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13 Sentimentos: Daniel Ribeiro escolhe ser leve, cor de rosa e despretensioso em novo longa

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Foram dez anos de espera entre o último filme de Daniel Ribeiro e agora, e não estamos falando de qualquer filme anterior, mas de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, um dos filmes brasileiros mais emblemáticos da década passada. Citado e debatido mais que suficientemente desde sua estreia, achávamos que o filme não tinha envelhecido um só dia. E a questão principal nos perseguia, que era a respeito do porquê alguém sobre o qual nos debruçamos tanto e com tanta promessa para ser cumprida teria desaparecido. A estreia de 13 Sentimentos aplaca muitas coisas, inclusive resgata o olhar de Ribeiro para o universo LGTQIAPN+, lugar de onde ele pareceu ser o porta-voz durante algum tempo, para questionar: precisamos de um único exemplo ‘queer’ na arte?

13 Sentimentos

E com essa questão, e unindo às que se apresentam agora com seu novo filme sendo lançado, Ribeiro se mostra como o representante de um aspecto muito específico da vida gay masculina, hoje adulta. De qualquer forma, não faz bem a ninguém, muito menos ao movimento, ter apenas uma versão de toda uma comunidade, quando podemos ir de Gustavo Vinagre a Carolina Markowicz, passando por Karim Aïnouz, Matheus Marchetti, Julia Katharine e Marcelo Caetano, incluindo um número infinito de profissionais. Digo isso porque nenhum deles pode ser chamado de representante único de qualquer que seja a voz, e nessa estreia para o Dia dos Namorados, 13 Sentimentos, um único homem gay é retratado.

Ao contrário de muitos colegas, eu olho para o filme e vejo uma fatia sendo bem representada por Ribeiro, embora eu mesmo não faça parte dela. 13 Sentimentos é um filme sobre ‘o gay jovem paulistano bem nascido e cujos problemas podem se dar ao luxo de se focar em uma desilusão coletiva a respeito dos laços de afeto’ – ou simplesmente, da dificuldade de esquecer o ex de 10 anos e conseguir transar de novo. Eu tenho alguns pontos em comum com João, creio que qualquer tipo gay pode se ver em alguma das angústias dele, mas no geral, essa é a visão de uma bicha (e eu posso falar assim, por ser uma) bem específica, e que apesar de existir e estar visível não apenas no centro de São Paulo, não consegue agregar outra visão ao painel para se mostrar verdadeiramente inclusivo.

Porque ser ‘queer’, de alguma maneira, e colocar para jogo sua diversidade de debate e de visão sobre o mundo, acima de tudo precisamos nos permitir olhar também para lugares que não habitamos. Ribeiro não se preocupou com o que construiu no lançamento do seu filme anterior, e aí é que entra a minha primeira questão do texto: talvez precisemos reorganizar o espaço que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho tem em nossa admiração cinéfila ‘do babado’. Porque, o que guardo na lembrança em relação a esse filme, me parece encaixar à perfeição com o que vejo em 13 Sentimentos: um campo de privilégios sendo administrado por outras questões mais prementes no contexto de seus protagonistas.

Para mim, não se resume a corpos não-hegemônicos zero representados (e sim, a conta é zero!) ou espaço coadjuvante dado ao corpo negro – até porque, tudo o que é crucial na vida de João, passa pela pretitude, estando ali para exploração ou não. O que me incomoda são outros tipos de privilégios, aquele que aos 30 e poucos anos você pode se dar ao luxo de, em tempos de vida tão apertada para chegar ao fim do mês, todos os personagens de 13 Sentimentos são figuras cujo maior problema seja o de… o de… , pois é, os personagens do filme não tem qualquer problema. Isso significa ausência de conflito com o qual a população ‘queer’ se identifica cotidianamente, que não está representada também aqui.

No fim das contas, eu posso aceitar que João tenha pouco contato com corpos fora dos padrões, mas eu não consigo compreender suas decisões e sua falta de alcance empático – e se João é o alterego de Ribeiro, então é a ele que a flecha merece ser atirada. Pode parecer contraditório, mas ainda assim é impossível ficar sem simpatizar com 13 Sentimentos, um filme que escolhe ser leve, cor de rosa e despretensioso. Tá tudo bem. Mesmo. Mas se eu posso olhar para aqueles tipos e ter vontade de colocá-los no colo em um momento, dar palmadas em outros, e ouvir todos os seus lamentos no minuto seguinte, porque eu sinto que eles não teriam nenhuma relação parecida ao olhar para mim?

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