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Férias Trocadas comprova talento de Edmilson Filho

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Começa a surgir, gradativamente, dentro da neochanchada (que foi o nome sob o qual as comédias populares surgidas nos últimos 20 anos foram cunhadas), um subgênero que parece começar a ganhar força, levando em consideração também o que aconteceu de março pra cá: os filmes de férias aquáticas. Filmes solares, com um apreço pelas areias escaldantes de algum cenário específico, ou simplesmente o dourado do céu e os biquínis e sungas a estampar as cenas. O sucesso de Os Farofeiros trouxe uma continuação de igual sucesso há dois meses, e se seguiram a ele Dois é Demais em Orlando, Licença para Enlouquecer e o que mais aparenta ter potencial para alcançar o título dirigido por Roberto Santucci, Férias Trocadas dirigido pelo indicado ao Oscar, Bruno Barreto.

Barreto, que tem alguns clássicos no currículo como Dona Flor e seus Dois Maridos, O Beijo no Asfalto e Tati, A Garota, não começou a fazer comédias populares outro dia, e ainda assim existe um universo inteiro que separa O Casamento de Romeu e Julieta de Crô: O Filme. Sendo assim, não podemos dizer que essa sua nova incursão seja exatamente uma novidade, embora seus próximos títulos sejam todos comédias ultra populares. Estamos diante de um novo momento do cinema nacional, que vive cada vez mais de momentos e depende deles, principalmente dentro do cenário de grandes massas. Barreto, então, prestes a completar 70 anos e já tendo contribuído tanto para o nosso cinema, vive um período mais leve.

Sua união com Edmilson Filho era um daqueles casos inesperados, que quando a ideia aparece, não tem outro pensamento a correr que não um “nossa, eu preciso ver o resultado disso”. Filho é um ator de recursos, que já mostrou o quanto é capaz em títulos como Cine Holliúdy e O Shaolin do Sertão, que vem de uma história incrível junto a Halder Gomes em filmes alternativos no Ceará – alguns muito bons. Em Férias Trocadas ele agarra para si a oportunidade de fazer sósias (com uma saída muito boa de roteiro em nunca verbalizar isso) de personalidades opostas. Um deles tem a energia que o ator empresta aos personagens, o outro é a cara da contenção. É nesse momento que Edmilson Filho mais uma vez apresenta um novo dado sobre seu talento, não por encarnar um homem sisudo, mas pelo tanto que ele doa ao material, criando tiques – ao lado de Matheus Costa – revelando seu trabalho corporal… enfim, um ator que só se empenha em revelar seus recursos.

Infelizmente, o roteiro não está à altura da história de Barreto ou da capacidade de Edmilson Filho. Uma coisa mínima, por exemplo: não seria mais interessante ver Aline Campos no personagem de Carol Castro e vice-versa? A escalação ali é a esperada e contribui para que o roteiro mostre estereótipos vazios a respeito de afortunados e assalariados, digamos assim. Talvez seja essa diluição de discurso o que se espera do espectador, ao não colocá-lo diante de um quebra-cabeça mais difícil de montar? O que vemos em Férias Trocadas é o filme que já poderíamos ter acesso com Os Trapalhões nos anos 80, com chavões antigos e confortáveis, que exibem as mesmas frases feitas acerca dos grupos apresentados – o rico tem bom gosto e educação, o pobre não.

Todos os elementos apresentados corroboram essa visão, como a paleta de cores que traduzem os dois grupos. Zé e sua família são extravagantes, exibem cores em tons de neon em uma concepção fácil; o mesmo acontece com Edu e os seus, que exibem tons pastéis em texturas neutras, mostrando sua serenidade. A contradição não seria mais apropriada, ou colocar suas atrizes em lugares menos óbvios de escalação? A ótima opção de mostrar Filho como personagens distintos e o sabor que isso causa à narrativa entra em uma balança onde do outro lado as escolhas foram as mesmas de sempre, acreditando que o espectador não pode ser desafiado.

O resultado pode alcançar enorme sucesso de público (e assim verdadeiramente espero que aconteça, porque a indústria necessita de identificação do espectador com o nosso cinema), mas será um espaço que já vimos sendo reconquistado mais uma vez. Existe o excelente elenco de coadjuvantes de Férias Trocadas que o aproveitam como ninguém (principalmente Flávia Garrafa e o impagável Gustavo Mendes), existem as duas ótimas atrizes que precisam ter seu talento diversificado e existe o maior beneficiário de todos, Edmilson Filho, que sai do filme com mais uma carta na manga. Ator de composição que estica suas pernas até onde não dão espaço para ele tradicionalmente, seu protagonismo rejuvenescido faz frente ao filme antiquado que assistimos.

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