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Bad Boys: Até o Fim estreia com expectativas altas e bem executada

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A hoje consolidada franquia Bad Boys, quem diria, começou despretensiosamente em 1995, ano da estreia do primeiro filme. Estrelado por Will Smith e Martin Lawrence, o filme foi um grande sucesso, o que obviamente gerou uma continuação, de igual êxito. Com a transformação de Smith em astro global, é provável que isso (ou o próprio esgotamento da ideia) tenha freado as intenções para mais. Ou talvez o necessário fossem apenas aqueles dois filmes. Vinte anos depois e, como já falei algumas vezes, com o advento cada vez maior da nostalgia no cinema, Bada Boys Para Sempre estreou, em janeiro de 2020, e quis o destino que ele fosse um dos últimos (junto a Sonic 2) gigantescos sucessos mundiais pré-pandemia. Por essas e outras, Bad Boys: Até o Fim chega aos cinemas, com expectativas altas e que parece que serão cumpridas.

Se depender das qualidades apresentadas pela própria produção, já podemos manter a tradição de sucesso dos filmes. Assim como nos anteriores, Bad Boys: Até o Fim não tem o gigantismo das sagas de blockbusters que conhecemos e que infestam os cinemas desde a estreia do primeiro, mas que se tornaram corriqueiras hoje. Quando você pensa até em algo de universo parecido com esse grupo de filmes, como Velozes e Furiosos, e percebe que mesmo nesse lugar houve um crescimento exponencial alarmante, bate uma felicidade de ver que ainda existe espaço para o filme de ação vertiginoso, em grande escala, mas que não tenta desafiar leis da gravidade.

Isso carrega para a produção uma característica humana muito profunda, que nos recorda de tempos onde franquia de ação era Máquina Mortífera, e não 675 filmes da Marvel e da DC lançados em 20 anos. Assim como na série estrelada por Mel Gibson e Danny Glover, Smith e Lawrence tem vidas próximas, suas famílias se frequentam, acompanhamos seus dramas, ou seja, existe uma real preocupação com aquelas pessoas, para além de suas correrias desenfreadas. Isso não apenas humaniza cada personagem, nos faz reféns daquelas vidas e situações, isso transforma Bad Boys: Até o Fim como um todo, e mantém o filme no mesmo trilho dos anteriores. A ação não é apenas um modo de agilizar o ritmo da produção, mas uma maneira real de manufaturar tensão àquele universo, de nos fazer cúmplices da angústia que cada um sente.

Isso faz com que o espectador tenha hoje um sentimento que não existe com o voo de nenhum Vingador, com a lágrima de ninguém da Liga da Justiça. Quando o filme invade um casamento de um protagonista e coloca seu melhor amigo para ter um ataque cardíaco, isso não afetará apenas o drama pelo qual ele passará. Isso terá consequências em tudo que ele fará, das suas tentativas de comer um biscoito até a forma como ele se movimenta durante a perseguição a alguém. É o que fica ao final de Bad Boys: Até o Fim, a sensação de que tudo está conectado, e que a ação é mais intensa porque ela representa perigo à personagens reais, e não a robôs inanimados.

Chegando à ação propriamente dita, existe apenas um aspecto do filme que incomoda – e não apenas a mim, porque a sala de cinema reagia de maneira desconfortável à essas inserções. A dupla de diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah insiste em tentar contribuir ainda mais a essa humanidade com um olhar em primeira pessoa para a ação. Isso se traduz em cenas onde a câmera é colocada no ponto de vista da arma (!!!), ou que a câmera gire em 360 graus em seu próprio eixo. Uma necessidade boba de ajustar a Bad Boys: Até o Fim a um público consumidor de videogame, mas com resultados que não soam naturais. Isso em um filme que explora a aproximação do público a um grupo de pessoas que não são heróis ou heroínas, torna essa tentativa ainda mais artificial na prática – ou seja, uma contradição ao que é a gênese da produção.

Esse é o problema aparente de um filme que continua tendo sua bandeira fincada nas toneladas de carisma que Smith e Lawrence empregam a ela há quatro décadas. Em uma relação bem parecida a que Gibson e Glover tinham na franquia dos 80/90, Bad Boys: Até o Fim mais uma vez mostra que eles estão intactos em seu talento e na sua cumplicidade. Da cena da beirada do prédio, até a cena inicial do assalto, tudo passa por esse misto de amizade, carinho e real comunhão entre eles e quem os cerca. Se parece para o leitor que isso diminuiria o teor utilizado de adrenalina em cena, saiba que a potencialização ocorre justamente por isso. É por conta desse afeto explícito entre os personagens, que tudo é mais perigoso e arriscado, porque não estamos prontos para qualquer fatalidade em cena, e cada uma delas nos afeta tanto, na nossa porção emocional e também no nosso lado aventureiro.

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