- Publicidade -

Roberto Farias: Memórias de um Cineasta explora os muitos lados de um homem

Publicado em:

Há apenas duas semanas, o circuito exibidor recebeu uma obra fundamental para conhecer uma parte da História do Cinema Brasileiro, Nelson Pereira dos Santos: Vida de Cinema, um filme onde o próprio cineasta dissecava sua obra. Essa semana, não apenas mais uma parte da História da nossa cinematografia se coloca à nossa disposição nos cinemas, mas também uma parte do país. Roberto Farias: Memórias de um Cineasta, dirigido por sua filha Marise Farias, ultrapassa a importância que a nossa arte agrega e vai além, transcrevendo para o espectador alguns momentos cruciais para entender onde chegamos hoje, enquanto nação e enquanto consumidor de cinema.

É muito difícil, eu diria quase impossível, não adentrar o fluxo de consciência de alguém que nos deu O Assalto ao Trem Pagador, Selva Trágica (um filme que precisa de resgate urgente!) e Pra Frente, Brasil!, e não enxergar acontecimentos recentes, nossa História sendo reescrita pelos mesmos erros. Dessa maneira, Roberto Farias: Memórias de um Cineasta acontece em duas frentes, a que está sendo apresentada no campo das imagens e ideias, e a que a nossa própria construção elabora. Das duas formas, existem conversações ricas de elaboração, quando o diretor emplaca uma configuração de ideias, e quando nossa conexão com o contemporâneo nos aproxima de uma outra reflexão.

Roberto Farias: Memórias de um Cineasta explora os muitos lados de um homem

Existe um diálogo pertinente que aponta para vários realizadores de hoje quando Farias declara que sua independência passava pela certeza de não querer se repetir. Partindo de um título dentro da chanchada tradicional (Rico Ri à Toa), o diretor fez questão de não procurar em si mesmo uma resposta para suas questões e demandas. Quando o texto de seu diário, lido por seu irmão Reginaldo, encontra questões mais psicológicas, e o personagem ainda na infância se questiona a respeito do EU. A partir daí, podemos ir livres rumo a indagações comuns ao artista – é que Roberto Farias: Memórias de um Cineasta se vê livre para explorar os muitos lados de um homem que era bem mais complexo do que a maneira leve como se apresentava.

A direção e a montagem de Marise (na segunda função, acompanhada de Paulo Henrique Fontenelle) exprimem muito bem a conexão entre esses laços: o homem, o pai, o cineasta, o profissional que viria a presidir a Embrafilme, estão todos conectados no que ela narra, no que ele verbaliza, no que o diário conta. É um amálgama do que de melhor poderia traduzir Farias, seus anseios, seus medos, suas inquietações, tudo exposto e completado pelas melhores imagens de suas obras. Lamentamos juntos a ele com o fracasso de Selva Trágica, vibramos junto ao sucesso e à energia de sua ligação com Roberto Carlos, sentimos sua falta como gestor do cinema brasileiro.

Roberto Farias: Memórias de um Cineasta nos lembra que, 60 anos depois do lançamento de O Assalto ao Trem Pagador, a situação de um ator negro mudou pouco, infelizmente, mas ali naquele momento era praticamente inédita, no que concerne o protagonismo dramático. Esse é um dos momentos onde o hoje ecoa forte no filme, assim como quando acompanha seus anos na direção da Embrafilme. Aliás, foi Farias quem instituiu a cota de tela que tanto está fazendo falta atualmente, e foi durante a sua frente que o país colecionou seu momento mais rentável, com um cineasta à frente que pensava justamente na diversidade de gêneros, de estilos e de propostas.

Através de sua fala, e do encerramento do filme, percebemos que o nosso cinema é como nosso país, em uma eterna luta para vencer a montanha russa em que não consegue sair. Além disso, Roberto Farias: Memórias de um Cineasta, que poderia ser apenas uma grande homenagem a um dos nossos maiores diretores, acaba também revelando a grandeza de uma figura à frente de seu tempo, sua amor desmedido pelo trabalho, e a forma detalhada de como o seu talento foi herdado pelos seus filhos.

Mais do que um documentário biográfico, estamos diante de um reflexo do Brasil que é indomável em sua arte, mas que sempre precisa se reconectar com o que perdeu. É por isso que um filme como esse é tão fundamental em 2023, para que enxerguemos que somos sim os melhores no que fazemos e que podemos sim retomar as bilheterias pelo braço. O futuro do nosso cinema será mais uma vez imenso, exatamente como Farias inspirou.

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
3.870 Seguidores
Seguir
- Publicidade -