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Guerra Civil: Alex Garland demonstra maturidade nas imagens de conflito

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Não sei dizer se o que mais impressiona em um filme onde muitas coisas impressionam, mas em determinado momento, percebemos que a fisicalidade com que as imagens de Guerra Civil são capturadas não são apenas recorrentes, elas fazem parte da construção imagética da produção. Ao elaborar esse pensamento, estou falando particularmente, de maneira literal que os corpos importam muito no que está sendo contado aqui. A câmera não está somente colada na ação dos eventos, como simula uma atmosfera a alguns palmos do espectador. Isso não os aproxima do que está sendo contado, mas acima de tudo tenta tirar do cinema a importância do olhar para reintegrar outros sentidos à obra.

Guerra Civil
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Esse é o novo filme de Alex Garland, um dos diretores mais interessantes da contemporaneidade. Digo isso porque ele sempre tem o que dizer, e sua forma de propagar sua visão sobre os temas que escolhe demonstram a maturidade que alguns veteranos não têm. Aliás, o vencedor do Oscar, é diretor de Ex-Machina, o surpreendente Aniquilação e um escorregão chamado Men fazem parte da sua filmografia.

Guerra Civil é mais uma investida do cineasta por um mundo prestes a acontecer, uma de suas assinaturas, como se continuamente tentasse visionar um cataclisma em cima de algo imaterial, mas que serve fácil para definir rumos sociais.

Garland também convencionou a lidar com seus filmes de uma maneira análoga ao fazer cinema e transmitir isso dentro de seus roteiros. Em Guerra Civil, isso nunca foi tão frontal à narrativa, quando ele escolhe um grupo pequeno de fotojornalistas para desenvolver. Pessoas que capturam o máximo de temperatura nas imagens que produzem, tentam refletir imageticamente sobre a importância do plano para contar uma história, onde um registro único seja suficiente para a comunicação. O que o cineasta tenta é conduzir seu quarteto de protagonistas como se fossem um grupo de cineastas de diferentes idades, personalidades e aspirações, e assim inserir o cinema no campo da captura de imagens de conflito.

A inclinação da linguagem aqui é o que prova essa discussão acerca da metáfora por trás da narrativa concreta, porque é a imagem quem está essencialmente contando a história de Guerra Civil. Alguns apontaram algo como uma falta de ponto de partida (e de chegada) como um defeito para o roteiro de Garland, mas isso além de fazer parte do conjunto de imensas qualidades da produção, ainda costura essa afirmação sobre a valoração da imagem no filme. Não importa muito como surgem as guerras, qual a motivação delas e o motivo pelo qual elas terminam, a não ser para um livro de História. No cinema em geral e aqui em particular, a arte da imagem pode ter a liberdade para definir o propósito das coisas em cada nova curva.

Ao contrário de um filme pornográfico como Zona de Exclusão, Guerra Civil é bem mais explícito no que está sendo mostrado aqui, mas estabelece uma autoridade ao que está mostrando, que é compreendida por essa ação tátil. O trabalho de Rob Hardy na fotografia e de Caty Maxey no design de produção, além de toda a banda sonora do filme, são contribuições essenciais para que o filme de Garland não seja encarado como uma ideia exploratória, porque os elementos de cena não soam artificializados. Quase esbarrando na criação de uma assustadora beleza para as imagens crudelíssimas que vez por outra avançam na narrativa, é também a vida injetada pelos personagens que carrega o diferencial da produção, em um universo onde geralmente falta sensorialidade.

Com espetaculares interpretações de seu quarteto central, o filme mostra que a aposta em Cailee Spaeny (de Priscilla) é justa, que o veterano Stephen McKinley Henderson (de Duna) merece espaço muito maior do que lhe dão, que o nosso Wagner Moura está pronto para ocupar um espaço de destaque também no cinema estadunidense, e que Kirsten Dunst é mesmo uma das maiores da sua geração. Com uma tardia indicação ao Oscar por Ataque dos Cães, Dunst está no melhor momento de sua carreira, realizando tudo que lhe é fornecido com ferocidade. Sua fotógrafa deprimida aqui é uma bússola para os rumos que o filme precisa tomar. Juntos, esses quatro atores mostram porque Guerra Civil constrói uma bagagem emocional para tal desenvolvimento, e que também molda um dos fatores cruciais da produção, mostrando que Garland não está exclusivamente preocupado com a imagem.

Ou melhor, se a imagem é tão parte integrante do que Guerra Civil é, e consiste no seu maior ativo, é porque elas são compostas de seres humanos, os que são apresentados formalmente ao espectador e os que são apenas figuras humanas. Alex Garland mais uma vez enche de proporção estética seu filme, mas elas só são realçadas quando o complemento a elas é o fator humano. O amálgama entre as potencialidades fazem da produção algo que o cinema blockbuster tradicional da América do Norte não está acostumado. Vida longa – e sem aposentadoria – para seu autor.

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