da semana e temos o momento de assistir algum documentário, escutar alguma música e ler poesias. É um trabalho que é feito com muito carinho. Estamos engatinhando, aprendendo, esse novo jeito de troca que esse novo momento oferece para nós.

Por fim, para encerrar, o que os fãs podem aguardar para este ano?
Criolo – Bem, logo, vem muito coisa por aí, mas a música tem o próprio tempo dela, ela é quem diz o tempo dela junto com o coração e estou aqui aguardando os seus sinais.

Neste momento, faço o convite a todos vocês, hoje no Twitch é o nosso endereço para essa live, o primeiro show realidade estendida que tem novidades visuais lindíssimas, quem tiver um tempinho e quiser assistir, fico muito grato, mais uma vez, deixo o convite, espero todo mundo lá no Twitch mais tarde.

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