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“Eu Capitu” traz olhar feminino à obra de Machado de Assis

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Um dos mais conhecidos romances da Literatura Brasileira, “Dom Casmurro” foi publicado em 1900, se tornou obrigatório em listas e leituras escolares, além de popularizar os personagens Bentinho e Capitu no inconsciente coletivo. A famosa história permaneceu no imaginário público e, após mais de um século, vai ser finalmente revista, refletida e retratada pelo olhar feminino no teatro em “Eu Capitu”.

Com texto inédito de Carla Faour, escrito a partir desta provocação sobre o original machadiano, e com direção de Miwa Yanagizawa. A força do coletivo feminino se expande para todas as esferas da montagem, com mulheres em cena (Flávia Pyramo e Marina Provenzzano) e na imensa maioria da equipe criativa.

No palco, as atrizes encenam uma história que se passa no Brasil de hoje, quando Ana, adolescente presa em um ambiente de tensão doméstica, presencia o fim de um relacionamento abusivo de sua mãe, Leninha, que começa a experimentar novas experiências com o término. A menina – cuja leitura obrigatória de ‘Dom Casmurro’ para o colégio segue incompreendida – costuma se isolar em um mundo imaginário para fugir de seus problemas. É neste refúgio que encontra uma mulher misteriosa e, aos poucos, descobrimos se tratar da própria Capitu.

‘Logo de início, entendi que não queria uma peça realista. Se o assunto era muito duro e pesado, eu queria falar de uma forma doce e lúdica, com a criação de um universo simbólico e metafórico’, resume Carla Faour, que chama a atenção pelo fato de a peça dar voz a mulheres em um mundo que tem a narrativa masculina, seja na política, nas artes, na história ou nas famílias.

‘No texto, o universo todo está na perspectiva desta menina, que sai da infância e entra na adolescência, um momento de extrema vulnerabilidade, e tenta entender as opções da mãe, o que é ser mulher e também o próprio livro de Machado de Assis’, comenta a autora.

A direção de Miwa Yanagizawa foi criada em um processo guiado pelo olhar, pelas múltiplas perspectivas e pela intensa troca com todas as artistas da equipe do espetáculo: ‘Nos interessa instigar o olhar da plateia, convidá-la a imaginar outras possibilidades narrativas, tomar consciência das coisas se valendo de mais de uma perspectiva. Portanto, juntas, levantamos questionamentos e nos apropriamos deles para desdobrá-los ao invés de buscar soluções definitivas: é mais sobre apreciar fazer mais perguntas e dar abertura para uma cena menos linear e acabada em que a pessoa que assiste também colabora, na medida em dialoga com o espetáculo fazendo uso de seus poderes de observação, raciocínio, imaginação e compreensão tornando-se também uma intérprete’, analisa a diretora, recentemente premiada com o APTR de Melhor Direção por ‘Em Nome da Mãe’ (2022) e ‘Nastácia’ (2019), que também venceu o Prêmio Shell de Teatro.

O convite a Miwa foi feito pelo produtor Felipe Valle, também idealizador do projeto, após testemunhar, indiretamente, um episódio de violência doméstica em que não conseguiu intervir e teve a denúncia recusada pela polícia. O sentimento de impotência o levou intuitivamente a pensar em “Dom Casmurro”. Ao reler o livro, com os olhos de agora, percebeu toda a violência contida naquele clássico.

‘Somente em uma segunda leitura consegui entender que era preciso olhar para aquela história com outros olhos e isso só seria possível com esta equipe de criação majoritariamente feminina. Eu trabalhei este livro em sala de aula por anos e hoje consigo perceber como é necessário analisá-lo por outro prisma, tentar, de alguma forma, entender essa história do ponto de vista da Capitu e como isso se relaciona com a realidade de hoje, ainda em 2023’, conta o produtor.

Serviço
“Eu Capitu”
Temporada: de 12 de abril a 07 de maio de 2023
Dias e horários: Quarta a sábado, 19:30 e domingo, 18h
Local: CCBB – Teatro II (Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro)
Ingressos na bilheteria física: de quarta a segunda, das 9h às 21h (exceto aos domingos, cujo encerramento é às 20h) e no site bb.com.br/cultura Classificação: 14 anos
Duração: 80 min.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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