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O Exorcismo é um imenso acidente de trem desgovernado 

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Antes de mais nada, um esclarecimento importante: 9 entre 10 pessoas estão a se questionar se O Exorcismo, que estreia essa semana nos cinemas, é continuação de O Exorcista do Papa; não, não é. Apenas trata-se de Russell Crowe aceitando estar em filmes de temática – ou apenas de título – muito parecidos um com o outro em pouquíssimo tempo de diferença. Tirando a temática e o protagonista, os filmes não guardam qualquer semelhança, e para quem não gostou do filme do ano passado… bem, digo para vocês que aquele lá era bom. Crowe está no seu terceiro filme de 2024 (já vimos Zona de Risco A Teia) e esse não será o último (vem aí Kraven), e eu acho difícil que o próximo consiga o título de pior dos quatro que esse tomou para si.

Os anteriores, filmes igualmente indignos de um dos maiores astros de Hollywood de vinte anos atrás, não eram necessariamente ruins, e sim filmes bastante abaixo da média, mas que partiam de ideias interessantes que iam se desfazendo quando a estrutura se revelava. Em ambos, Crowe ainda conseguia demonstrar seu talento intocável a qualquer adversidade. Em O Exorcismo, ainda que seu empenho esteja em cena, mesmo ele acaba afetado pelo todo. E, verdade seja dita, dos três títulos apresentados nessa temporada, é justamente esse o que tinha a premissa mais promissora, mas isso não impede o avanço de outro tipo de horror: aquele que, na dúvida de como encerrar ou montar um filme, resolve apenas estragar tudo o que foi visto até então. 

Joshua John Miller é um ator e roteirista que volta à direção vinte cinco anos depois de seu único outro projeto, e talvez seja melhor ele voltar à inatividade. As histórias sobre possíveis refilmagens, testes negativos e confusões nos bastidores da produção não justificam o que vemos. O que fazer então com um filme que não há como ser salvo? Talvez uma ideia seria transformar tudo em paródia, mudar o tom para algo jocoso, mas não cabe a crítica desejar transformar uma obra em um resultado hipotético, e sim analisar o que está em cena. E o que está aqui é pecaminoso, quando uma produção com um mínimo de interesse acaba se transformando em algo cada vez mais inassistível.

O ponto de partida é, com pouco disfarce, pensar no que teria acontecido nos bastidores de O Exorcista (o clássico, de William Friedkin) se caso suas lendas urbanas não fossem reais. Então no centro da narrativa temos um ator tentando domar os traumas familiares e seu posterior vício, em material cênico para viver um padre em uma produção de terror acidentada. Além disso, sua relação com sua filha é das piores possíveis, e ele também quer tentar dar a volta por cima nesse campo. O Exorcismo, como pode se ver, sugere uma ideia bacana para apresentar e isso progressivamente vai dos trilhos até se transformar em um imenso acidente de trem desgovernado. 

O excesso de temas é um problema, porque nada é tratado da maneira séria como o filme acredita estar fazendo. As soluções práticas para os eventos são sempre muito inverossímeis, e o filme perde a oportunidade de honrar a boa sequência de abertura com o não-aproveitamento de um cenário apresentado como tal, já que trata-se de uma produção sobre uma produção. No lugar, temos um grupo de atores que já tiveram algum espaço mostrando profundo incômodo de estar em cena (o caso de Adam Goldberg é latente), ou jovens profissionais muito fracos para o que foram designados. A menina Ry Simpkins é a exceção que confirma a regra, mas mesmo seu lugar é afetado pela falta de tato do filme no tratamento sem qualquer escrúpulo da relação entre duas meninas. 

Além de tudo, O Exorcismo comete um pecado crucial em qualquer filme. Alguns personagens zombam em cena de produções de terror intelectualizadas, que têm medo de se declarar como tal para serem aprovadas pela ‘inteligentsia’. Pois é exatamente esse o lugar onde o filme se mete com bastante cara de pau, um filme que parece ter vergonha de suas origens e fica tentando justificar o que filma de uma forma classuda, porque se entende melhor que os demais. É constrangedor observar tais elementos vindo à tona ao pensar no discurso que o filme banca, e se algo parecia promissor na primeira meia hora, é quando esse alarme toca em cena que percebemos que ninguém faz ideia do que está fazendo ali. 

Não estávamos preparados para o clímax do filme, que na verdade é o oposto do que o filme tenta fazer (de maneira vã) o tempo inteiro, que é tentar soar original. O Exorcismo não apenas termina como um filme qualquer, como também vai jogando por terra o que de qualidade foi construído no início, sem saber se quer ou não quebrar a quarta parede, o filme tem a pior ideia: fazer um pouco de cada, expondo suas características cinematográficas e também tentando realizar artifício competente. O resultado é sentirmos o mais profundo pesar, pelo projeto que é jogado fora a cada nova oportunidade; em uma palavra, lamentável.

 

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