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O Cara da Piscina: Chris Pine estreia na direção em projeto ousado

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Quando alguém cita a expressão ‘comédia maluca’, a associação direta é feita com a tradição das ‘screwball comedies’, gênero que explodiu com o lançamento do vencedor do Oscar, Aconteceu Naquela Noite, de 1934, mas que pode ser encontrado até em algumas peças de William Shakespeare. O subgênero consiste em narrativas com trocas de identidades, personagens disfarçados ou travestidos, e caças a tesouros, entre outros elementos. Na acepção literal da expressão – um filme cômico que é desprovido de sanidade – a estreia de O Cara da Piscina vem a bem a calhar nessa situação. Porque literalmente estamos diante de uma comédia onde tudo de mais esquisito (e devidamente) insano pode acontecer, e em grande parte das cenas, acontece.

O Cara da Piscina

O filme é estreia na direção do astro Chris Pine, que também protagoniza o filme. Muito criticado desde que foi exibido no Festival de Toronto do ano passado, é fácil de entender os motivos pelo qual as pessoas não entram no espírito da coisa. O Cara da Piscina é uma mistura de ‘film noir’ cômico com uma leitura de personagem das mais absurdas, cujo protagonista é, na falta de uma expressão melhor, um completo tapado. Autointitulado como uma espécie de protetor de Los Angeles, Darren é apenas um homem que cuida da piscina de um hotel de beira de estrada na cidade. Bem intencionado, é um figura com distúrbios psicológicos claros tratado pelo filme como um ‘maluco beleza’, mas que por conta disso, se mete em confusões diárias com as autoridades locais.

Verdadeiramente é necessário uma dose extra de, digamos, liberdade poética para permitir envolvimento com O Cara da Piscina. Poucas são as coisas que fazem sentido ou se concatenam de maneira coerente, mas a verdade é que nada disso é feito de maneira leviana. Também escrito pelo ator, estamos diante de um roteiro que parece uma montanha russa de situações inacreditáveis, daquelas onde em uma segunda assistida provavelmente continuaremos a nos surpreender com o tanto de excessos empregados. Quando o espectador começa a se situar no que está acompanhando, o filme tem novas saídas absurdas, muitas delas até cretinas, e o mais espantoso é que eles – filme e personagem – seguem em frente para mais uma overdose de sandices.

Como uma estreia de realizador, O Cara da Piscina mostra que Pine não teve medo dos riscos de contar uma história tão sem pé nem cabeça. Entendam, não se trata de uma narrativa enigmática e hermética de forma alguma; a confusão se dá por conta do acúmulo de situações extremas no absurdo. Mas para não perder a mão por completo, Pine resolve filmar tudo da maneira mais tradicional e sem riscos possível. Na verdade essa é a melhor escolha feita, levando em consideração que tudo que é visto poderia desandar ainda mais se a postura estética fosse algo radical. Nesse sentido, alguma segurança era de fato necessária para que a tal montanha russa não provocasse verdadeiros enjoos em quem embarca nela.

O riso buscado pela produção virá (ou não) de acordo com a forma como o espectador vai lidar com o que está sendo visto. Achei fácil encontrar uma brecha para mergulhar junto com o elenco nesse mar de referências esdrúxulas, que não julga seu protagonista mesmo que ele praticamente esteja errado o tempo todo. Não é a mais fácil das empreitadas, mas confesso que fui vencido pelo inusitado das situações, porque o elenco acredita tanto no que está sendo contado, e pela vontade genuína de produzir coisas nonsense. Um exemplo é a cena onde Danny DeVito bate chocolate gelado no liquidificador e serve no meio de uma consulta terapêutica. Parece não fazer sentido? Acredite, não faz mesmo.

Além de DeVito, Annette Bening, Jennifer Jason Leigh e especialmente John Ortiz se esbaldam em cena, porque entendem que nada ali pedia uma leitura naturalista. No entanto, não são atuações agudas que vemos, e sim um grupo de atores que está se divertindo ao encontrar oportunidades de brincar a valer. Talvez a grande cena de O Cara da Piscina, no entanto, seja uma homenagem ao seriado oitentista “As Super Gatas”, onde Pine contracena com um irreconhecível Stephen Tobolowsky em um diálogo bem grande, que consegue ser completamente insano e bastante emocional. Que tudo se encerre da forma como se dá, quase sem alteração de suas ideias do início até ali, é também uma maneira de mostrar que aquilo tudo ali não tinha um propósito definido, o que é mais uma prova de sua coragem.

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