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Nosso Verão Daria um Filme traz leveza e carisma, com temática LGBT

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Quanto filmes gregos entram em cartaz anualmente no nosso circuito? E quantos filmes gregos gays entram em cartaz por aqui? E quantos filmes gays, gregos, com pauta cômica e uma veia muito popular, serão vistos por nós? Na vida? Sei lá, eu acho que Nosso Verão Daria um Filme é uma daquelas oportunidades mais que raras de conferir uma fatia de filmografia que é tão terceirizada, que só pode ser altamente recomendável. E desse “exotismo” entre tantas pautas é que se faz exclusivamente a qualidade intrínseca dessa produção? Lógico que não, e também por isso o programa em torno dessa estreia deveria ter muito mais destaque do que terá, no fim do dia.

Escrito e dirigido por Zacharias Mavroeidis, Nosso Verão Daria um Filme é uma brincadeira bem sucedida que tem comunicação com o nosso 13 Sentimentos que estreou semana passada. Ambos são comédias Pop que podem ser acessadas por qualquer um (que não seja homofobico, claro), que lidam de forma leve com problemas típicos e geracionais a respeito de relacionamentos, além de terem grande teor metalinguístico para transformar em narrativa. Além disso, em Nosso Verão Daria um Filme existe inclusive uma insistência maior em tornar-se reflexo não apenas do que está sendo contado, mas também de seu veículo principal, e de como a arte cinematográfica conversa com outras mais diretamente.

Em linhas gerais, também o filme está agregado em uma seara dos ‘buddy movies’, que apesar do nome, não passam de filmes desenvolvidos em torno de grandes amizades, e da cumplicidade que nasce dessa relação. Como poderíamos imaginar (até com alguma estereotipação), um filme grego passado literalmente à beira-mar era algo esperado. Mas o filme também utiliza desse chavão da maneira mais apropriada possível, indo até seus personagens e encontrando conflito exatamente por esse cenário. Ao se prender nesse espaço – que não é fechado, olha o senso de criatividade aí – e também deslocar para as recordações de verões passados, o roteiro começa a aprofundar sua estrutura, sem simplificar a história que se vê.

Porque todos estão mergulhando ou tomando sol nas pedras que circundam o mar extasiante da Grécia, não significa que tais personagens não sejam colocados “à deriva” de seus sentimentos – entre um e outro, entre o presente e o passado, e entre os reflexos de suas artes. Nosso Verão Daria um Filme, com toda a ebulição que nasce do seu colorido, não está preso aos clichês que poderíamos esperar de todos os quadros que ele almeja alcançar. Não há uma forma única para ler o filme, e essa chave de ampla comunicação o faz ainda mais acessível, prestando sua ideia a mais de um cenário. Estamos diante de uma comédia romântica divertida, mas também de uma produção ambiciosa que tenta intercalar cinema, teatro e literatura para compor um painel que não restrinja seu público.

Além disso, seus dois protagonistas são atores complementares em escola de interpretação e biótipos, que não poderiam ser mais diferentes entre si, mas que se fundem em conceitos. Andreas Labropoulos é o tipo mais expositivo e solar, do qual as piadas mais diretas surgirão e que pode parecer mais estereotipado, ao passo que Yorgos Tsiantoulas é (a priori) mais introspectivo, o que não impede de vermos essas personalidades trocadas de tempos em tempos. Além disso, é praticamente impossível sair de Nosso Verão Daria um Filme sem ficar chapado pela beleza literalmente grega de Tsiantoulas, seja você homem ou mulher, hetero, gay, bi ou o que for. Acreditem, isso também é uma chave de leitura do filme, já que isso é também um dado de leitura da narrativa.

Tendo passado pelo festival de Veneza do ano passado, estamos diante de um dos longas mais leves a chegar ao circuito de cinema alternativo nessa temporada. Sua leveza e carisma, no entanto, não escondem suas pretensões e seu lugar de desconstrução narrativa, mais bem sucedido que o filme de Daniel Ribeiro, por exemplo. Aqui temos um painel de relacionamentos ‘queer’ que tensiona também uma busca por reavaliar a tradição da cultura grega, enquanto revalida seus lemas de dramaturgia. Não é algo vazio de ser visto, ou restrito a um público seleto; abrange a todos que procuram novidade narrativa e frescor de propósitos.

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