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“Antes Que Seja Tarde” um monólogo do outrora

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De um poeta que comete crimes contra a mesmice como “Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes”, como o gaúcho Fabrício Carpinejar cometeu, tudo o que se espera são flagrantes daquilo se considera inevitável: a solidão… e seu irmão gêmeo, o desamparo. Não por acaso, o autor de “Colo, Por Favor!” escreveu “Não me deixe viver o que posso, que me seja permitido desaprender os limites”, como um pleito em prol do transbordamento. Seus versos de prosa com a crônica e sua crônica metida a lírica se esgueiram por terrenos inóspitos da sociabilidade cotidiana, como a habilidade de saber ceder e a carpintaria farpada da memória, uma máquina de profecias. Máquina essa que tem suas engrenagens de óleo cru desnudadas no espetáculo “Antes Que Seja Tarde”, numa mimosa atuação de Vânia de Brito num monólogo do outrora.

"Antes que seja tarde"
Foto: Guga Melgar

 Sob a luz amena de Aurélio de Simoni, as páginas do best-seller “Cuide dos Pais Antes Que Seja Tarde” (Bertrand, 2018) são convertidas no palco. Aliás, prende-se com mais afinco ao lado cronista do autor ao fazer uma reflexão sobre o papel de mães, pais, avôs, avós e pudins na formação da subjetividade de um indivíduo. Falar de família é um convite a tempestades, mas Vânia opta pela garoa.

Em “Antes Que Seja Tarde”, Vânia de Brito se chove no palco com leveza, num relembrar de cirandas, jogos de criança, sobremesas, afagos e o que mais dá norte aos verbos “crescer” e “amadurecer”. No cenário de aparente simplicidade (e de plena condensação) de José Dias, uma cadeira e uma mala formam com o corpo da atriz uma sutil geometria entre ação (ela), repouso (o acento) e imersão (a tal valise, cheia de cacarecos).

Essa geometria será expandida ao longo de 50 minutos sem bissetrizes violentas, fincando os vértices na aritmética prospectiva de um passado que é sopro, nunca vendaval. É por esse veio que flui o rio de metáforas e reminiscências cuja nascente está na rocha literária de Carpinejar, escavada a partir da adaptação dramatúrgica do diretor teatral Antonio Januzelli e do ator Rodolfo Amorim.

Sob a direção de Delson Antunes, esse rio cartografa meninices para poder mapear saudades, ausências e cuidados que deveríamos ter com pretéritos, os perfeitos e os imperfeitos. Nesse vernáculo, a gramática de Vânia tem uma sintaxe elegante, de gestos suaves, num trabalho corporal que se expressa pela brandura, na firmeza de um texto analgésico.

Confira o serviço completo da peça!

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