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“Eu Sou Um Hamlet” denuncia as múltiplas exclusões do Brasil

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A chave para o entendimento de “Eu Sou Um Hamlet” está no artigo indefinido em seu título. O termo “um” evidencia que se trata de um diálogo com um dos textos mais famosos de William Shakespeare – e de toda a dramaturgia universal – e não de mais uma montagem das angústias existenciais do Príncipe da Dinamarca. Delas, Rodrigo França, com seu trabalho vocal singularíssimo (e precioso), sublinha um aspecto: o valor que é dado ao próprio teatro como um espaço de reflexo da realidade.

Eu Sou Um Hamlet

No texto do bardo inglês – utilizado na montagem com França a partir de uma tradução do fim da década de 2000 feita por Aderbal Freire-Filho, Wagner Moura e Barbara Harrington -, uma peça teatral é usada para expor os crimes do assassino do pai de Hamlet, num jogo shakespeariano de metalinguagem. Já na adaptação, escrita por Jonathan Raymundo, as artes cênicas entram como um espelho das vicissitudes (e crimes) do mundo.

Antes de o ator entrar em cena, sob a direção de Philbert, ouvimos um “coro” feito de vozes de noticiários de telejornais falando de racismo, do aborto, de estupro, de morte nas ruas do país, de homofobia, da guerra na Faixa de Gaza. As vozes se estruturam como ladainha, expondo as bestialidades que assombram nosso mundo na realidade, expondo “algo de podre” ao nosso redor, para usar uma expressão do próprio Shakespeare. Debaixo desse vozerio, Hamlet entra em cena, num vistoso figurino branco de Rodrigo Barros, qual uma túnica cerzida a ancestralidades.

Mesclando falas de “Hamlet” e uma série de inquietações contemporâneas sobre a intolerância, a montagem une passado e presente, distopia e ordem, apoiada numa suntuosa cenografia de Natália Lana. Além disso, cria uma relação especular que reflete segregações diversas. Mais do que o clássico “Ser ou não ser?”, a peça levanta a discussão sobre “Estar consciente ou não?”, a partir do mito da democracia racial no Brasil. O Hamlet preto está diante no dilema de encontrar um discurso capaz de fazer repensar o hoje, tomando consciência de sua condição num país racista.

O resultado é um exercício catártico universalíssimo, cheio de brasilidade, vitaminado por uma atuação segura, contagiante, de França. Aliás, a iluminação de Pedro Carneiro amplia a dimensão trágica do personagem, num engenho narrativo que a encenação de Philbert catalisa numa perspectiva investigativa.

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