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Às Vezes Quero Sumir: Rachel Lambert faz filme melancólico sobre os dramas da vida

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Alerta de gatilho: Às Vezes Quero Sumir não é nada aconselhado a quem esteja passando por qualquer transtorno emocional, de depressão, crises de ansiedade, ou que se sinta solitário de alguma forma, ou seja introspectivo, ou cuja pandemia tenha feito surgir esses e outros tantas mais doenças emocionais ou fobias sociais. Sem pedir licença ou nos preparar, o filme nos apresenta, Fran, juma jovem que trabalha em um escritório e mora sozinha em uma casa próxima ao emprego, e rapidamente estamos colados à sua realidade, que é muito mais deprimente do que “de casa para o trabalho, do trabalho para casa”.

A diretora Rachel Lambert está lançando o seu quarto filme, mas agora apenas o primeiro a ganhar distribuição brasileira. Não tendo assistido a nenhum dos três anteriores, algo me diz que essa aqui é sua seara habitual, algo pelo qual vem sendo “acusada”: a de produzir um “típico” filme independente estadunidense. Poucos espaços, poucos personagens, uma melancolia que não se esgota, a classe média/baixa retratada, a ausência de respostas onde muitas vezes nem identificamos as perguntas. A busca por uma valoração que seja digna (óbvio, mediante uma régua muito particular) pariu uma geração de cinéfilos cada vez mais insuportáveis, onde regras que eles mesmos inventam servem para validar ou não o gosto dos outros.

Se não, vejamos: Pequena Miss Sunshine. Segredos de um Escândalo. Preciosa. Minari. Moonlight. Manchester à Beira-Mar. First Cow. Os Rejeitados. O que esses filmes têm em comum, a não ser o fato de que foram produzidos com recursos limitados? Às Vezes Quero Sumir também não teve muitas provisões para contar, mas (e isso os une) uma grande história para ser contada, que muitas pessoas podem ver como banal. Na história da Fran em particular, é bom atentar para quem está do nosso lado, diretamente mesmo; muitos são os que sofrem das mesmas dores da protagonista. Tão árido é sua atmosfera quanto é fácil de empatizar com o que está acontecendo em cena, que é mesmo de resolução complexa. Como ajudar alguém que parece nos repelir, mesmo querendo tanto a nossa presença?

Esse é um dilema não apenas da vida real, mas principalmente do filme. Fran se vê às voltas com a chegada de Robert no escritório. Um cara comum, de aparência comum, como a dela… mas nela, alguma coisa bate diferente. A agonia para o espectador de Às Vezes Quero Sumir é que isso não transforma positivamente a protagonista, ou suas atitudes, ou suas reações; Fran não consegue ser diferente do que é. E ela simplesmente é assim, distanciada, quase etérea, cabisbaixa, com sonhos profundamente surreais. Entendo que o roteiro de Stefanie Abel Horowitz e de Katy-Wright Mead em cima de uma peça de Kevin Armento nem sempre é um passeio fácil, mas em minha subjetividade, consegui submergir naquele histórico silencioso e desconhecido, do qual as respostas não necessariamente virão, e da qual teremos de aprender a lidar. Porque as coisas são assim.

Dentro do que o filme propõe em seu trabalho de criação de um ambiente lúdico para os tempos mortos onde sua personagem se insere, existe um aproveitamento artístico por toda a direção de arte, fotografia e trilha sonora. É como se Às Vezes Quero Sumir, em determinados blocos, precisasse abdicar do naturalismo corrente para entrar em uma zona de abstração do que é real, e do que seria concreto. Isso permite que o filme mostre mais do que o usual trabalho contínuo de seguir aquele tipo que não consegue encontrar espaço para o próprio aconchego. Com uma interpretação compenetrada, Daisy Ridley (da nova trilogia Star Wars) se coloca em lugar de exigência sensorial, no qual responde com o máximo de sensibilidade.

Sua parceria com o comediante de stand-up Dave Merheje é o motor do filme, e o espectador segue tentando decifrar porque duas pessoas tão disparatadas não conseguem ficar separadas, e nem juntas. Lambert acaba nos levando a essa relação que não tem nada de idealizada, mas que é a porta de entrada para que estejamos conectados à Fran, sua protagonista, que irremediavelmente se encontra travada na existência. Acompanhar Às Vezes Quero Sumir, para muitos, será como uma espiada no próprio espelho, ao se reconhecer em meio a estagnação. Não é algo divertido nunca; é constrangedor em muitos momentos, é doloroso em outros tantos, mas nunca deixa de ter sua tristeza carregada do fascínio daqueles que se reconhecem e igualmente não encontram saída.

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