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Jeff Fagundes assume presidência do Instituto Internacional do Teatro no Brasil

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Uma missão importante nas mãos de quem conhece com propriedade a falta de protagonismo negro pelos espaços, principalmente no meio artístico, Jeff Fagundes, 31, brasiliense morador do Rio de Janeiro há 10 anos, foi eleito Presidente do Instituto Internacional do Teatro (ITI), o qual incentiva atividades e a criação no campo das artes cênicas: dança, teatro, dramaturgia e cinema. O articulador é o membro mais novo a ocupar este cargo no mundo.

O centro cultural no Brasil estava fechado desde 2016, agora volta a abrir suas portas. Após seis anos de atuação voluntária no instituto, este passo reconhece o trabalho prestado e o tamanho da potencialidade de Jeff. “Olhando para um país que enfrenta uma violência contra negros, lgbtqia+ e periféricos, estar nesse lugar requer responsabilidade, bem como pautar demandas nacionais e internacionais de artistas para tentar apoio de cooperação, troca de tecnologias da cena, de fomento e de gestão cultural sustentável e socialmente engajada”, ressalta.

Fundado em Praga, na República Checa, em 1948; e sediado atualmente em Xangai, na China, o ITI promove o intercâmbio de conhecimento e prática nas artes fundamentadas nas metas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) sobre a paz e amizade entre os povos, aprofundando a compreensão mútua e aumentando a colaboração criativa entre os envolvidos, independente de idade, sexo, religião ou etnia.

Filho de uma ex-empregada doméstica e um trabalhador da roça, o artista vivenciou muitos percalços ao lado da família. “Minha avó materna era filha de indígenas obrigados a migrarem de uma tribo dizimada no Piauí, para Tocantins. Já o meu avô paterno andava quilômetros para visitar o meu pai na escola após interná-lo: era a garantia da educação e comida para ele. Não tenho mais informações sobre a minha árvore genealógica. É importante dizer que estou neste papel sem um nome gringo ou o privilégio de uma herança”, pontuou.

Aluno de escola pública durante a adolescência, Jeff se formou no ensino superior em artes cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), após abandonar a faculdade de Relações Internacionais em Brasília, no penúltimo semestre, se mudando para a capital com apenas R$300,00 no bolso. “Morei por dois anos em um porão e fui recepcionista em um hostel que mudou minha vida. Nele, de forma autodidata, treinava vários idiomas”, revelou.

E foi toda esta experiência que o impulsionou anos depois para uma grande conquista: a aprovação em um edital da UNESCO da Espanha. “Apresentei o primeiro fragmento do meu solo no maior Congresso Mundial de Teatro; que é do ITI. Me graduei e, hoje, sou Mestre em Criação Atoral com foco na construção de identidade negra para tratar traumas deixados pelo racismo estrutural”, disse ele, que integra o maior polo de teatro e dança do mundo, com participação de 90 países, sendo que cinco desses, pertencem à América. “Ser a única voz que falava sobre a grande crise política e econômica que passávamos era uma árdua tarefa. Isso me compõe como artista negro brasileiro”, enfatizou.

Para o articulador, a reabertura deste centro no Brasil é uma espécie de embaixada do instituto no país, que representará o teatro feito aqui. “Estar na presidência é uma oportunidade de usar todo o saber nesta trajetória, para garantir que as artes cênicas brasileiras a serem representadas mundialmente, estejam alinhadas com a visão que carrego na minha vida. Uma arte com renda descentralizada que respeite a relevância de jovens artistas e fomente as suas participações nas conquistas dos seus legados, estando aptos a competirem no mercado internacional, o que incentiva ainda o turismo cultural nacional e internacionalmente, além de respeitar todas as diferenças”, afirma.

Jeff Fagundes acredita que com a reabertura do Ministério da Cultura e o apoio das organizações civis, novos espaços sejam conquistados. “Vamos lutar para encontrar parceiros para garantir ensino gratuito de idiomas e dramaturgia para artistas e jovens periféricos, incentivo de legendagem em outras línguas para espetáculos brasileiros e um fundo de apoio para grupos teatrais que são convidados a participar de festivais internacionais, mas não encontram base para viagens. Queremos também fomentar o futuro das artes cênicas mundiais. Esse foi o objetivo do instituto ao dizer sim a minha proposta para o país em seu nome”, concluiu.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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