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O Homem dos Sonhos aborda a “cultura do cancelamento”

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Para o filósofo francês Michel Foucault, ser visto é ser julgado. O século XXI está sendo pautado pelas redes sociais que apresentaram uma nova versão da visibilidade, ainda mais, elas criaram uma hipervisibilidade. Em O Homem dos Sonhos, o professor universitário Paul Matthews (Nicolas Cage) é um homem totalmente medíocre. Bom professor, bom marido e pai, relativamente engraçado, mas sem nada excepcional, até que ele começa a aparecer nos sonhos das pessoas. De um zé-ninguém, Paul se transforma na pessoa mais conhecida do mundo, com as belezas e os horrores em que tudo isso está envolvido.

Classificado como um filme de comédia, o filme se encaixa muito mais na zona da comédia que te faz rir de nervoso. O roteiro escrito pelo diretor Kristoffer Borgli escalona as situações até elas chegarem a um estado de pura angústia. Existe uma camada de horror muito bem inserida em todo o roteiro da obra que acrescenta uma complexidade que prende a atenção. A questão central que o filme aborda é usar os sonhos como uma alegoria para a hipervisibilidade. A direção até muda quando Nicolas Cage está em tela, fazendo com que a visibilidade seja aumentada quando o personagem está em cena.

Mas o único lugar realmente ainda invisível seria o mundo dos sonhos, aonde o personagem de Nicolas Cage tem uma jornada idêntica a qualquer grande influenciador. O momento de glória em que a fama muda a vida dele prometendo riqueza e prestígio, depois do cancelamento e quando Paul reclama que existe muito “mimimi” e retorna a uma visibilidade relativa que permite que ele tenha uma vida minimamente normal. Existe, sim, uma crítica a atual “cultura do cancelamento” quando Paul é crucificado por algo que ele não tem controle nenhum.

O elenco é muito diverso, com vários rostos que são relativamente conhecidos, como Julianne Nicholson, Tim Meadows e Michael Cera. Contudo, ainda que o elenco como um todo seja bom, todo o foco recai sobre Nicolas Cage. É muito difícil imaginar outro ator que consiga interpretar um personagem tão caricato, ao mesmo tempo levando a sério e entregando uma carga dramática fácil de relacionar com casos do dia a dia de qualquer pessoa que acompanha as fofocas da internet. A maquiagem conseguiu transformar Cage em um homem realmente comum, e a atuação traz trejeitos que são signos para dizer que ele é uma figura medíocre.

Aliás, é possível resumir O Homem dos Sonhos em uma palavra: estranho. Mas é um estranho positivo, um estranho que entretém à medida que é desconfortável. Logo que acaba fica no ar dúvidas sobre o que o filme trata que são respondidas no momento em que pegamos o celular e vemos alguém se retratando no Instagram por ter sido cancelado. E assim retornamos ao pensamento de Foucault onde ser visto é ser julgado, e portanto passivo de punição.

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