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Evidências do Amor uma alegoria romântica com pé na ficção científica

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Chega um ponto de Evidências do Amor onde não estamos mais assistindo um filme, mas mergulhados profundamente no que estamos presenciando. Cabe ao crítico se desgarrar do processo analítico para se envolver tão profundamente com o que está sendo contado? Ora, críticos de cinema também são seres humanos, que acordam, almoçam, tomam banho, se apaixonam e sofrem por amor (e são felizes também). E também tem dúvidas sobre o que fizeram, de certo ou errado. Pronto, era desse jeito que eu me sentia bem antes da metade do novo filme de Pedro Antônio, que deve ser hoje um dos melhores profissionais da sua área no cinema brasileiro. E o que é melhor, ele não é infalível.

 Evidências do Amor

Esse projeto de perfeição não deveria ser balizador de realizador nenhum, e a essa aposta na humanidade, Antônio responde com profunda humildade. Não só de Tô Ryka! e Altas Expectativas é feita sua filmografia, mas quando ele está em seu melhor, algo como Evidências de Amor é capaz de surgir. Também um dos autores do roteiro do filme, ele consegue injetar jovialidade e contemporaneidade ao que constrói, e aqui não é diferente. no filme, Marco e Laura são duas pessoas possíveis, como qualquer um de nós, e ambos habitam um mundo igualmente crível, onde os erros nem sempre são percebidos de cara; às vezes, o tempo passa e nunca é. São tais pedacinhos de verdade que estão dispostos na produção, e que torna tudo tão palpável.

A comédia romântica está de volta com a corda toda, vide o sucesso de Todos Menos Você, a maior bilheteria de um filme lançado em 2024 no Brasil. Nesse sentido, é muito provável que alguém corra aos cinemas motivado a conhecer essa nossa produção, inspirada pelo nosso hino não oficial, cantado por Chitãozinho e Xororó. A música nada mais é do que uma motivadora para a alegoria romântica que não tem medo de mordiscar a ficção científica: e se o fim do relacionamento que você julgava perfeito, e do qual você não se recuperou mesmo um ano depois do fim, voltasse a te atormentar toda vez que você ouvisse sua música tema? Se esse é o ponto de partida de Evidências do Amor, não podemos deixar de nos enxergar no que está na superfície da narrativa.

Apesar de escrito a quatro mãos (Antônio, Luanna Guimarães, Álvaro Campos e o protagonista, Fábio Porchat), há muita coesão no que está sendo dito, sentido e mostrado. São situações de fácil identificação com o espectador, porque todos nós já nos esquecemos das besteiras que fizemos, e todos nós já alimentamos, escondidos, uma paixão encerrada. Além disso, o filme não vende uma aura irreal da vida comum – Marco não esqueceu Laura, nós sabemos disso, mas sua vida seguiu. A passagem de um ano do filme não mostra um protagonista deprimido, com olheiras e sem querer sair de casa (o máximo do clichê cinematográfico), o personagem trabalha, tem amigos, é uma figura ativa no mundo e, apesar de tudo, se sente só, como todos nós já estivemos.

Além do envolvimento emocional que o filme estabelece com o espectador, ele não o faz com economia de criatividade ou de mão de obra qualificada. Evidências do Amor é fotografado por Pedro Faerstein, o mesmo de Benzinho e Esse Amor que Nos Consome, e musicado por Daniel Simitan, de Marte Um. Isso mostra um interesse da produção de não apenas entregar um material de comunicação direta, mas que essa interconexão seja estabelecida com os melhores recursos. E isso está com clareza na tela, na forma como seus elementos agregam uns aos outros, e promovem um filme que, assim como Entre Abelhas, quer colocar Porchat em outra prateleira dramática.

Seu envolvimento com o personagem é sólido de tal forma, que o estranhamento de vê-lo viver um romance com a Sandy é suprimido depressa. Ambos demonstram suas vibrações verdadeiras para o que estão expondo, minúcias que carregam suas interpretações para esse mesmo quadro de normatividade apontada no resto da produção. É na química particular entre eles e na intenção que ambos dedicam ao filme, que Evidências do Amor nos captura de maneira irrevogável. É, certamente, um daqueles casos onde não conseguimos acreditar na quantidade de acertos, que parecem demonstrar um naturalismo de tudo que foi tentado. O esforço coletivo por trás de um filme de aparência simples, coração enorme e ânsia de comunicação tão profunda salta aos olhos. Ao espectador, movido por tudo que vê, só resta baixar a guarda para tamanha singeleza.

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