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Licença para Enlouquecer: Uma comedia de desperdícios

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Escrito por duas das protagonistas (Mônica Carvalho e Michelle Muniz), o roteiro de Licença para Enlouquecer é o ponto de partida da produção, e que aproxima o diretor Hsu Chien ao projeto. Escrito a partir da experiência pandêmica da Covid-19, as atrizes junto a Marcelo Correa, enxergaram uma possibilidade, agora afastada dos eventos, de tentar encontrar alento dentro daquela tragédia que, somente no Brasil, dizimou mais de 700 mil pessoas. É um projeto pequeno, visivelmente uma ação entre amigos, que ainda assim surpreende no resultado, ainda que conte com uma quantidade maior do que deveria de frases clichês e situações típicas de títulos menores que se amontoam, impressiona tal arremate.

Chien está estreando seu sexto longa como titular, depois de um 2023 onde brilhou com Desapega!, a maior bilheteria de sua carreira e que ficou em oitavo lugar entre os nacionais do ano passado. Reconhecido como um dos maiores assistentes de direção do país, tendo passado por 70 produções diferentes, não sei o que poderia justificar o resultado apresentado em Licença para Enlouquecer. Acima de tudo, da subjetividade do humor e de como cada espectador é afetado por tipos de comédia, é difícil encontrar uma cena sequer onde a graça funcione. Não há timing para as piadas, que até não provocam nenhuma reação, mas que poderiam ser calibradas de maneira diferente, para que o embarque acontecesse em outra área.

As deficiências do roteiro poderiam ser resolvidas com humor físico, com um delineamento melhor das personagens, ou que tirassem deles todo o arsenal repetitivo já visto ao longo dos tempos. Ou se o corte da produção fosse mais seco e com desenho mais agudo, com o arranjo certo, Licença para Enlouquecer teria mais possibilidades de encontrar um lugar que não condicionasse o espectador ao desconforto. Existe, certamente, uma sensação constante de um carro desgovernado, onde todos fingem não perceber que a situação é bem mais grave do que se pode imaginar, o público que acompanha essa jornada coletiva tem a nítida impressão de que nada terminará bem.

O que mais assusta em Licença para Enlouquecer, acreditem, ainda não é isso. Como pode um cineasta com tantos anos de trabalho, acompanhando inúmeros processos de filmagem, e com trabalhos anteriores com elencos respeitáveis, olhar para o resultado alcançado e ainda assim não ver problema em lançá-lo. Sem mais rodeios, Licença para Enlouquecer não parece ter sido finalizado, essa parece uma versão crua, sem acabamento, sem retoques e sem polimento estético. Com exceção do que identificamos como um trabalho institucional para o município de Maragogi, esse sim é fotografado em todo esplendor e, sendo assim, o principal motivador para chegar ao término da produção.

Tirando o mar inacreditável do litoral norte alagoano, todo o resto não parece ter sido dirigido por um profissional com uma filmografia como a de Chien. Se alguém dissesse que o filme foi rodado no mês passado, e finalizado nas últimas 72 horas, não teria como duvidar. Licença para Enlouquecer independe da boa vontade dos envolvidos na frente da tela, porque a retaguarda parece constituída por um grupo muito aquém das capacidades de realização. Não há ritmo, não há senso de continuidade, muitas vezes não faz sentido. Atores como Nelson Freitas e Luiza Tomé estão desperdiçados, e particularmente envolvidos em uma trama pra lá de trágica que, além de tudo, transforma os 5 minutos finais do filme em algo de profundo mal gosto, mediante tudo que é tratado na produção.

As três protagonistas – as já citadas tem a companhia de Danielle Winits, que está em excelente momento em Os Farofeiros 2 – não podem ser culpabilizadas por seus desempenhos desencontrados dentro de suas próprias composições. O roteiro (ok, escrito por elas) não ajuda nenhum ator em cena, e a direção as deixa soltas sem aparente comando, e elas seguem tentando fazer o que podem dentro do quadro de abandono estético e imagético. Com três outros filmes já prontos, esperamos que Chien encontre em suas próximas empreitadas o empenho que ele apresenta como o renomado assistente que é.

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