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A Sociedade de Neve: Juan Antonio Bayona aborda história real com sobriedade

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A tragédia nos Andes volta a ser contada, em A Sociedade de Neve, produção original Netflix.

Há pouco mais de dez anos, o cineasta espanhol Juan Antonio Bayona lançou um filme que o catapultou em Hollywood. Falado em inglês e com astros de língua inglesa, a produção espanhola fez sucesso no mundo todo e chegou ao Oscar na tímida indicação de Naomi Watts. O filme se chamava O Impossível e assumo que fiz vergonha na cabine de imprensa, onde chorei quase ininterruptamente (e isso se repete cada vez que revejo o filme). Corta para 2023 e J.A. Bayona (como assina), como quem não quer nada, volta a investir no espetáculo catástrofe, e meio que refilma aquela história, sendo que são duas histórias reais diferentes e independentes. Ficou confuso? Pois essa semana estreia A Sociedade da Neve na Netflix, e ao assistir (e analisar) as semelhanças vêm à luz.

A Sociedade de Neve

Teriam então essas narrativas sobre grandes tragédias envolvendo o Homem e a Natureza plots e desenvolvimento parecidos, ou o diretor é que amarrou seus roteiros em um mesmo quadrado? Creio que não, haja muito para onde fugir nesse quadro, além de se tratarem de histórias reais documentadas pela imprensa e por obras literárias, em que o tal do triunfo do espírito humano precise vir à tona e mostrar sua potencialidade narrativa. Mas a verdade é que a família sobrevivente a um tsunami na Tailândia e o grupo de estudantes jogadores de rúgbi que se acidentou nas montanhas congeladas dos Andes tem suas semelhanças. E, aliás, Bayona consegue aproveitar mais uma vez de maneira, surpreendentemente, visual e estonteante. E funciona!

Já tendo apresentado o campo de semelhanças, vamos ao que torna A Sociedade de Neve uma experiência apartada da tragédia anterior que Bayona filmou. Embora seja uma situação aqui de impacto emocional inegável, seu novo filme tira o peso da dramaticidade excessiva para mostrar uma respeitosa homenagem às vítimas do acidente célebre. Entre outubro e dezembro de 1972, os 29 sobreviventes da queda de um voo repleto de jovens indo do Uruguai ao Chile precisam lutar contra temperaturas indescritíveis, a fome crescente e a perda de esperanças de um resgate. O que poderia ser alicerçado em torno de um clima lacrimogêneo constante, é tratado com a sobriedade de quem esqueceu o tom aplicado em O Impossível, em cena, o horror e a uma sensação de crescente melancolia e desesperança paira em torno de personagens que não sabem mais como lutar pela vida.

Existe um rigor em torno da ambientação, de sua aparência assustadoramente branca, que remove o horror trágico do que acostumamos a ver (mal há sangue em cena) para uma paleta geralmente associada à paz. Em determinado momento, começamos a associar o excesso de brancura total para onde se olha, em uma construção imagética de filme de terror, onde não há saída para seu estado. A Sociedade da Neve, assim como Godzilla Minus One, encapsula a beleza estética dentro de um estado de absoluto desconsolo, uma tragédia que não se encerra em si e continua reverberando por meses a fio. O filme, certamente, cria esse paralelo entre o que o olhar registra de belo, e o que verdadeiramente está sendo mostrado por trás dessa paisagem única: não há chance de sobrevivência.

Além disso, A Sociedade na Neve tem um trabalho de elenco em conjunto muito eficiente, onde o corpo orquestral do todo é o grande foco, sem elevar a participação de algum ator. Desse modo, cada perda é sentida como se a produção um protagonista a cada 5 minutos, e dando igual valor aos que conseguem milagrosamente sair de lá, e os que não resistiram aos 71 dias no inferno congelado. O filme, ao contrário da versão americana de 1993 (Vivos), trata das ações dos sobreviventes e da decisão do que se alimentar, com igual sobriedade e de maneira respeitosa a todas as opiniões que se formam. Ainda que seja um caso famoso, creio que o leitor não precisa encontrar detalhes na análise a respeito da radicalidade a que se chega, o filme nunca busca encontrar culpados entre quem os fez.

Fato é, a produção é uma das maiores produções do streaming na temporada e chegará com força às categorias técnicas do Oscar, mas um aspecto específico chama a atenção pelo seu equilíbrio. Michael Giacchino é um dos melhores compositores em atividade no cinema, e recebeu um Oscar pela animação Up, em 2010. Pois o que compõe para a produção de Bayona é especial por saber os momentos onde crescer, e onde ser mínima, mantendo o tom da emoção e da tensão em espaços muito bem desenvolvidos pela banda sonora do filme como um todo. É um trabalho que sublinha com delicadeza uma história que, muito mais do que melodramática, se situa em um ponto específico da humanidade, onde precisamos fazer escolhas terríveis dentro de uma situação igualmente terrível, tendo a vida como o foco principal.

O filme será exibido em cinemas selecionados em dezembro e estreará dia 4 de janeiro, só na Netflix.

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