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A sindicalista, com Isabelle Huppert, é um drama trabalhista baseado em eventos reais

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Novo drama francês, A Sindicalista, conta drama trabalhista baseado em eventos reais sobre Maureen Kearney, uma representante sindical que denunciou acordos secretos e abalou a indústria.

A sindicalistaProtagonizado por Isabelle Huppert, o longa nos coloca na posição de questionar  a escalação de Isabelle Huppert como a personagem-título. A atriz não tem a fragilidade como uma de suas características, pelo contrário, Huppert sempre parece a pessoa mais forte em cena, com um ar de frequente assertividade e poder. Faltam convites a atriz que a coloquem em frente a humanidade, que a tire de um eterno pedestal, lugares para onde ela geralmente é escalada, na qual desempenha esse perfil com perfeição. No início do mês, foi lançado Uma Vida sem Ele, protagonizado também por ela, este sim, foi um desses raros momentos. Porém em A Sindicalista, Huppert precisava ir além de um ar frágil comum, com uma dose de ambiguidade, no qual esse conceito de frágil está incluído.

Vindo de uma centralidade dada a alguém como Huppert, é óbvio que A Sindicalista até finge não ser, mas aos poucos descobrimos que se trata de um estudo de personagem muito fora dos padrões. E igualmente aos poucos, percebemos que o que a atriz precisa empregar no filme é exatamente o que ela faz. Quem é Maureen Kearney, o que essa mulher pensa, quais são seus objetivos? As respostas não vêm fáceis, e a maior parte delas nem virão, mas independente de quem é essa líder sindical, a trajetória de sua personagem é das coisas mais verdadeiras que já a vimos montar. Estou falando de condução narrativa e de modelo de discussão, que abre nosso olhar para a mira de algo muito sério, porém infelizmente muito comum.

O que é vendido em A Sindicalista, desde seu título, é um drama trabalhista, comum ao cinema europeu como um todo. Kearney luta contra uma possível mudança de rumos nas relações entre uma multinacional de energia nuclear, sua possível aquisição por uma empresa chinesa e a forma como isso afetará os empregos dos profissionais locais. Como voz dissonante a onda que vem se formando, Kearney começa a receber telefonemas ameaçadores, é perseguida pelas ruas e vê sua família ser posta em risco. Quando sua casa é invadida e seu corpo violado, tudo desmorona. Mas, acreditem, é só o início dos eventos. Porque o filme, na verdade, tem outros interesses além das questões do universo trabalhista, mas que reverberam igualmente o machismo estrutural da sociedade.

Após o ataque sofrido, a protagonista vira uma versão ficcional (embora o filme seja baseado em eventos reais) do documentário Vítima x Suspeita, da Netflix, assim passam a desacreditar seus relatos. Além disso, o filme coloca em cheque o que tantas mulheres passam. A vítima de um crime sexual necessariamente precisa ser uma “boa vítima” para que seus eventos sejam levados a sério, e isso inclui ter uma postura socialmente aceitável, e nenhum atenuante – isso tudo de acordo com o julgamento alheio, óbvio. A Sindicalista acaba se revelando uma obra muito mais abrangente do que aparenta ao primeiro olhar, ao revelar que suas camadas incluíam uma discussão de gênero, que não excluem sua primeira impressão temática.

Mesmo com a utilização de tempos mortos dilatados, o diretor Jean-Paul Salomé (que já tinha trabalhado com Huppert em A Dona do Barato) desnuda não apenas os teores mais íntimos de sua protagonista, como também o que se esconde por trás dos momentos onde ela é inserida.  Enquanto Luc Oursel, o “vilão” da história, perde a oportunidade de se tornar maior e mais ameaçador, para virar um boneco também ele refém do que o rodeia, com um desfecho incompreensível.

Por fim, o elenco é coeso e todo ele faz a diferença, não é um show solo de Huppert, como costuma acontecer. Creio que Yvan Attal nunca tenha feito tanto a diferença antes como aqui, com um personagem que é um poço de detalhes que podem ser explorados. Marina Foïs também está ótima, e Grégory Gadebois realmente mostra que o barco virou a seu favor nos últimos anos, com uma performance delicada e compreensiva. No centro da história, Huppert vai de uma típica (grande) interpretação sua até virar volante de uma narrativa muito maior que ela, quase um filme-denúncia, em um lugar de exposição de um ‘modus operandi’ coletiva onde o patriarcado recusa a força feminina e igualmente despreza o horror diário onde qualquer mulher é inserida.

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