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“PELADA” conta os bastidores da disputa de dois times pelo uso do Campo do Furão

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"PELADA"
Foto: Maria Clara Oliveira

Idealizada em meio à pandemia para ser um espetáculo audiovisual veiculado na internet, “PELADA” passou do meio de campo virtual, ganhou acréscimos, e agora chega aos palcos cariocas.

Escrita por Eudes Veloso e sob direção de Orlando Caldeira, que desenvolveu a dramaturgia com Eudes e Patrick Sonata, a peça traz na raiz o tom de comédia que, sem ridicularizar, cria e brinca com estereótipos para contar uma típica história do subúrbio carioca, evidenciando toda sua beleza e potência.

Do cruzamento da clássica pelada heterossexual com a “gaymada” (adaptação do tradicional “jogo de queimado” pelos gays periféricos), nasce uma montagem que apresenta os bastidores da disputa de dois times pelo uso do Campo do Furão – um campo que existe, de fato, em Olaria – antes que uma empreiteira o compre.

“‘Pelada’ faz parte de um projeto chamado Trilogia de Subúrbio, que tem o intuito de falar sobre as narrativas da região como histórias extraordinárias a partir do ponto de vista da arte. Eu e o Eudes somos crias de Olaria, meu pai era juiz de futebol neste campo e eu cresci o acompanhando nesses jogos. Embora não goste de futebol, ficava muito atento às histórias. E nada mais emblemático para iniciar esta trilogia do que falar sobre a pelada, que não só movimenta todo o bairro, como toda uma rede de relações que existe ali – e que vai para além do jogo”, atesta Orlando.

Além dos integrantes da pelada, um time forte está em cena defendendo não só a bandeira, mas também as ações e criações LGBTQIAPN+, abordando no jogo cênico esta tensão entre a gaymada, num ambiente majoritariamente gay, e a pelada dos héteros. “É interessante pensar as construções sociais e como se organiza o Rio de Janeiro a partir destes dois polos tão antagônicos entre si no mesmo palco. Paralelamente, existem muitas camadas nesta relação, é uma trama muito forte que os relaciona, por mais que sejam diferentes entre si”, pondera Orlando, para quem a cultura do queimado sempre foi muito presente no subúrbio dos anos 1980 e 1990.

Além do clima de disputa pelo campo para jogo, entra em cena também as divergências entre os jogadores – algumas vezes, até no vestiário. E momentos de estranhamento entre gays e héteros se fazem presente na história. “A gente escolhe, a partir do riso, mostrar o ridículo do ser humano. Nesse caso, estamos falando do ridículo desta heterossexualidade que precisa ser revisada e que só atrapalha o desenvolvimento pessoal de cada um, inclusive do homem hétero a expressar suas subjetividades. E como este comportamento também é violento com o corpo da mulher, do gay e das pessoas transexuais, escolhemos o riso para mostrar o ridículo e fazer esta análise”, antecipa o diretor.

Apesar de todo apelo da tecnologia, da violência e do desenvolvimento de algumas regiões da periferia, as brincadeiras de bairro ainda existem. “E se transformaram ao longo do tempo como, de certa forma, a ‘gaymada’, um jogo formado por gays num espaço de identidade, de resistência e de construção de uma narrativa preta gay suburbana. Neste caso, quem traz o novo e quebra uma tradição já participa de alguma forma desta relação, é uma relação que se reconstrói, mas que se mantém. Queremos trazer estas reflexões”, pontua Orlando sobre a peça, mais uma realização do Coletivo Preto com a Saideira Produções, em parceria com Complexo Negra Palavra, um novo grupo de profissionais negros que surgiu do espetáculo homônimo em homenagem e com base nas poesias de Solano Trindade, o Poeta do Povo.

Embora seja bastante popular em alguns bairros no subúrbio, sendo disputado até em torneios e campeonatos regionais, a ‘gaymada’ ainda é desconhecido por muitas pessoas. “No elenco temos dois atores que praticam a gaymada já há algum tempo – o Aleh Silva e o Guilherme Canellas. Eles são artistas circenses oriundos da Baixada Fluminense e acho importante que tenhamos o lugar de legitimidade da fala deles, que são praticantes, apresentando esta cultura para além de um esporte, mas também como um espaço de resistência”, ressalta Caldeira.

Pretendendo revelar a beleza e a poesia do povo suburbano, promover a identificação e conexão de moradores do subúrbio com uma obra artística criada a partir de histórias sobre seus cotidianos, o espetáculo pretende ainda trazer para a cena a potência de novos artistas pretos também vindos do subúrbio carioca, com suas próprias narrativas e vivências. Neste grupo estão Adriano Torres, Lucas Sampaio e Raphael Elias, moradores de Ramos, Água Santa e Tijuca, respectivamente.

“PELADA”
Temporada: 08 a 30 de Abril
Quando: Sábado e Domingo – 20h
Onde: Teatro Gláucio Gill (Praça Cardeal Arcoverde, s/n – Copacabana)
Ingressos em https://funarj.eleventickets.com/
Classificação: 12 anos

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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