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Os Estranhos – Capítulo 1: Renny Harlin fracassa em refazer obra de Bryan Bertino

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Renny Harlin tem mais de 40 anos de carreira formada por raros altos e uma enormidade de baixos. Entretanto, mesmo quando seus resultados não eram os esperados, seu trabalho como condutor de ação, no artesanato da mise-en-scene, era admirável seu domínio, que fez com que seu nome fosse muito popular nos anos 90 quando se falava em pedigree em filmes de ação. Seus sucessos em Duro de Matar 2 e Risco Total mostraram um cineasta que poderia estar a serviço dos grandes estúdios sem deixar de lado o traço autoral. Depois de uma série de fracassos em sequência (alguns bem injustos, como Despertar de um Pesadelo, outros inevitáveis, como Alta Velocidade), ele se viu em um limbo de onde é retirado agora, na estreia de Os Estranhos – Capítulo 1.

Para quem não lembra, Os Estranhos é um duo de filmes dirigidos e concebidos por Bryan Bertino, cineasta de gênero que tem uma grande preocupação em um cômputo geral pelo que vemos em cena. Não apenas o horror é privilegiado, mas ele é mais uniformemente empregado justamente porque conseguimos conexão com seus personagens, com sua atmosfera, com a diagramação da ação. Tudo o que fora tão bem desenvolvido por Bertino nos títulos anteriores, aqui perde toda sua função. Um sentido de urgência, uma sensação de perda e das consequências que a violência emprega no geral, eram molas propulsoras da relação de quem os assistiu com a obra. Aqui, essas características se esvaíram.

Assim como nos anteriores, trata-se de um ponto de partida simples: um casal em uma cabana à beira da floresta, na iminência do ataque de um trio de mascarados, que primeiro os observa incansavelmente, para posteriormente orquestrar esses ímpetos. A diferença é absoluta dos originais para Os Estranhos – Capítulo 1, que ainda não entendemos se trata de um universo compartilhado, história de origem ou apenas uma nova tentativa de ganhar dinheiro. Independente do que for, muito do charme original estava em campos perdidos aqui, como a profundidade com que a narrativa tratava seus protagonistas, dando a eles dimensões múltiplas e um propósito.

Mais estranhos que as figuras do título, só mesmo Bertino ter contribuído para a confecção do roteiro, que não poderia ser mais genérico. Na verdade, pior do que a concepção visual de Os Estranhos – Capítulo 1 é a falta de apuro dramático para envelopar todos os parcos elementos que o filme coloca à disposição. Não há uma grande história sendo contada, mas apenas um casal que está fazendo aniversário de namoro, muito jovem, que precisa parar em uma cidade de menos de 500 habitantes para pernoitar. A cidade é aquela típica, onde as pessoas são bizarras ou parece que vão te matar a qualquer momento – ou as duas coisas. Se já funcionou antes em outros produtos, aqui só reforça um esquematismo do todo.

Com umas cartelas desnecessárias na abertura, o que deveria ser gratuito e inesperado em Os Estranhos – Capítulo 1, soa como uma propaganda de noticiário a respeito da violência inexplicável dos dias de hoje. Mas acaba que o filme não funciona como diversão, nem como alerta social. Como o casal principal além de não ter uma história que nos envolva em seus percalços futuros, ainda não tem o talento maior do mundo, as incongruências das situações acabam sempre a nos fazer questionar não o empenho narrativo (que rapidamente, percebemos inexistir) mas a falta de impacto que certas decisões permitem, como o aparecimento mágico de dois carros no desenrolar dos eventos.

Creio que mesmo os espectadores que não tenham tido acesso aos anteriores terão problemas com essa nova versão. Não existe uma conexão com o que veio antes ao menos nessa primeira parte, mas as situações tão corriqueiras e cheias de lugares comuns não melhoram a sessão. Talvez com a estreia do segundo capítulo o projeto pareça fazer mais sentido, porém por enquanto Os Estranhos – Capítulo 1 soa como um produto a mais no circuito. Se não irrita ou incomoda, tampouco faz qualquer diferença na vida do cinéfilo.

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