Edu Falaschi reafirma a relevância do metal nacional em show no Circo Voador

Edu Falaschi subiu ao palco do Circo Voador na noite de ontem (domingo, 21) para cumprir a data adiada por conta da ameaça de tempestade no Rio de Janeiro em março. O próprio vocalista, em certo momento da apresentação, comentou que o público carioca saiu ganhando, já que a atual turnê traz um repertório que revisita o álbum “Rebirth World Tour: Live in São Paulo”, de 2002 – o que veríamos naquela data seria a tour de “Eldorado”. Trata-se do registro ao vivo da turnê do disco homônimo que marcou a entrada de Falaschi no posto de vocalista da banda, substituindo (com muita desconfiança inicial por parte dos fãs) André Matos.

Lançado em 2001, “Rebirth” é um álbum conceitual em que o Angra pôs para fora de forma mais abrasiva a verve progressiva de seu power metal brasileira. A reformulação da banda nesse trabalho contou também a estreia de Felipe Andreoli no baixo e Aquiles Priester na bateria. Para muitos, essa formação, que se completa com os remanescentes da fase clássica Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, é a melhor que a banda já teve. E grande parte do público que encheu o Circo de fato compartilha dessa opinião, dado o número de camisetas com a capa do disco estampada e a devoção com que cantavam cada uma das músicas.

A turnê de Edu Falaschi aportou na lona da Lapa com o formato de mini festival que vem sendo apresentado (dando aquela compensada na falta de eventos de metal por aqui), trazendo o Noturnall, e, como convidada especial, a banda Storia abrindo os trabalhos. O dono da festa iniciou o show com o clássico do Angra “Nova Era”, uma das principais faixas de “Rebirth”, cantada por praticamente todos os presentes, seguida de “Acid Rain” e “Angels Cry”, a faixa-título do álbum de 1993, com André Matos nos vocais, responsável pela popularização definitiva do grupo.

O repertório segue o mesmo da referida apresentação de 22 anos atrás, trazendo o álbum “Rebirth” como base, juntamente com faixas de álbuns da fase anterior como “Metal Icarus”, do disco “Fireworks” (1998), “Make Believe”, do “Holy Land” (1996) e “Time”, faixa do “Reaching Horizons”. E, claro, a trinca matadora que encerra o álbum foi reproduzida no palco, com “Nothing to Say”, o clássico maior do Angra, “Carry On”, e o cover de “The Number of the Beast” do Iron Maiden.

Falaschi ainda voltou para um bis, incluindo duas faixas de sua carreira solo: “Sacrifice” e “Land Ahoy”. Para regozijo dos fãs do anime Cavaleiros do Zodíaco, o vocalista executou o tema de abertura “Pegasus Fantasy”, gravada por ele no início dos anos 2000 para a versão dublada em português, exibida na TV brasileira na época. Sua parceria com o Calcinha Preta também foi lembrada, em tom respeitoso, mas sem perder a piada, no caso a versão “sofrência” de “Bleeding Heart”, que se converteu em “Agora Estou Sofrendo”. E, claro, houve uma palinha sob muitos pedidos no meio do show. No último bis o álbum sucessor de “Rebirth”, “Temple of Shadows”, de 2004, foi lembrado com “Spread Your Fire”.

Por mais que Edu Falaschi empreenda na consolidação de uma carreira solo relevante, ele tem plena consciência de que não pode abandonar seus anos de Angra, ainda que possua um séquito fiel que acompanha seus trabalhos lançados após a saída, em 2012. Seus (competentes) músicos reproduzem cada faixa com bastante fidelidade. Hoje com 52 anos, o vocalista parece ter um pouco de limitação para alcançar os agudos exigidos pelas músicas da fase André Matos, como “Carry On”, mas se sai bem nas que gravou originalmente. 

O show em que revive o álbum ao vivo da banda da qual foi frontman não só é uma afirmação da relevância do Angra, mas também um lembrete de que o metal brasileiro mantém seu poder de fogo e ainda renova seu público (era possível notar uma considerável presença de jovens). Enquanto o setor de produção de shows continua desdenhando do gênero, o Circo Voador segue como um refúgio garantido.