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Mike Flanagan faz releitura das obras de Edgar Allan Poe em “A Queda da Casa de Usher”

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Desde o sucesso monstruoso de A Maldição da Residência Hill, Mike Flanagan tornou-se um dos criadores mais queridos da Netflix. Seus trabalhos seguintes trouxeram certa cisão entre os fãs da Residência Hill, como Missa da Meia-Noite, que foi abandonada pelo público por conta do ritmo lento. O mais novo projeto de Mike Flanagan trouxe enorme expectativa, não apenas por seu histórico como criador, mas também pois a nova série adaptaria a obra do imortal Edgar Allan Poe. “A Queda da Casa de Usher” reúne oito episódios que seguem a família Usher em sua jornada de ascensão e o fim completo de sua linhagem.

Mike Flanagan Cada episódio tem como título um conto, romance ou poema de Poe, assim como vários personagens têm seus nomes relacionados ou citam diretamente suas obras. As mais presentes são, obviamente, “A Queda da Casa de Usher” e o icônico “O Corvo”, todavia a série como um todo é uma excelente adaptação moderna do estilo Allan Poe. Aliás, o elenco possui figuras carimbadas das adaptações de Flanagan, como Carla Gugino, Samantha Sloyan, Zach Gilford e Kate Siegel, além de também traz figuras novas, como Bruce Greenwood e o querido Mark Hamill.

O roteiro de Flanagan sempre foram inteligentes e bem estruturados, ainda que em ritmo lento, mas não falta mão, mas sim, há uma necessidade de calma pois a trama é construída lentamente, tijolo por tijolo. Neste caso, o roteiro constrói tanto a ascensão dos Usher quanto sua queda em paralelo. Greenwood e Carl Lumbly realizam momentos intensos que não passam de simples conversas, usadas para ligar os flashbacks que compõem a história dos Usher. O roteiro tem momentos de ouro sublimes, como em A Máscara da Morte Rubra, onde Mike Flanagan consegue transpor a opulência, soberba e hedonismo da elite do Ocidente, e como tudo isso é uma ilusão perante a realidade avassaladora da morte. Além disso, a forma como as obras de Poe são introduzidas na série inteira é no mínimo genial. Outro exemplo está no personagem de Hamill, o advogado Arthur Gordon Pym, que fez uma viagem circundando a Terra e fez coisas que o mudaram para sempre.

O maior destaque reside na atuação de Carla Gugino. A atriz sempre fez um trabalho impecável nas produções de Flanagan, porém em “A Queda da Casa de Usher” há outro nível. Seu personagem é um ser sobrenatural, presente nas obras de Poe, que também é uma alegoria para decrepitude, imoralidade, e, obviamente, a morte. Ela seria o Corvo que constantemente diz “nunca mais”, primeiro como um sussurro, depois como um trovão que trará a tempestade do fim para toda linhagem Usher. A atriz aproveita perfeitamente sua habilidade oratória para abusar de monólogos cheios de referências a Edgar e seu estilo de escrita.

Muitos autores de terror sofrem adaptações pavorosas de suas obras, em especial, Edgar Allan Poe, agraciado sempre com adaptações, mas ainda assim, existem as poucas que tem nem deveriam ter sido feitas, pois não respeitam em nada o seu legado. Mike Flanagan conseguiu criar uma adaptação que é totalmente diferente na forma, mas o cerne, a essência, é totalmente alinhada com o legado de Edgar Allan Poe.

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