- Publicidade -

No Submundo de Moscou faz homenagem flagrante à Arte

Publicado em:

Se tem alguma palavra que pudesse resumir a sessão de No Submundo de Moscou, ela seria fascínio! Ao adentrar o universo teatral russo, e encontrar figuras como Stanislavski e Tchekhov, além do notável escritor Guilyarovsky, a produção, que estreia nos cinemas essa semana, é uma porta aberta para muitas formas de arte. É como se a literatura, o teatro e cinema se unissem para contar uma história para promover entretenimento de qualidade, e a certeza de que precisamos de cultura sempre. Ao fim da experiência, certamente, não será estranho perceber que saímos ainda mais engrandecidos, com nossa bagagem ainda mais alimentada.

Dirigido por Karen Shakhnazarov, o filme partiu dos escritos verdadeiros de Guilyarovsky, que apontaram a veracidade de parte dos eventos descritos aqui, com a união de ‘O Signo dos Quatro’, um dos romances de Arthur Conan Doyle, o segundo romance policial protagonizado por Sherlock Holmes. Com muita sagacidade, o roteiro escrito a seis mãos conecta muito bem seus personagens, um humor russo raro de ser percebido, e essa homenagem flagrante à Arte como um todo, sem criar um altar para tanto. São ideias muito bem alavancadas, que fica difícil perceber onde começa um tema e termina o outro, nesse sentido, o roteiro de No Submundo de Moscou é de uma concisão impecável.

São muito felizes as reconstituições de uma Moscou de mais de 100 anos atrás, e tudo que é apresentado ao espectador através do filme nos faz mergulhar em uma situação híbrida. Existe o universo do teatro, seus cenários e seus moldes que transformam tudo em recorte alegórico da vida, e existe a área mais perigosa da cidade, onde os personagens vão iniciar suas investigações. Na tentativa de encontrar a verdade e a pureza em seu trabalho, Stanislavski se vê envolto à uma caça ao tesouro, que deixará muitos mortos e mais ainda uma considerável fonte de perguntas. Da união entre essas duas formas de apresentação cenográfica, entre o real e o imaginário, No Submundo de Moscou eleva suas proporções.

Aos poucos, o que era inebriante a partir de suas escolhas estéticas, vai também encantando o público com o encontro com tais personagens reais que são marcos da dramaturgia, e de como são definidores os tratados dramáticos a partir dessas figuras. É um encontro que engrandece não apenas a narrativa de No Submundo de Moscou, como também cria uma forma de comunicação com um público que tem pouco interesse em autores clássicos, ou a métodos históricos, de poder adentrar nesses acertos. Aliás, o diálogo sobre ‘O Jardim das Cerejeiras’, sabendo que essa seria a última montagem de Tchekhov, é um ponto de delicadeza com personagens seminais da Arte, como a conhecemos hoje.

Da união entre esses lados, algo que deveria ser fantasioso por sua ligação com o teatro, uma abordagem cheia de camadas do que seriam os menos favorecidos, e uma investigação policial absurda, nasce essa abordagem narrativa bastante vivaz. É como se estivéssemos sendo apresentados a um grupo de coisas, onde pelo menos a metade delas não foi feita para conversar, e magicamente o sentido é apresentado ali. Isso é o talento de Shakhnazarov em contar essa história, embalar seus personagens em um momento de igual encontro, e oferecer ao público como um projeto de força. Tudo isso nos convence, o tempo todo, sobre a grandeza do que vemos, e de como todos ali estão fazendo o melhor coletivamente.

A sensação presenciada durante toda a sessão é a de que há muito prazer entre todos os envolvidos no projeto, e isso contagia não só seus próprios trabalhos, como quem assiste. Com a única ressalva de que a montagem poderia ter sido ainda mais enxuta, é como estar diante de uma celebração coletiva, onde o interesse de todos é externalizar esse belo momento, que é o do encontro entre polos artísticos que nem sempre conseguem comunicação tão assertiva. É, surpreendentemente, um momento raro, o de uma estreia russa como um todo, precisamente uma que conseguiu tantos acertos, tanto na interação com o público, quanto na utilização da leveza para o que estava propondo, finalizando em um projeto que merece ser visto.

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
3.870 Seguidores
Seguir
- Publicidade -