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Chama a Bebel reverbera as correntes de boas ações

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Primeira produção nacional a entrar em cartaz em 2024, Chama a Bebel tem um trunfo inegável em suas mãos: Giulia Benite. A estrela revelada para dar vida à icônica criação de Maurício de Souza já não é mais a Mônica, mas continua mostrando que merece mais do que ficar marcada por um personagem. Ainda que os valores impressos aqui não sejam muito diferentes dos que Daniel Rezende quis imprimir em sua dupla de campeões de bilheteria, a jovem atriz se mostra mais uma vez capaz de capitanear um elenco à sua altura. É do encontro entre seu elenco que o novo filme do veterano Paulo Nascimento acaba se mostrando mais do que seu projeto validaria, a princípio.

Estamos falando de um título cheio de causas humanitárias importantes, e um senso de responsabilidade narrativa que chama atenção. Não porque “os jovens de hoje deveriam seguir os passos de Bebel”, mas porque, como os letreiros finais mostram, ao contrário do que as páginas policiais sugerem, existe sim muita gente empregando causas sociais em suas rotinas hoje. É dessa forma que Chama a Bebel escapa de ser somente mais um panfleto de conscientização e projeto de mudança em larga escala. É isso também, mas como as ações já estão no ar, ao filme cabe reverberar essas correntes de boas ações e difundir a palavra de uma geração que não suporta cigarro, que respeita os animais, que pensa no futuro, e isso tudo de maneira consciente, sem forçar.

Cinematograficamente falando, Chama a Bebel não é muito diferente da obra pregressa de Nascimento, um cineasta com muitos anos de estrada, com vícios de linguagem que impedem suas obras de estarem em outros andares. Lembro de uma reclamação recorrente ao cinema de Zack Snyder, onde o ‘slow motion’ parece dominar grande parte das cenas, e a brincadeira de que na rotação natural, seus títulos perderiam a metade da duração. Aqui, essa situação é recorrente, e fico ausente de compreensão da escolha por manter o recurso por tantas vezes, e uma vez mais, e de novo… a sensação de suspense que isso poderia causar, é desgastada muito rapidamente, justamente pelo excesso de uso. Usar a linguagem até no clímax do filme, que deveria ser ágil?

Também faz falta uma edição que compreenda o ritmo de maneira adequada. Não raro, Chama a Bebel se cerca de ‘tempos mortos’ de fim de diálogo, onde os atores ficam na expectativa da próxima deixa. Uma ou duas vezes poderia ser aceitável, mas o filme é quase na totalidade organizado dessa forma, o que mostra que não é do elenco esse problema. Apesar da duração curta (são apenas 90 minutos de arte), fica a constante sensação de que, certamente, o material que estamos vendo está condensado de maneira desigual, onde muitos eventos acontecem em pouco tempo de história, e no momento seguinte uma elipse estranha avança a narrativa em meses. Essa não é uma novidade na obra de Nascimento, infelizmente.

Chama a Bebel

A despeito dessas limitações narrativas, Chama a Bebel enche os olhos – e, de alguma maneira, ainda assim se comunica com o cinema jovem produzido no Brasil hoje. Ecos tanto de Alice Junior quanto de Valentina são facilmente percebidos, o que mostra uma aposta refrescante da produção, que é esmerada. A direção de arte é colorida e vibrante, os figurinos do filme são também um bom acerto, e, particularmente, gosto do uso comedido da trilha sonora;, mais particularmente ainda, tenho um carinho pela dupla AnaVitória, e se elas são entoadas, sinto de imediato uma conexão com o que é mostrado. É, surpreendentemente, um pacote que funciona enquanto material audiovisual, literalmente, e merece encontrar lugar entre as promessas de sucesso.

A cereja do bolo é o elenco adulto, que inclui a lembrança de Larissa Maciel fora de uma zona de atuação, além disso, um encontro feliz com José Rubens Chachá, e acima de tudo, Flávia Garrafa. Atriz experiente que é, Garrafa tinha consciência do lugar onde estava inserida, a da ‘madrasta da Branca de Neve’, e deita e rola de maneira muito segura. É uma delícia assistir seus solos muito arriscados, que nunca caem para um estereótipo mas seguem à margem dele, o que mostra seu potencial como exímia equilibrista. Da ala jovem, destaque para Antônio Zeni e para o amadurecimento de Pedro Henriques Motta, oriundo dos Detetives do Prédio Azul.

Acima de tudo, Chama a Bebel nos faz identificarmos com sua protagonista, e em como lidamos com o que, aparentemente, não nos interessa ou importa menos. Será que as preocupações do outro realmente deveriam nos importar tanto? Sem redenção para os vilões, o filme ainda tem esse olhar sobre os ‘paus que nasceram tortos’; se você não consegue mudar para melhor, ao menos mude-se da vista de quem deseja diferente.

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