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Léa Seydoux e Gijs Naber protagonizam A História da Minha Mulher

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A diretora Ildikó Enyedi ficou quase 20 anos sem dirigir um longa-metragem, e quando o fez, Corpo e Alma venceu o Urso de Ouro do Festival de Berlim e foi indicado ao Oscar. Apenas quatro depois ela entrega seu filme novo, intitulado A História da Minha Mulher, que competiu no Festival de Cannes de 2021, e o resultado é exatamente o oposto.

Enquanto no primeiro reconhecemos uma verve fantástica que se comunica com suas origens ao construir uma alegoria dentro de sua narrativa; seu novo filme, de tão atrelado ao que de mais clichê pode existir em relações humanas, parece fazer o movimento contrário, sair do melodrama tradicional para, através do radicalismo, encontrar um espaço que só pode ser identificado como alegórico.

A História da Minha MulherTrata-se apenas do sétimo longa em 35 anos de carreira, aqui agarrando a oportunidade de adaptar um romance histórico do seu compatriota Milán Füst, publicado há quase 80 anos. A história, de tão universal, pode ser contada com qualquer nacionalidade em foco, porque já tivemos contato com essa trama ao longo da vida inúmeras vezes. Trata-se de um melodrama tradicional, a história de um casal que se casa após uma aposta do marido, e que acabam descobrindo mútuos sentimentos. Rapidamente, a novidade se esvai, assim A História da Minha Mulher passa a girar em torno de um tipo como o Bentinho de ‘Dom Casmurro’; obcecado por uma possível traição que não consegue provar, o protagonista desce aos infernos da desconfiança.

Nada que vemos, no entanto, é desenhado com algum traço claro de interesse, para conquistar o espectador diante de algo que ele já especula anteriormente mesmo a sessão. Com um casal de protagonistas afiados, porém, A História de Minha Mulher não se concretiza como material cinematográfico de destaque. Cena após cena, a condução de Enyedi parece tentar cada vez menos empreender um laço com o espectador. Como dito no primeiro parágrafo, tamanha é a dedicação em não considerar curvas novas para a narrativa, que temos a impressão de tratar-se de um campo cheio de metáforas. A ideia passa a não corresponder mais enquanto no plano do concreto, porque nele nada está no campo do novo.

É uma ideia de transposição de estereótipos do marido e da esposa de outrora, com poucos dados do presente em sua elaboração. Um exemplo positivo é Lizzie, por exemplo, é uma mulher que vive de acordo com as próprias regras, sem se dobrar ao ciúme do marido – quando ele o tem, é preciso dizer. Isso porque, em determinado ponto, as personalidades passam a ser moldadas pela ideia teatral de representação; diga-se, mais interessa ao filme reproduzir sequências que exemplificam sua tese, do que criar consistência dentro do que vemos. Assim sendo, o roteiro de A História de Minha Mulher se assemelha a uma colcha de retalhos dentro de outra colcha, onde seus protagonistas desconstroem suas personas para servir como tese, assustando quem esperava uma história cheia de motivações.

A duração excessiva de A História de Minha Mulher não serve para alargar seus propósitos e angariar novos desenvolvimentos aos eventos ou personagens, e sim para aumentar a sensação de desgaste em uma obra que não consegue expandir seus propósitos. Com interpretações poderosas de Léa Seydoux e principalmente Gijs Naber (de Fiéis) para tentar impulsionar uma trama que já vimos algumas outras vezes e aqui parece apenas esvaziada, Enyedi não parece dizer muito a que veio. Se a narrativa não se compromete com alguma relevância, o trabalho da diretora também parece pálida, principalmente se comparada ao seu sucesso anterior; aqui, apenas uma história é contada, sem qualquer diferencial que esse roteiro anteriormente tenha sido apresentado.

Dessa forma, apesar da dificuldade em absorver uma linguagem clássica que se traduza em recorte que dialogue com o hoje de alguma forma (e a leitura de um outro tempo, para mim, se torna premente quando paralelizada com o hoje) é em torno desses dois atores que A História de Minha Mulher ganha fôlego. Por mais de duas horas e quarenta minutos, a entrega de ambos é posta à prova por um território facilmente reconhecível do melodrama, que por vezes descamba para a falta de decoro narrativo. Seydoux e Naber, no entanto, atravessam as dificuldades com elegância e pulso firme, tornando a experiência em torno da produção um respiro em direção à exposição de seus talentos.

 

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