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O Rio do Desejo aborda camadas profundas sobre desejos reprimidos

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O Rio do DesejoSegundo estudos da Sociologia, o homem é produto do meio em que vive, isso significaria que tudo que circunda o ser humano (o ambiente, os alimentos, as pessoas, as condições sociais, etc.) influiria no tipo de ser que esse indivíduo se tornaria em vida. Ou seja, na natureza, dependendo de onde a pessoa estivesse inserida, ela poderia se comportar de uma maneira X ou Y: por exemplo, pessoas no frio da Sibéria poderiam se tornar indivíduos mais reservados por causa do vento gélido, em oposição aos indivíduos que vivem na linha do Equador, onde a temperatura chega a extremos insalubres de calor. Bom, esse fator é particularmente verdade no longa Rio de Desejo, novo filme brasileiro que chega às salas de cinema a partir do próximo dia 23 de março.

Dalberto (Daniel Oliveira) está seguro em seu emprego como capitão da polícia militar numa pequena cidade ribeirinha no Amazonas. Um dia ele atende a um chamado de violência doméstica e conhece a jovem Anaíra (Sophie Charlotte), por quem se apaixona imediatamente. Certo de que conheceu a mulher de sua vida, Dalberto rapidamente decide casar com a jovem, levando-a para morar consigo dentro de sua casa, onde vive com seus irmãos Dalmo (Rômulo Braga) e Armando (Gabriel Leone), e com uma senhora, de nome Dalva, que cuida da casa. Decidido a realizar os sonhos de sua mulher, Dalberto decide largar a corporação e comprar um barco, achando que assim fará muito dinheiro e terá liberdade para levá-la a conhecer novos lugares. Ao receber um serviço para transportar uma valiosa para a cidade de Iquitos, no Peru, causará sua ausência prolongada no seio familiar, assim causando consequências irreversíveis para toda a família.

Baseado no conto do premiado escritor amazonense Milton Hatoum, O Rio do Desejo  retoma o universo já bastante familiar ao autor – o círculo familiar em disputa por uma mulher que entra na rotina de irmãos que, então, passam a cobiçá-la e a disputá-la -, temática também apresentada anteriormente ao grande público na minissérie “Dois Irmãos”. Mesmo se tratando do mesmo universo, o diferencial aqui é a belíssima direção de Sérgio Machado (que trabalhou em clássicos como Central do Brasil, Abril Despedaçado e Madame Satã), que consegue imprimir texturas e camadas profundas para uma história íntima entre quatro personagens cujos desejos precisam ser reprimidos a suas revelias.

O roteiro a oito mãos – Maria Camargo, Sergio Machado, George Walker Torres e o próprio Milton Hatoum – adapta o conto inserindo um elemento fundamental, o terceiro irmão, que ajuda a diluir a tensão dramática do triângulo amoroso transformando-o em um quarteto luxurioso, cada um com suas características particulares que torna cada personagem único dentro do enredo.

Aliás, o crescente dessa tensão é alimentado pela poética fotografia de Adrian Teijido, que ajuda a iluminar e ao mesmo tempo esconder as emoções desses personagens à medida que elas precisam ser reveladas na trama, mesmo a contragosto dos mesmos. Além disso, soma-se a isso o deslumbrante cenário amazônico de pano de fundo, cujo calor selvático torna-se palpável na tela, evidenciando que a floresta e o rio são elementos fundamentais para germinar o dilema em que os quatro protagonistas se veem envolvidos.

O Rio de Desejo preenche a tela com uma história primariamente carnal em choque com amarras éticas que regem os grupos sociais. Palpável, de tirar o fôlego e climatizado nos trópicos vertiginosos, é um filme que explode em cores, sensações e beleza na telona.

 

Janda Montenegro
Janda Montenegro
Escritora, roteirista, mestranda em Literatura Brasileira pela UFRJ, crítica de cinema, tradutora e revisora.

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