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Giuseppe Oristânio traz vaidosa discrição nas nonadas da vida

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Ciente de que “viver é etecetera” e também é um “rasgar-se e remendar-se”, como explicou João Guimarães Rosa (1908-1967), a plateia de “Pormenor de Ausência”  acompanha uma reconstituição ficcional (ou espiritual) dos derradeiros anos do autor de “Grande Sertão: Veredas” (1956) com a consciência de que a palavra é, antes de tudo, um ser vivo. Vestido rosianamente, Giuseppe Oristânio explora o que existe de orgânico nas vogais e nas consoantes com que brinca, sob a direção de Ernesto Piccolo, ao encarnar o autor mineiro.

Giuseppe Oristânio "Pormenor de Ausência"
Foto: Luisa Bacelar

Resultado de uma pesquisa feita pela autora Livia Baião, o monólogo é uma cartografia verbal do processo criativo de Guimarães na sua percepção de que a literatura é mais do que um receptáculo de histórias: é um trapézio a partir do qual se salta, sem rede, pela invenção da linguagem. Essa certeza catapulta vaidades ao infinito. Com a matreira habilidade de um ás dos palcos, Oristânio circunda essa dimensão vaidosa de seu personagem sem deixar que ela obsede suas outras virtudes. São muitas.

Na dramaturgia, Lívia tira um 3×4 de um Guimarães Rosa em uma fase de intensa atividade, conciliando a carreira de escritor com a de diplomata, ressaltando a fragilidade de sua saúde. Aliás, a perspectiva física da finitude e os deveres de avô trombam com o desejo ambicioso de virar um dos imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Desfiando um rosário de admirações e despeitos, de Afonso Arinos (1905-1990) a Adonias Filho (1915-1990), o Guimarães de Oristânio fala de colegas ilustres em diferentes entonações, libertando os fantasmas que o assombram e sofrendo de dores no peito. Somos levados à intimidade de seu escritório, numa cenografia simples (de extrema eficácia) que sintetiza, com pouco, o muito que seus olhos enxergavam.
Oristânio valoriza a mineirice de Guimarães, num ar de recato que injeta elegância a seu memorialismo. É um exercício de rememorar que passa a arte literária brasileira em revista.

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