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“A Vedete do Brasil” traz leveza em tom de uma viagem saudosista

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Peça em homenagem ao centenário de Virginia Lane ganha os palcos.

Adversativa, como todo bom código de conflito, a frase “Sempre tinha um, mas…” está virando, sob a ação do Zeitgeist (espírito do tempo) do século XXI, um tipo de desabafo fetiche do teatro nacional, já ouvido em “Judy – O Arco-íris É Aqui”, de Flávio Marinho, e escutado novamente, nos palcos, no doce “A Vedete Do Brasil – Um Musical Brasileiro”, idealizado por Cacau Hygino e escrito por ela em dupla com Renata Mizrahi. Um “contudo” é o sinal de alerta para as mazelas de Virginia Lane (1920-2014), estrela do Teatro de Revista (da TV e do Cinema), numa narrativa biográfica que se apoia em fatos e experimentações lúdicas, com a plena direção de Cláudia Netto, pautada pela leveza, num clima de acolhimento.

Suely Franco (num banho de sabedoria) e uma Bela Quadros em estado de graça dividem para si a construção da protagonista em fases distintas numa estrutura dramatúrgica natalina. Longe dos holofotes, com os alarmes da finitude ligados, Virginia está vivendo em Piraí (RJ) e prepara uma ceia de Natal. É uma ceia regada a bolinhos de bacalhau e outras iguarias na companhia de sua filha, Marta, papel que Flávia Monteiro desenvolve com delicadeza. A atriz faz ainda uma hilária participação no papel de uma beata que, na mocidade de Lane, vai informa-la de que um padre se recusou a celebrar seu casório.

Esse é um dos episódios que a peça revisita para criar um possante painel de época (e também do presente) sobre o moralismo da chamada “família brasileira”, que disfarçou o sexismo desta pátria historicamente. Aliás, essa situação é um dos momentos no qual o tal “mas” do início deste texto se fez doer na vida de Virginia, que nos é relatada a partir de um circuito de peripécias bem arejado por músicas, sobretudo deliciosas machinhas.

Com a grife Alfredo Del-Penho em sua direção musical, “A Vedete do Brasil” escala três bambas da melodia para acompanhar suas estrelas: Antonio Guerra (no piano e acordeão); Rodrigo Revelles (flauta, sax, tenor e sax alto) e Marcio Romano (bateria e percussão). No canto das atrizes e no trabalho instrumental desse trio ouvimos “Sassaricando” (gravada pela primeira vez por Virginia, em 1951); “Barracão” (da chanchada “É Fogo na Roupa”), “Ninguém me Controla” e a pícara “Marcha da Pipoca”.

Certamente uma jukebox saudosista, a peça intercala essas canções entre idas e vindas no passado, a fim de nos mostrar como Virginia virou um fenômeno de popularidade, fisgando o miocárdio do então presidente Getúlio Vargas, com quem afirmava ter mantido um relacionamento por mais de dez anos. Somos levados a inda por uma jornada de pelejas da vedete das vedetes contra a patrulha ideológica que a destrava por juízos morais. Além disso, essa jukebox se torna visualmente vívida no desenho de luz de Adriana Ortiz, que valoriza a apolínea cenografia de Natália Lana, detalhista na medida certa, sem excessos. O mesmo perfil de elegância se faz notar no figurino de Karen Brusttolin.

Para o gáudio da nossa nação teatral, “A Vedete Do Brasil – Um Musical Brasileiro” fica até 2024 . Confira o serviço completo da peça! Todo mundo tem direito a um refresco e, em 2024, o show dessa trupe recomeça.

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