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A Maldição do Queen Mary é uma tentativa de se descolar dos clichês

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Novo longa de terror da Diamond Films, A Maldição do Queen Mary nos prepara para algo já visto, embora já encontremos ali ao menos um ponto fora da curva: hoje, o cinema de horror teve que se contentar com uma versão mais, digamos, higiênica de outrora. Logo na sequência de abertura, alguns bons litros de sangue a mais dão as caras, e fica claro como suas intenções são mais maduras. Produções que tradicionalmente trouxeram ao mercado grandes receitas, o terror se ressentia há alguns bons anos de uma abordagem mais crua a respeito do que é oferecido ao espectador. Víamos um sem número de títulos interessados no corte e na classificação indicativa do que em suprir uma carência de anos.

Gary Shore é o nome por trás do projeto, um cineasta irlandês de 42 anos com uma experiência nada memorável anteriormente, Drácula: A História Nunca Contada. Apesar de tratar-se de uma nova chance a alguém que não correspondeu, Shore desafia as convenções ao oferecer para o público um filme que sente prazer em ser estranho. A Maldição do Queen Mary passeia bem por uma cinematografia europeia de gênero, muito menos conectada a ação, mas sim a uma dose narrativa de alto impacto visual. Além disso, sua ambientação dúbia convida quem o assiste a uma jornada rumo a elementos da psique humana que tornam as áreas psicológicas do título cada vez mais abstratas.

A Maldição do Queen Mary

Ao contrário de grande parte do que é produzido hoje, A Maldição do Queen Mary não tem medo de confiar no poder de compreensão do espectador. Na tela, nada é de fácil acesso, são tomados caminhos que nos deixam cada vez mais à deriva da ordem dos acontecimentos. Ao contrário do que se pode imaginar, a quantidade de charme empregado em sua atmosfera promove o título a uma busca ainda mais enredada sobre o que é visto. Shore cria um compêndio de tensão crescente em uma produção que não se prometia nada, mas que é visto passa longe de ser visto como casual. O que ele propõe é mais do que uma investigação policial, mas o enredamento de sua estrutura em torno de mosaico, que vai sendo completo a cada nova camada apresentada.

Existem três tempos de cena, o passado, o presente e o lugar estabelecido a partir de um desencontro entre essas duas realidades. O que o roteiro escrito a seis mãos tenta compreender vai além de uma junção entre esses ambientes singulares e suas resoluções, mas o que cada um desses momentos representa de maneira unitária. Seus conflitos, ainda que sejam refletidos, tem textura particular e se montam de maneira não usual, porque tendem confundir o espectador da mesma maneira que apresentam mais e mais camadas. Não é um jogo fácil, mas a recompensa existe dentro de um lugar que abandona a repetição em nome de uma narrativa elíptica que se abre completamente ao horror.

O que Shore faz em A Maldição do Queen Mary definitivamente não é novo, aliás, qualquer cineasta de beira de estrada consegue realizar um filme cheio de falsas sensações de estranheza que estejam colocadas em cena para confundir o público com uma falsa ideia de qualidade. Sem tentar se aproximar de um gênio como David Lynch, o que vemos aqui é um quadro que poderia se assemelhar a um neoclássico como Triângulo do Medo. Com um acertado crescendo de angústia, a produção amplia nossa impressão de adentrar um lugar absolutamente desconhecido e não conseguir prever os próximos passos. O cinema de gênero, independente da eficiência, não consegue acertar sempre na intenção de nos fazer sentir faltar o chão, um clima que aqui não falta.

Como os mais interessantes (ou mesmo melhores) títulos do gênero, A Maldição do Queen Mary é um espetáculo de apreciação de seu realizador e do que ele cria, diretamente. Gary Shore, um profissional com poucas produções no currículo (e repleto de títulos questionáveis), enfim desabrocha para um espetáculo incomum, que prevejo não será reconhecido tão fácil, ou rapidamente. Prevejo uma saraivada de indignações, mas talvez esse seja o caminho da ousadia mesmo, dentro de uma seara geralmente afeita à reproduções de normas passadas. O que vemos aqui é uma tentativa de se descolar de convenções e clichês, com personas diferentes, com tempos narrativos distintos, e um resultado que se sobressaia ao lugar comum.

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