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Conduzindo Madeleine traz um olhar empático para a terceira idade

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O circuito nacional tem muita facilidade em deixar passar produções memoráveis que não fazemos ideia de como nunca chegaram até os cinemas, como Fé Corrompida, de Paul Schrader, ou All the Beauty and the Bloodshed, com a qual Laura Poitras venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza e foi indicada ao Oscar. Em contrapartida, não é difícil ver estrear títulos como Conduzindo Madeleine por aqui, onde os motivos da sua compra são desconhecidos, porém imaginados. Esse, certamente, foi o filme mais visto no último Festival Varilux e, com o conforto que ele transmite a quem o assiste, todas as questões acabam fazendo sentido ao final. A quem procura substância maior que a sensação de alívio ao se perceber acertar todos os passos de um roteiro, sua busca não terminou aqui.

Christian Carion tem 61 anos, e logo em seu segundo título, foi indicado ao Oscar de filme internacional, por Feliz Natal, produção de guerra bem pacífica. Talvez essa seja uma forma de traduzir seu cinema, que só criou alguma eletricidade em Meu Filho, de sete anos atrás, e a prova que ele encontrou para agradecer a esse ponto fora da curva, foi refilmar em inglês o próprio filme. Ou seja, o conforto que Carion filma é um retrato do que ele é como cineasta, um daqueles cujo resultado é não incomodar, e deixar a narrativa falar sozinha. Conduzindo Madeleine não tenta ser nada do que imagina, e se contenta em seguir à risca as nossas expectativas.

Mas existe uma curiosidade que une Conduzindo Madeleine a outras duas estreias de cinema, Plano 75 e Verissimo, que é um olhar empático para a terceira idade e para seus personagens. Ainda que isso seja frontal nos outros títulos e aqui está em bem menor espaço, Carion (que também é roteirista) quer se posicionar ao lado dessas questões. Sua protagonista tem 92 anos de idade e está de mudança para uma casa de repouso após cair em casa, o que torna sua solitude inviável. A partir dessa apresentação típica, onde uma afável personagem encontra um taxista repleto de problemas à beira de explodir, o filme propõe uma viagem às memórias da juventude da protagonista.

O filme que poderia ser leve, salpicado de alguma melancolia, abre mão de contar com a presença de Dany Boon como co-protagonista, para adentrar um passado que é uma via crucis sem escalas. A cada nova cena, algo pior surgiu no caminho de Madeleine, e o espectador acaba por mergulhar em uma espiral de sofrimento ininterrupto. Para piorar, nenhum desses momentos é sequer original, desde o momento onde a protagonista se apaixona por um soldado americano até ela se enxergar sozinha no mundo. É uma proposição que tira de Conduzindo Madeleine seu teor inicial leve e encaminha a narrativa para situações cada vez mais melodramáticas, quase se transformando em uma novela de rádio onde cada sequência parece torturar mais e mais a personagem-título.

Toda vez que o filme intercala o presente com o passado, o alívio de voltar a conviver com a bela atriz que é Line Renaud, e sua interação delicada com um ator espalhafatoso como Boon, que fornece estabilidade ao seu histrionismo, é uma preparação para a volta da mão pesada. Carion tinha uma história delicada de amizade e compreensão nos dias de hoje para ser contada, com dois atores em plena forma apresentando materiais humanos de primeira, cuja química foi criada no grande sucesso da carreira de Boon, A Riviera Não é Aqui. Ao trocar essa dupla pela necessidade de mais drama, onde precisamos ainda acompanhar a péssima interpretação de Jérémie Lahuerte no passado, o filme não faz uma boa escolha.

O certo seria dizer que Conduzindo Madeleine vale pelo festival de carisma que Renaud e Boon desfilam, ela com elegância e um porte dignos de uma rainha, e ele, como um Edmilson Filho em Férias Trocadas, provando sua versatilidade e uma sensibilidade inegável. Esse é o lado que merece ser destacado e colocado em voga de um filme pequenino, que terá uma procura entre os espectadores que curtem histórias ligeiras, mas que precisam também conviver com o excessivo passado dramático de nossa protagonista. Fiquemos, então, com o presente.

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