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“The Last of Us”: Série se mantém totalmente fiel ao game

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"The Last of Us"Todo e qualquer fã de games é vítima de adaptações escabrosas para o cinema ou televisão, como a primeira adaptação de jogo, “Super Mario Bros.” de 1993. Justiça seja feita, a maioria dos casos são difíceis, pois a narrativa de um jogo tem o público como força ativa na história. O game desenvolvido pela Naughty Dog, “The Last of Us” foi, certamente, um dos maiores sucessos de venda do Playstation, justamente por unir um roteiro emotivo e humano com a jogabilidade que torna a história algo pessoal para o jogador.

Quando a HBO anunciou a adaptação para televisão, após a euforia do fandom, veio os traumas de outras adaptações desastrosas. À medida que imagens, detalhes de produção e trailers foram sendo liberados, o medo foi substituído por uma ansiedade boa.

Criado por Craig Mazin e Neil Druckmann, o criador do jogo de Playstation, a série teria nove episódios na primeira temporada, com Pedro Pascal e Bella Ramsey como os protagonistas Joel e Ellie. Aliás, o papel de Joe para Pedro, curiosamente, é muito similar ao seu papel em “Mandalorian”, série do universo Star Wars, enquanto Ramsey ganhou muita relevância por sua atuação em “Game of Thrones” como a grande Lyanna Mormont, a Matadora de Gigantes. Além disso, os episódios tem um divisão clara, três deles são de desenvolvimento de personagens, justamente para tornar o roteiro ainda mais pessoal para o público. Em vários momentos é possível sentir que não somos meros espectadores, pois aquelas pessoas são tão importantes para nós, que somos parte da história.

O episódio um, “You’re Lost in the Darkness”, dirigido por Craig Mazin, foi a declaração de que a série seria totalmente fiel ao material original, fazendo as adaptações necessárias para o novo formato. Os movimentos de câmera e ambientação são idênticas ao do game, destaque para Nico Parker que faz Sarah, filha de John, em excelente atuação.

Antes mesmo da abertura, a série começa com dois cientistas em um programa de TV discutindo como doenças poderiam ser devastadoras para a humanidade, um deles até fala de uma em referência a Covid-19, enquanto o outro fala de uma epidemia de doença fúngica. Doenças fúngicas são totalmente diferentes, pois não existem vacinas e os tratamentos são muito limitados. Aqui nos é entregue o estopim do apocalipse zumbi clássico, quando toda a sociedade começa a ruir em direção a barbárie. Daí por diante descobrimos que Ellie é imune ao fungo zumbi, portanto ela pode ser a cura para toda essa pandemia, a única chance que o mundo tem de voltar a estabilidade.

A medida que seguimos Joe, o universo de “The Last of Us” vai sendo apresentado, com as Zonas de Segurança comandadas pelo autoritarismo militar da FEDRA, e a revolução proposta pelo grupo Vaga-lume, sendo Ellie peça central nisso tudo. A direção de arte já mostra a que veio logo nestes primeiros episódios, onde os infectados são totalmente feitos por atores com maquiagem, impecável, diga-se de passagem.

Ao chegarmos ao terceiro episódio, nomeado de “Long, Long Time”, percebemos que o episódio  é totalmente adaptado de uma carta e diálogos que Joel e Ellie têm no jogo, narrando o romance entre os dois homens e seu fim. Foi, certamente, uma imensa surpresa e prazer ver essa trama desenvolvida. Nesse episódio não vemos muita ação, nem uma fotografia idêntica ao jogo, o que vemos são dois atores excelentes fazendo personagens que se apaixonam um pelo o outro e que no meio do fim do mundo criam um paraíso para si. O episódio serve verdadeiramente como um respiro de beleza, de carinho, dentro da jornada de Joel e Ellie que apenas mergulha mais e mais na perda e na desesperança nas pessoas.

Além disso, pelo ponto de vista da representatividade, é lindo como o roteiro mostra que nem todas as histórias LGBTQIA+ precisam ser trágicas, ainda que o final do episódio seja melancólico, vemos dois homens que se amam e vivem uma vida juntos, mesmo com todos os problemas, foi uma boa vida.

O roteiro segue com a dupla criando laços bem lentamente, pois Joe não tem o menor interesse em ajudar os Vaga-lumes, e muito menos acredita que a menina é uma cura, o único interesse é achar seu irmão perdido, Tommy. Mas para sobreviver é necessário união, e a menina começa a ocupar o vazio que a filha de Joe deixou, não para substituí-la, e sim, por parecer ser algo novo. Conforme os protagonistas vão entretanto em contato com outros sobreviventes, nos é lembrado que o apocalipse zumbi é apenas uma metáfora para nos lembrar de como a humanidade está sempre a um passo da barbárie. Se voltarmos ao clássico de George Romero, A Noite dos Mortos-Vivos, essa alegoria fica muito clara. Em três episódios diferentes vemos três comunidades diferentes que mostram como as estruturas sociais da humanidade servem para nos manter sob controle, do contrário, caímos na violência irracional, no fanatismo, no fascismo.

Enquanto o primeiro episódio desenvolve Joe e, o sétimo, “Left Behind”, explora Ellie. Este é baseado no DLC onde a personagem tem sua primeira experiência romântica com a melhor amiga. Em ambos os episódios, o roteiro tem o intuito de mostrar que os dois personagens a beira do abismo, e agora se apoiam um no outro para não cair. Além disso, a série reforça ainda mais seu compromisso com a representatividade, seja de raça, de sexualidade ou gênero. Levantar essas bandeiras, ainda mais para uma produção desta magnitude, é crucial para a promulgação de tolerância e entendimento. Ainda mais no meio gamer e geek, que sofre muito com intolerância.

O último episódio, “Look For The Light”, dirigido por Ali Abissi, desconstrói tudo o que acreditávamos. A ideologia que criamos dos personagens é posta em confronto com as ações dos personagens, o que nos leva a intuir que “The Last of Us” tem como objetivo principal falar do ser humano.

Não existe mocinho e vilão, lado certo e errado, existem pessoas. Pessoas não são simples, não são maniqueístas e na maioria das vezes é extremamente difícil entender suas motivações. Basta uma pequena rachadura na estrutura da humanidade e todos mostramos a nossa verdadeira natureza, seja ela qual for. “The Last of Us” já  faz parte da lista de melhores séries da HBO, e do ano também. E se continuar assim, pode entrar para a história do audiovisual. Vida longa!

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