- Publicidade -

Meu Nome é Gal traz recorte em esquetes importantes sobre sua vida

Publicado em:

Quem é Gal Costa para você? Independente da resposta, o Brasil não tem muito acesso audiovisual a uma das maiores cantoras da nossa História anterior à sua histórica apresentação de “Divino Maravilhoso”, canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil composta para que ela interpretasse no Festival da Canção de 1968. Cabelos curtos, se embalando para frente e para trás, o desespero e a emoção no ápice, ali nascia uma das muitas imagens de um ícone da MPB. O momento era o auge do início da ditadura, que levaria ao exílio dois dos seus melhores amigos, e a deixaria como a representante da Tropicália no país, ao lado dos Mutantes e de Tom Zé. Esse momento, e o que se segue após ele, é o ponto mais agudo de Meu Nome é Gal, biografia para o cinema que finalmente estreia, depois de muito tempo de gestação e de assistir à morte de sua homenageada.

Meu Nome é Gal
Foto: Stella Carvalho

Dirigido por Dandara Ferreira e Lô Politi, o filme, como as melhores biografias, decide recortar um período sobre a vida de sua personagem, o que seriam os seus primeiros dez anos de carreira, mais ou menos. Isso sempre será um acerto, debruçar-se sobre a inteira trajetória da vida de quem for, com poucas exceções, costuma ser uma decisão desastrosa. Aliás, a Gal que conhecemos aqui é a que acaba de chegar de Salvador ao Rio de Janeiro, quando encontra-se em uma república com o grupo de amigos que irá se empenhar na sua explosão como uma das maiores de todos os tempos, informação da qual eles já tinham certeza. Recorte feito, os erros posteriores de Meu Nome é Gal são comuns ao gênero, mas pelo menos um é inusitado.

Assistimos a episódios desse primeiro momento – sua tentativa de emplacar na TV, o surgimento da Tropicália, a gravação de “Baby”, o primeiro dueto com Caetano, a relação com sua mãe, a apresentação no Festival da Canção, já descrito – e isso, mais uma vez, é pouco para a unicidade de um projeto. Parecemos estar diante de esquetes importantes sobre a vida de um personagem histórico, sem mergulhar de fato em sua personalidade e ler sua gênese. Superpovoada de muitas figuras emblemáticas, como Maria Bethânia, Jards Macalé, Waly Salomão, Rogério Duprat e tantos outros, Gal precisa dividir holofotes com o que estava à sua altura em seu tempo. É injusto para ela e seria injusto para qualquer outro biografado entre eles, e isso provoca uma situação especialmente sui generis.

Meu Nome é Gal, ainda que leia da maneira acertada o primeiro momento da personalidade de sua entidade cênica, com esse movimento apaga a própria Gal. Entenda-se: ao chegar no Rio com uma timidez avassaladora, a intérprete original de clássicos como “Vapor Barato” está em cena quase tentando não estar. Olhando pela janela, fumando escondida, em silêncio com sua força vulcânica ainda interna, Gal parece observar quem está à sua volta, pessoas de personas explosivas. Seu jeito introspectivo inclusive é um dos motes narrativos, porque todos precisam tentar tirar dela a explosão corporal que ela já emana na voz. Tudo muito bonito do ponto de vista narrativo, mas que faz a personagem em sua própria biografia parecer coadjuvante, embora não seja.

Com a fotografia exuberante de Pedro Sotero (colaborador de Kleber Mendonça Filho em todos os seus longas) sombreando tais momentos citados, visualmente Meu Nome é Gal é um trabalho de personalidade visual positivamente demarcada. O bom gosto de Ferreira e Politi para compor sua obra, dá a sua protagonista os pontos certos, não pode ser negado, mas esses valores parecem vazios quando o mais acertado não foi feito – porque abrir mão de dar voz a Gal? Ainda que sua personagem declare que sua música era sua voz, vemos que existe um mundo em ebulição nos olhos de Sophie Charlotte. Nada disso é exposto, política, emocional ou socialmente, Gal Costa entra e sai de sua biografia como um objeto não identificado.

Isso atrapalha o trabalho de sua intérprete, que está no auge, mas aqui oferece pouco porque é exigido dela pouco. Charlotte fotografa muito bem, e em vários planos as diretoras pareceram capturar tudo de Gal na imagem, apenas. Está lá Gal, quando vê os vídeos de Gil e Caetano em Londres; está, certamente, muito lá. Mas são Chica Carelli, Luis Lobianco e principalmente Rodrigo Lelis que saem de Meu Nome é Gal consagrados. Poucas vezes eu vi isso, se é que já vi antes – Gal Costa é a homenageada, mas o brilho é de sua mãe, de Guilherme Araújo e Caetano Veloso. São eles que vão embora conosco do cinema, e prestem atenção em Lelis: algo me diz que estamos diante da próxima estrela do nosso cinema. Enquanto seu Caetano é ação e emoção, a Gal de Ferreira e Politi é imagem.

*Filme visto durante o Festival do Rio 2023

 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -