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“Nu Com a Minha Música”: Ney Matogrosso lança EP no seu aniversário

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Álbum completo que chega em novembro.

Nu Com a Minha Música
Foto: Leo Aversa

Ney Matogrosso lança “Nu Com a Minha Música” no dia de seu aniversário de 80 anos, com clipe da canção titulo. Há 40 anos, “Nu Com a Minha Música” se torna o nome do novo trabalho de Ney Matogrosso, que é entregue ao público em duas etapas, aliás, um álbum completo, de 12 faixas, tem lançamento marcado para novembro.

No dia  1º de agosto, mesmo dia em que o artista completa 80 anos, o artista lançou um EP homônimo antecipando um terço de suas faixas. Concebido por Ney Matogrosso durante a pandemia, o projeto tem produção musical dividida entre quatro nomes com quem o intérprete vem trabalhando nos últimos tempos: Sacha Amback, Marcello Gonçalves, Ricardo Silveira e Leandro Braga. Cada produtor usa formações e bandas diferentes.

“Nu Com a Minha Música” é um registro fiel daquelas viagens pelo interior paulista, um retrato de força visual tão potente que quase transforma som em cinema e nos carrega junto na viagem.

Ney tem nítidas as memórias de estrada que Caetano descreve tão bem. Lembra especialmente da turnê de “Bandido” (1976), nos primeiros anos de sua carreira solo, quando percorreu justamente esse circuito pelo interior paulista. Na nova gravação, a canção ganha divisão rítmica mais acelerada sob a produção de Marcello Gonçalves. Marcello toca o violão de sete cordas e assina o arranjo, que conta com Anat Cohen (clarinete), Marc Kakon (bouzouki) e Joca Perpignan (percussão).

Todo o repertório do álbum foi, surpreendentemente, pinçado em um baú especialíssimo, que Ney cultiva desde sempre. São músicas que o artista conheceu na voz de outros intérpretes e que o atingiram de imediato, não fazendo diferença se tenham vindo do repertório anos 60 da Jovem Guarda ou do álbum mais recente de um compositor da novíssima geração. Além disso, em alguns casos, a canção pode ficar guardada no baú por décadas até que chegue o momento ideal de ser incluída em um álbum ou um show. O importante é que, quando regravada, ela ajude a fundamentar o texto, o discurso, o roteiro planejado por Ney para aquele trabalho específico.

O álbum “Nu Com a Minha Música”, portanto, pode ser compreendido também como um álbum de memórias – bem antigas e muito recentes – a formar um quadro muito contemporâneo. Peças recolhidas “na estrada, embaixo do céu” nesses 50 anos de carreira musical de Ney Matogrosso, mas que, no roteiro imaginado pelo artista, fazem muito mais sentido hoje do que poderiam fazer em qualquer outro tempo.

Com arranjo de piano e violoncelo criado por Sacha Amback, “Mi Unicórnio Azul” revela-se absolutamente atual, sobretudo pelo discurso. A música foi escrita por Silvio Rodríguez em 1982 e lançada no álbum “En Vivo”, que o autor dividiu no mesmo ano com Pablo Milanés – como ele, um expoente da Nova Trova Cubana. Os versos aparentemente surrealistas parecem ocultar uma mensagem homoerótica, de um amor vivido (e proibido) entre dois homens, algo impensável em Cuba e naquele período. O unicórnio, como se sabe, é um símbolo ligado ao imaginário gay. Ney ouviu a canção ainda no início dos anos 1980, ao vivo, em uma apresentação de Rodríguez e Milanés no Canecão, no Rio.

Três décadas mais nova é “Se Não For Amor, Eu Cegue”. Ney Matogrosso conheceu essa parceria de Lenine e Lula Queiroga em Angra dos Reis, na casa de José Maurício Machline. O empresário costuma receber seus convidados para festas animadas, sempre com muita música. Em algum momento da tarde, o shuffle do som os levou à gravação original de Lenine, lançada no álbum Chão (2011). Ney teve que interromper os passos de dança do anfitrião: “Zé, que música é essa? Ele está dizendo ‘se não for amor, eu cegue’? É isso mesmo? Quero gravar isso”. Mais uma para o baú que viria à tona agora. O arranjo que Ricardo Silveira preparou para a versão de Ney Matogrosso tem Renato Neto no piano, Claudio Infante na bateria, Zero na percussão e Liminha no baixo.

A mais antiga entre as quatro faixas do EP é também a mais conhecida. Com letra de Paulo Coelho, “Gita” é um clássico absoluto do repertório de Raul Seixas. O clima épico da versão original é mantido aqui, sob a produção de Leandro Braga, que também toca o piano. Leandro criou um grandioso arranjo de sopros e cordas. E Ney manteve inclusive a fala de Raul na introdução: “Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando/ Foi justamente num sonho que Ele me falou”. Além disso, vale lembrar, Ney Matogrosso já tem um belíssimo histórico como intérprete de Raul.

Em 1977, quando selecionava repertório para o LP “Pecado”, Ney procurou o Maluco Beleza em busca de novidades. Acabou regravando “Metamorfose Ambulante” – e sua versão é tão ou mais representativa do que a do próprio autor. Logo em seguida, Raul foi atrás de Ney, levando na sacola uma demo de “Mata Virgem”. A música entraria, poucos anos depois, no álbum Ney Matogrosso (1981). Por fim, completando a lista, “A Maçã” ganharia versão de Ney no recente Bloco na Rua (2019).

Por ora, esse texto se concentra nas quatro faixas do EP de aniversário. Mas há muito mais por vir em Nu Com a Minha Música, o álbum completo que chega em novembro. Ali, a gente pode acompanhar, cidade por cidade e memória por memória, toda a estrada percorrida por Ney Matogrosso em 50 anos de carreira na música. E notar que o futuro já estava escrito – e guardado dentro de um baú de grandes canções.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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