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Guillermo Del Toro revisita Pinóquio para tratar de temas reais

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Guillermo Del ToroAlgumas obras entram na cultura mundial sem nem percebemos, esse é o caso de Pinóquio, que apresentou ao mundo o conceito do nariz crescer ao se contar mentiras. Aliás, vale dizer que a adaptação animada de 1940 da Disney ajudou a massificar ainda mais o livro de Carlo Collodi. Sendo assim, várias adaptações foram feitas até hoje, algumas boas, algumas pavorosas. Agora, chegou a vez da Netflix ter o seu boneco de madeira sob a direção de Guillermo Del Toro.

Uma das marcas de Guillermo é, certamente, a paixão pelo gênero fantástico. Como O Labirinto do Fauno e A Forma da Água, Pinóquio de Guillermo Del Toro traz a marca do diretor ao usar realidade fantástica para tratar temas inerentes à humanidade, como luto, política, e bondade. O roteiro tira a história do século XIX e o coloca na realidade fascista da Itália no século XX. A guerra e o fascismo de Mussolini é o pano de fundo desse enredo que conta com a voz de Ewan McGregor, como o Grilo Falante que narra a dor e o pesar de Gepeto após perder o filho em um bombardeio, assim como a jornada de Pinóquio.

Como se sabe, a história de Pinóquio é conhecida por quatro arcos bem definidos. A criação do menino de madeira, o desvio do seu caminho para ser usado em um teatro de marionetes, sua fuga para uma ilha onde os meninos malcriados viram burros, e o resgate de seu pai na barriga de uma baleia. A partir dai, a direção explora a relação do artesão Gepeto e seu filho Carlo na pequena cidade pacífica onde vivem. Além disso, a trilha sonora de Alexandre Desplat, junto com cantoria de Bradley, dão um toque peculiar a trama. Aliás, a trilha sonora original de Desplat lembra bastante a mesma delicadeza apresentada em A Forma da Água.

Já nesse início de filme, o diretor já imprime o mesmo estilo de O Labirinto do Fauno, trazendo a tela uma realidade horrenda de guerra e autoritarismo, sob o olhar humilde do ser humano. Além disso, Del Toro também traz o seu estilo de terror, que também compõe sua marca como cineasta. Misturado a isso, a questão da religiosidade também é colocada em cena, sem deixar de fazer justas críticas, já que a obra original tem forte influência cristã da realidade cultural italiana.

 Ao contrário do início do longa, a aldeia humilde foi invadida pelo autoritarismo de Mussolini, e Pinóquio é um ponto fora da curva do perfeccionismo opressivo fascista. Em determinado momento, o representante do partido questiona quem controla o menino de madeira, sua indagação é rebatida com Pinóquio questionando quem o controla. O arco onde Pinóquio deveria ir para a Ilha dos Prazeres, onde meninos maus são transformados em burros, é substituído pela Juventude Fascista. Aqui Del Toro opta por desprezar os fascistas, mostrando como suas atitudes são verdadeiramente pequenas e baixas, sem deixar críticas sérias a sua política.

É claro que cineasta não perdeu tempo em fazer pequenas alterações em determinados personagens como da Fada Azul (Tilda Swinton), uma criatura que lembra mais um anjo de máscara com asas cheias de olhos. O personagem de Conde Volpe, o pantomineiro, (Christoph Waltz), traz uma figura diabólica, que seduz uma criança, ainda que de madeira, para uma realidade de prazeres falsos, ao invés de ir à escola. O próprio design do personagem lembra um diabo, com o cabelo pontudo semelhante a chifres, e também em referência a raposa como símbolo de trapaça e mentira.

Além disso, a escolha por fazer uma animação Stop Motion foi muito bem pensada pois relaciona o apreço do cineasta pelos efeitos práticos do cinema. Assim como Georges Méliès, o diretor conta com a habilidade de criar uma realidade estilizada que só esse tipo de animação oferece, de modo que o design dos personagens é de longe o melhor entre todas as adaptações.

Nessa adaptação, Guillermo Del Toro tem como objetivo usar o famoso conto infantil para levantar questionamentos relevantes sobre construção de caráter. Temas como manipulação e a  (famosa) jornada do herói são colocados em cena tornando Pinóquio  um menino de verdade, com sentimentos puros. Com o intuito de mostrar que ele sempre foi um menino de verdade.

É correto afirmar que o ganhador do Oscar, Guillermo Del Toro, é, certamente, o novo queridinho da Netflix. O cineasta mexicano começou a deixar sua marca na locadora vermelha com Klaus (2019), que acabou concorrendo ao Oscar de Melhor Animação em 2020, ainda que tenha perdido para Toy Story 4. Além disso, 2022 foi, surpreendentemente, o ano Del Toro na Netflix, que também lançou a série “Gabinete de Curiosidade”.

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