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Herói de Sangue, com Omar Sy, conta a história de soldados senegaleses na 1ª Guerra Mundial

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O fenômeno Intocáveis foi imenso em toda parte do mundo, no Brasil não foi diferente. O que chama a atenção que, mais de 10 anos após seu lançamento, Omar Sy, um dos protagonistas desse hit que rendeu inúmeros remakes, continue sendo celebrado e tenha uma popularidade ainda crescente, também graças ao sucesso da Netflix “Lupin”. Estreia essa semana nos cinemas Herói de Sangue, seu mais novo filme, que continua mostrando o porquê de tal aceitação coletiva, que é muito simples.

A produção reafirma que de carisma e talento o astro francês não tem qualquer deficiência, e permanece movendo seu nome para espaços paralelos à comédia, com a qual comumente é atrelado. Não há muitas alternativas a algo tão arrebatador quanto o talento, mas Sy mantém esse interesse pelo que entrega através de escolhas muito acertadas.

Herói de SangueAinda que há muito já se configure como uma das maiores estrelas atuais da França, Sy se refina nas escolhas que tem feito. Aqui acerta ao mostrar uma delicada relação entre pai e filho construída (para o espectador) nas trincheiras de 1917, durante a Primeira Guerra Mundial. Tão unidos que são, ao ver seu filho recrutado para a batalha, o pai se alista voluntariamente para protegê-lo e estar ao seu lado. Essa premissa é, certamente, especial porque observa a guerra do ponto de vista mais emocional possível, ao tragar para dentro do conflito armado uma família prestes a se esfacelar. Alias, todo esse desenvolvimento é cumprido com a sensibilidade de não perder as informações de ordem macro para nos envolver com o drama micro desses dois homens, e enfim retornar ao macro, ao demonstrar que essa relação espelha outras do filme, tornando-o universal.

Herói de Sangue, ainda que possa desenhar-se na esfera de algum clichê, também o faz com a consciência de quem cria um labirinto intransponível. Por trás de cada afeto do qual o filme se ancora, também residem as certezas do lugar onde estão e de como precisam lidar com o que não têm domínio. Isso desintegra as intenções iniciais de cada personagem, tendo que adaptar suas razões à uma nova ainda não compreendida. Por trás do que o filme apresenta de concreto, existem as conotações emocionais que vão sendo devassadas sem verbalização, e em como o filme desde o início nos prepara para uma tragédia, seja ela física ou psicológica – ou ambas. Esse é um dos fatores do sucesso de um filme que poderia ser bem mais superficial do que é, preocupar-se com o emocional ao seu redor.

O diretor e roteirista Mathieu Vadepied está em seu segundo longa como diretor, em Herói de Sangue, não se aventura com força pelos horrores de uma frente de batalha. Então mesmo que vejamos sim seus atos, são as consequências que o filme busca. São os bastidores estratégicos e emocionais, à margem de grandes eventos, que Herói de Sangue trafega, indo ao encontro dessas relações, entre pais, filhos, amigos e representações de tais lugares sociais, ainda que incrustados na iminência da perda.

Participante da edição do ano passado no Festival de Cannes (mais precisamente da seleção Um Certo Olhar, a principal paralela do festival), Herói de Sangue não é autoral, mas isso não diminui os méritos de seu diretor como contador de histórias. O filme traz uma narrativa melodramática que se desenvolve e se reveste de uma sofisticação que não vem de suas imagens necessariamente, mas de como tem interesse pelo ser humano.

Está tudo personificado no corpo de seus atores, sejam eles Sy ou Alassane Diong, que interpreta seu filho, e o resto de seu elenco acompanha seus esforços com iguais méritos. É também desse valor que se constrói o interesse por uma história que se notabiliza por mapear o pequenino esforço em meio ao grande terror.

Assim como grande parte dos projetos estadunidenses que envolvem uma guerra, também em Herói de Sangue há uma vontade excruciante pela lembrança, em manter viva a chama que não explora esses mesmos heróis, mas os coloca em evidência para que o mesmo não se repita. Infelizmente as guerras não acabaram, nem os filmes que falam desses homens e mulheres mortos em combates sem motivos de suas existências. Contudo, é bonito acompanhar um título que corre um pouco alheio ao que vemos sempre, as habituais sequências sangrentas, para nos inteirarmos do ser humano que paga constantemente o preço pelas ações de poder.

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