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Charlotte Rampling interpreta uma ex-correspondente de guerra

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Podemos dizer que essa é uma semana de performances femininas grandiosas nos cinemas. Teremos o embate de primeira grandeza entre Anne Hathaway e Jessica Chastain em Instinto Materno, uma das melhores atrizes francesas da atualidade, Virginie Efira, em cartaz em Tudo ou Nada, e temos a lembrança nunca descartável do quão Charlotte Rampling é uma atriz que foi pouco valorizada em sua carreira, aqui em A Matriarca. Título que teria tudo para ser menor, por sua abordagem convencional e por seu desenvolvimento esperado de um tema que vem se repetindo nos últimos anos. O filme de Matthew J. Saville (ou melhor, suas memórias pessoais) sobrevive com vigor graças a mais uma monumental criação da atriz, tardiamente indicada ao Oscar por 45 Anos – merecia ter levado.

Não há porque enganar o espectador/leitor. Ao contrário dos outros filmes citados no parágrafo anterior, A Matriarca tem na performance de Charlotte Rampling o único motivo para ser assistido. Sua ideia, apesar da veracidade dos elementos que envolvem a vida do diretor, não tem qualquer novidade mínima, na apresentação, no desenvolvimento, na conclusão, certamente, já vimos todas as curvas apresentadas aqui. O que nos coloca na frente da cadeira e não nos arranca de lá antes da cena final é um desses casos raros onde uma profissional é tão absolutamente dona de cada elemento dramático (e também emocional, cênico, sensorial…), que tal captura feita por ela à nossa atenção é impossível de dissolver.

Narrativamente, estamos diante dessa mulher que é praticamente dona de sua família. A situação é preocupante mesmo: o dinheiro acabou, e apenas dela virá as provisões para os próximos anos. Dito isso, pai e filho (ou melhor, filho e neto) estão obrigados a cuidar dela quando a mesma se acidenta e se impossibilita de andar sem ajuda de terceiros. Apesar da tarefa conjunta, Ruth é abandonada junto ao neto, que tem personalidade tão irascível quanto a dela, e ambos terão de se conhecer, se aturar e aprender um com o outro, durante um período afastado no campo. Essa é a linha de roteiro de A Matriarca, que podemos ver, não há nada que já não tenha sido testado e aprovado anteriormente, como já dito, o brilho vem quase exclusivamente de sua protagonista.

É um daqueles casos onde não apenas a presença de alguém ocupa os espaços, como principalmente a ausência. Enquanto Charlotte Rampling não entra em cena, A Matriarca é de uma forma; depois que ela se apossa do personagem, passa a ser outra. E uma terceira façanha é o estado das coisas enquanto ela existe e o filme não mostra, tão pesaroso quanto. Não que estejamos falando de um elenco ruim, muito pelo contrário: Marton Csokas é um belo ator, e o jovem George Ferrier segura bem as cenas com sua avó na ficção, assim como Edith Poor, no papel da enfermeira. O problema não está no elenco, mas na ausência de propósito do filme, que gira em torno de sua estrela e que bem que a tem; um atriz menor, o filme seria ainda mais vazio.

A Matriarca

Com ela em cena, A Matriarca segue sendo um filme muito trivial, porém com uma presença fulgurante em cena. No futuro, se justiça houvesse, o filme poderia ser utilizado como exemplo de luminosidade cênica, provocado por um único polo. Creio que mesmo o espectador tradicional desse tipo de filme, aquele que busca nos cinemas de arte um alento para os blockbusters explosivos, mesmo esse terá a percepção do que acabou de assistir – um passatempo desprovido de charme particular. Seu roteiro, que emula tantas outras situações já vistas antes, é mais um trabalho que provavelmente exerce uma força em seu autor, porque são eventos que ocorreram ao seu redor, mas que isso não o torna justificado.

Toda a empatia que nasce dessa relação tradicional do cinema, a pessoa mais velha e meio ranzinza, que ensina e aprende, a se moldar e olhar para o diferente, e também muda quem está à sua volta, é suficiente para uma ida até a sessão mais próxima? Provavelmente não. Nos dias de hoje, algo com a narrativa de A Matriarca é pouco, em tempos de tantas opções de lazer, incluindo audiovisual. O que nos motiva a ir até a sala escura, nesse caso, é compreender o magnetismo dessa atriz imensa, que acaba de completar 78 anos e parece ainda ter tanto a dizer. Mesmo quando o veículo não está à altura do seu talento, ela o molda para si e nos conquista, mais uma vez.

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